O comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tenente-coronel Marcelo Corbage, afirmou em depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que os confrontos que deixaram 121 mortos durante a megaoperação realizada em 28 de outubro nos complexos do Alemão e da Penha foram resultado de uma emboscada armada pelo Comando Vermelho (CV).
Ele desmentiu que se tratava de uma estratégia planejada para “empurrar” os criminosos para a mata, como declarou publicamente o governador Cláudio Castro (PL).
Segundo Corbage, imagens aéreas analisadas pelo Bope mostram que grupos armados do CV se deslocaram deliberadamente para a área de mata conhecida como Vacaria, na Serra da Misericórdia, de forma organizada, com equipamentos de camuflagem e formação tática semelhante à de tropas militares.
“A intenção era preparar uma armadilha”, disse o oficial, destacando que os traficantes já haviam se instalado em estruturas fortificadas, verdadeiros bunkers, antes da chegada das equipes, o que contradiz a versão do governo de que o “Muro do Bope” havia sido montado previamente para conter a fuga dos criminosos.



Complexo do Alemão vira campo de guerra em megaoperação com 2.500 policiais
Imagem cedida ao Metrópoles
Familiares dos mortos da operação Contenção, a mais letal da história do Rio de Janeiro, chegam ao IML (zona portuária) para reconhecimento dos corpos
Aline Massuca/Metrópoles
Cerca de 2.500 agentes das policias civil e militar participaram da ação
GBERTO RAS/Agencia Enquadrar/Agencia O Globo
Coletiva com Governador do Rio, Claudio Castro, o Ministro de Segurança Ricardo Lewandowski sobre resultado da operação Contenção, que aconteceu ontem na Penha, Rio de Janeiro resultando em cerca de 130 mortes.
Aline Massuca/ Metrópoles
Durante operação Contenção da polícia contra o Comando Vermelho, detidos são conduzidos para a Cidade da Polícia Civil
Fernando Frazão/Agência Brasil
Durante operação Contenção da polícia contra o Comando Vermelho, inspetoras da Polícia Civil catalogam apreensão de drogas
Fernando Frazão/Agência Brasil
Resgate
O depoimento, enviado pelo MPRJ ao Supremo Tribunal Federal, mostra que a operação sofreu uma mudança brusca de rumo após policiais civis que atuavam na linha de frente serem surpreendidos e atingidos.
A partir dali, afirma Corbage, a ação “deixou de ser uma operação para cumprimento de mandados e se tornou uma operação de resgate”.
O comandante relatou que o grupo criminoso agiu de forma inédita, resistiu ao confronto, sustentou o fogo e não recuou, comportamento incomum nos confrontos anteriores com a polícia.
“Muro do Bope”
“A agressividade demonstrada fugiu a todos os padrões. Eles adotaram uma estratégia que nunca tínhamos visto”, afirmou.
A narrativa oficial, apresentada no dia da operação pelo governador e pelo comando da PM, sustentava que as forças de segurança haviam cercado a mata como parte do chamado “Muro do Bope”, uma linha de contenção para evitar que criminosos fugissem para áreas urbanas. A fala serviu para justificar o alto número de mortos e o fato de o confronto ter se concentrado fora das comunidades.
No entanto, o comandante do Bope afirmou que o plano original não previa avançar até a Vacaria e que a tropa só subiu a serra para retirar agentes civis feridos e impedir que fossem mortos.
Delegados da Polícia Civil também confirmaram ao MPRJ que não havia ordem para operações dentro da mata e que os agentes entraram no território após perceberem movimentação criminosa. Todos negaram que houvesse um cerco prévio ou uma tática oficial de “tróia”, como sugeriu o governo.
O STF determinou que o governo fluminense apresente documentos e esclarecimentos detalhados até o dia 17.





