Uma obra estimada em R$ 70 milhões deve mudar o visual do Viaduto do Chá, da Praça do Patriarca e do entorno do Theatro Municipal nos próximos anos. O projeto, que deve ser licitado em breve pela gestão Ricardo Nunes (MDB), teve seu valor ajustado mais de uma vez e tem gerado polêmica por causa de algumas das mudanças previstas.
Entre as novidades estão a troca das pedras portuguesas da região por piso de granito; o deslocamento das bancas de jornal para a parte de trás do Theatro Municipal; e a transferência da estátua de José Bonifácio para o centro da Praça do Patriarca.
Um envidraçamento que fecharia a marquise do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, previsto inicialmente pela prefeitura, foi suspenso após decisão contrária do Condephaat. Uma nova opção para o fechamento da entrada da galeria Prestes Maia, no lugar das atuais grades do espaço, ainda está em discussão.
Pedras portuguesas serão trocadas por piso de granito das cores vermelho e cinza
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Bondinho desativado será ponto de informações turísticas
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Projeto prevê instalar ponto de ônibus no Viaduto do Chá
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Vista aérea de projeto da Prefeitura para a Praça do Patriarca
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Piso na fachada da Prefeitura também será renovado
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À frente do projeto dentro da Prefeitura de São Paulo, o secretário municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, Marcos Monteiro, diz que o plano para a região é mais uma das fase de obras no centro histórico da cidade e surgiu após uma inspeção detectar a necessidade de reforma do Viaduto do Chá.
“Foram identificados problemas estruturais, principalmente de infiltração. Se a gente deixar, ao longo do tempo vai se deteriorando cada vez mais”, afirma ele.
O Viaduto do Chá carrega uma importante relação com a história da capital paulista. A primeira versão nasceu ainda no século XIX, com estruturas metálicas, idealizada pelo francês Jules Martin com o objetivo de facilitar o deslocamento entre o hoje chamado centro histórico e o outro lado da cidade, que se expandia à oeste.
A versão atual da estrutura, feita em 1939, surgiu em meio a uma intensa circulação de veículos e pessoas na região, e usou o concreto como matéria-prima.
Curiosidades sobre o Viaduto do Chá
- Foi o primeiro viaduto da cidade, construído em 1892.
- A primeira versão da estrutura, que durou por décadas, era feita com estruturas metálicas que foram trazidas da Alemanha para o Brasil.
- Durante alguns anos, quem passava por ali precisava pagar pedágio. Isso fez com que o local ficasse conhecido pelo apelido de Viaduto dos Três Vinténs, em referência ao preço cobrado.
- A cobrança do pedágio caiu por terra em 1897. Desde então, a travessia é gratuita.
- Em 1939, foi feita a construção atual. A obra, com estética Art Decó, é assinada pelo arquiteto Elisiário Bahiana.
Na proposta da Prefeitura de São Paulo para o local, as calçadas do viaduto receberão piso de granito nas cores vermelho e cinza. Marcos diz que a retirada das pedras vai “aliviar” o que ele chama de carregamento de materiais em cima do viaduto e facilitar a manutenção.
“A mão de obra disponível para reassentamento de pedra portuguesa hoje é muito especializada e, em geral, a gente tem muita dificuldade de conseguir”, explica o secretário.
Segundo ele, a previsão é de que a reforma também solucione os problemas de infiltração na Galeria Prestes Maia, que são alvo de reclamações da concessionária responsável pelo espaço, a mesma que administra o Vale do Anhangabaú.
A galeria é uma passagem subterrânea de pedestres que liga a Praça do Patriarca ao Anhangabaú. No passado, o espaço já foi utilizado até como uma filial do Masp, mas hoje, apesar de aberto, não conta com programação cultural frequente.
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Outras mudanças previstas na obra são a instalação de um ponto de ônibus em cima do viaduto e de um bondinho desativado, em frente ao Shopping Light. O bondinho será utilizado como ponto de informações turísticas, próximo ao lugar onde hoje está uma banca de jornal.
Um recuo para o embarque e desembarque de passageiros será instalado na entrada do shopping — um pedido do próprio centro comercial por causa da movimentação de carros de aplicativo na região, segundo a prefeitura.
