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    China avisa montadoras brasileiras que retomará remessa de chips

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    As montadoras brasileiras começaram a ser avisadas por representantes do governo da China de que o gigante asiático retomará a remessa de chips necessários à produção de veículos no país, que enfrentava risco de desabastecimento.

    A informação foi confirmada à reportagem do Metrópoles pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, por meio de nota. A entidade vinha costurando com o governo brasileiro a negociação envolvendo os chips enviados pela China.

    “Na sexta-feira (7/11), as fabricantes de veículos começaram a ser avisadas pelos fornecedores de que a autorização para importação de chips está sendo retomada aos poucos. Com isso, o risco de paralisação em nossas fábricas diminuiu”, afirmou o presidente da Anfavea.

    Segundo Calvet, dois fatores contribuíram para essa mudança de cenário: “a liberação pela China da importação de chips por empresas que operam no Brasil e têm fábrica em solo chinês e a licença especial concedida pelos chineses às empresas brasileiras”.

    “A situação melhorou, mas é importante dizer que ainda não foi normalizada. Se não houver interrupção novamente nas importações, nossa indústria tende a não ser afetada”, alertou Calvet.

    A diminuição do risco de um “colapso” no setor automotivo brasileiro já havia sido informada no dia 1º de novembro pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), após uma reunião entre o embaixador da China no Brasil, Zhu Quingqiao, e o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB) – que também é o titular do MDIC.

    “Trata-se de uma excelente notícia. A cadeia automotiva emprega 1,3 milhão de pessoas e tem impacto direto em outros setores, como siderúrgico, químico, plástico e borracha”, afirmou Alckmin, na ocasião.

    “Ainda temos de ver como isso se dará na prática, mas hoje demos um passo importante para que a indústria automotiva brasileira continue crescendo e gerando empregos de qualidade”, completou o vice-presidente.

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    No fim de outubro, Alckmin se reuniu com representantes de entidades como a Anfavea, o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e a Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) para tratar do assunto.

    De acordo com o MDIC, na conversa com o embaixador da China, o vice-presidente da República pediu “prioridade no fornecimento dos chips às empresas brasileiras”.

    Entenda a “crise dos chips”

    Semicondutores são materiais com condutividade elétrica intermediária. Sua propriedade mais importante é a capacidade de mudar de isolante para condutor dependendo das condições, como temperatura, pressão ou radiação, o que os torna essenciais para a criação de chips e componentes eletrônicos. O material mais comum é o silício.

    No caso do Brasil, o efeito da escassez de semicondutores começou a ser sentido mais fortemente nas últimas semanas porque o país importa praticamente todos os chips que utiliza – e muitos deles vêm de fornecedores que compram da empresa chinesa Nexperia, agora controlada pelo governo holandês.

    Em resposta, o governo chinês suspendeu a exportação de semicondutores produzidos na fábrica localizada na China. No dia 30 de outubro, China e Estados Unidos anunciaram um acordo comercial que abre caminho para uma possível resolução do problema.

    A guerra global em torno dos semicondutores envolve uma verdadeira corrida por minerais críticos capitaneada por EUA, China, Japão e diversas nações da Europa. Quase toda a cadeia de fabricação demanda vários metais e minerais estratégicos.

    A produção desses minerais está concentrada em poucos países, entre os quais a China – que responde atualmente por cerca de 70% da mineração de terras raras, mais de 90% do refino e quase 100% da produção de ímãs permanentes.

    Anfavea alertou para “colapso”

    No fim de outubro, a Anfavea alertou sobre o risco de paralisação na produção de veículos no Brasil por causa da “escassez crítica de semicondutores”, que poderia afetar as operações de diversas fábricas do setor em todo o país. Em nota, a entidade comparou a situação da indústria automotiva, em relação à falta de chips, com o período enfrentado no auge da pandemia de Covid-19, em 2020 e 2021.

    “A nova crise dos chips se deve a disputas geopolíticas intensificadas neste mês, depois que o governo holandês assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores que atua naquele país, subsidiária de um grupo chinês”, disse a Anfavea, na época.

    “Em resposta, a China impôs restrições à exportação de componentes eletrônicos, o que já afeta a produção em algumas fábricas automotivas na Europa e arrisca parar montadoras no Brasil”, explicou a associação. Segundo a entidade, “um veículo moderno usa, em média, de mil a 3 mil chips” e “sem esses componentes, as fabricantes não conseguem manter a linha de produção em andamento”.