O Criadouro Ararinha-azul, localizado em Curaçá (BA), contestou, neste domingo (30/11), as informações dadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sobre supostas falhas sanitárias, negligência e condições insalubres nas instalações que abrigam parte da população mundial da ararinha-azul — espécie criticamente ameaçada e endêmica da Caatinga.
A instituição diz manter 103 aves sob seus cuidados. Dessas, 98 testaram negativo para circovírus nos exames mais recentes, e cinco foram identificadas como positivas.
Em nota, o criadouro rebateu o órgão federal e afirmou seguir “protocolos rígidos de biossegurança, bem-estar animal e manejo em ambiente limpo e controlado, com normas internacionais”.
“Em vez de atuar em cooperação para enfrentar um problema sanitário que existe no Brasil há mais de 30 anos, o Estado prefere transferir a culpa e buscar punições contra uma entidade privada que investe recursos próprios na conservação de uma espécie ameaçada”, diz o texto.
A manifestação ocorre após o Ministério do Meio Ambiente confirmar, na última terça-feira (25/11), que as últimas 11 ararinhas-azuis que viviam soltas na natureza em Curaçá foram recapturadas contaminadas com circovírus — vírus que causa a doença do bico e das penas, não tem cura e, na maior parte dos casos, leva o animal à morte.
O criadouro também questiona o número de aves supostamente infectadas. Embora os testes iniciais tenham apontado circovírus em 11 araras de vida livre, a instituição afirma que exames posteriores reduziram o total para cinco positivos — três do plantel e dois dos animais recapturados na Caatinga.
A empresa ainda contesta a multa de R$ 1,8 milhão aplicada pelo ICMBio e afirma não ter tido acesso ao laudo técnico completo que embasou a autuação.
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ICMBio aponta falhas e risco sanitário
Para o ICMBio, porém, a situação no criadouro é grave. A analista ambiental Claudia Sacramento, coordenadora da emergência sanitária, afirma que as condições observadas pelas equipes indicam risco à população de mais de 90 ararinhas mantidas em cativeiro.
Segundo ela, os recintos não eram limpos diariamente, havia acúmulo de fezes e restos de comida, e funcionários trabalhavam sem equipamentos de proteção individual. Sacramento também criticou a recusa do criadouro em reconhecer laudos de laboratórios como o da USP e o do Ministério da Agricultura.
Reintrodução das ararinhas-azuis na natureza
A ararinha-azul foi declarada extinta na natureza e passou a ser reintroduzida em 2020, após acordo entre o governo brasileiro e a ONG alemã ACTP. Em 2022, 20 aves foram soltas na Caatinga; 11 sobreviveram — as mesmas que agora testaram positivo para circovírus.
O criadouro participou do projeto, que registrou taxa de sobrevivência de 45% e o nascimento de sete filhotes em vida livre — o primeiro em mais de 37 anos. Em 2025, uma nova soltura de mais 20 aves chegou a ser preparada, mas foi suspensa após a detecção do vírus. No mesmo ano, 41 ararinhas importadas da Alemanha chegaram ao país e permanecem no criadouro, ainda sem previsão de soltura.