A banca ao lado do shopping, assim como a que fica de frente para o Theatro Municipal, será levada para a rua de trás — uma base da Guarda Civil Metropolitana (GCM) substituirá a banca. A informação desagradou jornaleiros com quem o Metrópoles conversou. O calçamento da Praça Ramos de Azevedo também será trocado.
Praça do Patriarca no foco
Na outra ponta do viaduto, a Praça do Patriarca será foco de uma série de intervenções. O lugar é onde fica a Igreja Santo Antônio, tombada como patrimônio histórico e uma das mais antigas da cidade.
Ali, a obra prevê reforma do piso, mantendo os desenhos dos mosaicos atuais na área central e nas laterais dos edifícios. No centro da Praça, uma nova opção de fechamento da Galeria Prestes Maia, sob a marquise do premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha, ainda está em aberto e guarda a maior polêmica do projeto.
Imagens, de 2002, mostram marquise do arquiteto Paulo Mendes da Rocha e circulação de pessoas no local
Nelson Kon / Material cedido ao Metrópoles
Fotógrafo Nelson Kon fez série sobre a Praça do Patriarca
Nelson Kon / Material cedido ao Metrópoles
Pessoas na Praça do Patriarca reformada em 2002
Nelson Kon / Material cedido ao Metrópoles
Praça do Patriarca
Nelson Kon / Material cedido ao Metrópoles
Vista da marquise da Praça do Patriarca em 2002
Nelson Kon / Material cedido ao Metrópoles
Fotografia que ilustra cartão postal doado para o Arquivo Nacional por Mario Prugner em 1931 mostra Viaduto do Chá no século XX
Arquivo Nacional
Praça do Patriarca em uma de suas várias aparências, no século XX. Local sofreu uma série de reformas com o tempo
Benedito J. Duarte / Acervo Museu da Cidade de São Paulo
Desde que foi instalada, durante uma reforma na gestão Marta Suplicy (PT), a marquise é alvo de debates. Alguns dizem que ela não permite a visão ampla do centro novo para quem está ao fundo da praça. Mais de uma vez, houve quem sugerisse transferir a obra para outro local.
Em julho deste ano, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que havia uma ideia de que a marquise “poderia ir para um local com mais visibilidade”, mas que isso dependeria da consulta a familiares do arquiteto. A família, no entanto, logo se posicionou contra.
A prefeitura, então, apresentou um projeto de envidraçamento no entorno da entrada da galeria, igualmente criticado pela família e também por arquitetos por interferir diretamente na obra. Filho do autor da marquise, Pedro Mendes da Rocha defendeu, em entrevista ao Metrópoles, que a obra do pai seja mantida onde está e sem interferências.
Ele, que também é arquiteto, diz que se posicionar contra as mudanças não é uma questão que cabe ou não à família exclusivamente, mas que as sugestões propostas pela prefeitura são “estapafúrdias”. “A marquise já está incorporada à cidade, já está na história da arquitetura, tem referências internacionais deste trabalho”, afirma.
No início de novembro, o Condephaat também se posicionou contra a ideia de fechar com vidro a entrada da galeria e ofereceu outra opção.
“Como alternativa, sugerimos a adoção de um fechamento horizontal retrátil no gradil já existente, por exemplo. Dessa forma, não teria novos bloqueios visuais e haveria a reabertura do acesso quando necessário”, diz o conselho.
“Essa é a proposta que menos interfere na integridade da obra”, fala Pedro, ressaltando que o fechamento retrátil também precisará ser “cuidadosamente planejado”.
O secretário diz que a prefeitura vai analisar a sugestão do Condephaat para apresentar um modelo final ao projeto. A expectativa é que o novo desenho seja enviado ainda este ano.
A gestão também prevê lançar a licitação neste ano, com anúncio dos vencedores até maio de 2026. A previsão é que a obra dure 18 meses. Os gastos iniciais previstos eram de R$ 58 milhões. Agora, mais próximo da data da licitação, e com mais levantamentos sobre a obra concluídos, a estimativa cresceu para R$ 70 milhões.
