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    Choro e solidão: como foi a 1ª noite de Anderson Torres na Papudinha

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    A noite caiu pesada sobre Anderson Torres. Minutos depois de ser preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro da Justiça deixou de lado a postura rígida dos tempos de poder e desabou.

    Chorou ao chegar à “Papudinha”, o prédio militar da Polícia Militar que funciona como anexo do Complexo Penitenciário da Papuda, onde passará os próximos anos.

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    Torres, que comandou a segurança nacional e ocupou alguns dos cargos mais estratégicos do governo Bolsonaro, passou a madrugada sozinho, e silencioso, na sala onde cumprirá a pena de 24 anos de prisão pela participação na trama golpista que tentou impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

    A sala de Estado-Maior do 19º Batalhão da PMDF é espaçosa, tem banheiro privativo, ventilação constante, cama simples e televisão liberada.

    O espaço em que Torres está preso é o mesmo destinado a militares aguardando julgamento, policiais investigados e civis com prerrogativa especial, como ministros, advogados e autoridades que não podem dividir cela com presos comuns.

    À distância de poucos metros, ficam os prédios principais da Papuda, onde milhares de internos cumprem pena em regime fechado.

    Torres terá direito a visitas, médico, apoio espiritual e uma pista de caminhada exclusiva.

    Na noite de terça, Torres chegou ao batalhão cabisbaixo. Estava calado, abatido. Foi conduzido ao alojamento especial, passou pelo procedimento padrão, entregou os pertences e recebeu o kit básico de higiene.

    Logo em seguida perguntou pela família. Já na manhã desta quarta-feira (26/11), ele recebeu um simples café da manhã com pão e café.

    Do topo do poder à Papudinha

    A queda de Anderson Torres é abrupta. Dos oito réus cujas penas se tornaram definitivas no STF nesta semana, apenas ele foi enviado imediatamente para cumprir prisão na Papudinha.

    Torres foi o homem que, como ministro da Justiça, chefiou a estrutura nacional de segurança. Assumiu a Secretaria de Segurança do DF dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro e, segundo a PF, atuou em dois núcleos essenciais da tentativa de ruptura:

    • o núcleo de desinformação, que alimentou com material falso as campanhas contra as urnas eletrônicas;
    • o núcleo jurídico, responsável por rascunhar a arquitetura “legal” do golpe, incluindo a famosa minuta que previa decretar “Estado de Defesa” no Tribunal Superior Eleitoral.

    A PF afirma que Torres atuou nos bastidores desde 2019, participando de reuniões, lives e planejamentos que visavam criar um ambiente de descrença no sistema eleitoral.

    Ele aparece em encontros com ministros militares, em grupos de WhatsApp que discutiam estratégias de tensão institucional, e até mesmo no planejamento da manutenção dos acampamentos nos quartéis.