Uma manifestação de moradores dos Jardins, na zona oeste de São Paulo, contra a construção da Linha 20-Rosa do metrô despertou uma discussão nas redes sociais. O coletivo alega que a presença do transporte público na região, que vai ligar a capital ao ABC, pode trazer “preocupações ambientais e sociais”.
Com o título “Linha 20-Rosa: promessa de mobilidade ou armadilha urbana?”, a publicação do Coletivo Jardins diz que o projeto da futura linha de metrô “atravessa bairros consolidados e áreas sensíveis do ponto de vista ambiental, podendo intensificar verticalização, gentrificação e supressão de cobertura verde”.
Segundo o grupo, o projeto pode servir “à especulação imobiliária, em vez de garantir melhorias no transporte para quem mais precisa — a população trabalhadora”. O grupo defende que as obras de mobilidade “respeitem o planejamento participativo, o patrimônio e as áreas verdes”.
Pessoas reagiram nos comentários da publicação e criticaram os argumentos do grupo, dizendo que a real intenção dos moradores dos Jardins é afastar pessoas de outras regiões.
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“Reforço de segregação urbana mascarado de preocupação ambiental nesse post, em outro post mascarado de preocupação com bens culturais”, escreveu Fernando Moreno. “A vanguarda do atraso ataca novamente! Diz se preocupar com o meio ambiente, mas defende um zoneamento restritivo que empurra cada vez mais pessoas pras franjas da cidade”, disse Raphael Teixeira.
Outros comentários apontam preconceito com a população mais pobre. “Vocês querem que o pobre fique bem longe (a não ser, é claro, que ele esteja vindo trabalhar), pegue ônibus lotado e não incomode o estilo de vida segregacionista que vocês cultivam há décadas”, afirmou uma usuária identificada como Vitoria. “Traduzindo o Coletivo Jardins: não queremos esses pobres que andam de metrô no nosso bairro”, disse Lenes Moreira.
Em resposta às críticas, o coletivo afirmou que o traçado do projeto original previa que a linha passasse pela Avenida Faria Lima, “onde há mais demanda”. “Metrô dentro de bairros residenciais de baixa densidade atende ao interesse de quem? Porque o da população não é, com certeza”, disse o grupo em um comentário.
O que diz o Metrô
Em nota, o Metrô de São Paulo afirmou que nunca houve alteração no traçado da Linha 20-Rosa, cujo projeto básico está em elaboração desde o início deste ano.
“A definição foi feita de forma multicriterial no início do anteprojeto de engenharia, que fornece informações mais precisas para a definição do trajeto e localização das estações. Esses estudos, que foram apresentados em audiências públicas, indicaram um traçado que permitirá mais conexões com futuras linhas, como a 4-Amarela, na estação Fradique Coutinho, além da futura 22-Marrom na região da Teodoro Sampaio”, disse a empresa.
Tanto a estação Fradique Coutinho como a futura estação Teodoro Sampaio estão localizadas no bairro de Pinheiros. Até o momento, não há no projeto estações de embarque e desembarque de passageiros na região dos Jardins.
De acordo com o Metrô, o estudo apontou fatores que inviabilizam a construção de uma integração com a estação Faria Lima, da Linha 4-Amarela, como restrições geológicas, limitações de geometria do traçado e a intensa verticalização das quadras vizinhas.
“A implantação da Linha 20-Rosa está atualmente na fase de elaboração do Projeto Básico para a definição dos detalhes construtivos dos túneis, estações, pátios e outros ativos necessários para a operação e manutenção. Quando pronta, a linha vai ligar o ABC Paulista à Capital, beneficiando mais de 1,3 milhão de pessoas por dia”, completou a companhia.
O que diz o coletivo
Procurado pela reportagem, o Coletivo Jardins afirmou que a Linha 20-Rosa “não é prioridade para o transporte de massa” e que seu traçado e localização das estações “atende o interesse econômico, com objetivo de criar terrenos para o adensamento construtivo nas áreas de interesse do mercado imobiliário”.
O grupo afirma ter feito “análises técnicas” que demonstram que a suposta mudança do traçado da estação Faria Lima no Largo da Batata para a estação Fradique Coutinho, com uma saída para Avenida Rebouças com a Rua Sampaio Vidal, não possui amparo técnico na política de transporte para suprir a demanda de transporte da população.
O coletivo também aponta uma “inadmissível supressão arbórea” em áreas tombadas e reconhecidas como Área Verde Significativa, “especialmente com os respiradouros indevidamente previstos na Praça Gastão Vidigal e na Rua Salvador Mendonça”.
Perguntado sobre quais seriam as “preocupações sociais” ditas na publicação, o coletivo disse que “o transporte de alta capacidade para a população necessitada não é atendido, permanecendo o déficit de mobilidade prioritário e desrespeitando o interesse público”.
