Uma nova análise realizada por pesquisadores internacionais mostra que o crânio de uma criança que viveu há 140 mil anos é a evidência mais antiga conhecida da transição entre os neandertais e o Homo Sapiens – espécie humana atual. O fóssil, batizado de Skhūl 1º, foi encontrado em 1931 nas cavernas de Monte Carmelo, noroeste de Israel.
O estudo recente contou com a participação de cientistas franceses, belgas e israelenses e foi publicado na revista científica L’Anthropologie em meados de julho deste ano.
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Os pesquisadores estimam que a criança “híbrida” tinha entre 3 e 5 anos de idade e teria sido enterrada intencionalmente no local ao lado de outras crianças e adultos, indicando ter participado de um enterro coletivo.
Já era conhecido e documentado que nossa espécie se misturou com os neandertais em algum momento da história — temos entre 1% a 5% de herança genética dos antepassados. Mas o novo estudo revela que esse encontro ocorreu antes do que se pensava.
“O que dizemos agora, na verdade, é revolucionário. Nós demonstramos que o primeiro encontro entre os neandertais e o Homo sapiens não ocorreu há cerca de 50 mil anos, como se imaginava, mas sim pelo menos cerca de 100 mil anos antes, há 140 mil anos, o que é extremamente significativo”, destaca o líder da pesquisa, Israël Hershkovitz, da Universidade de Tel Aviv, em Israel, em entrevista à BBC News Mundo.
Tecnologia para analisar a criança
Análises anteriores mostram que Skhūl 1° morreu muito jovem e de causas naturais. No entanto, ainda se tem poucos detalhes sobre as características da criança, incluindo como ela vivia, doença que a acometeu, idade e sexo biológico.
Durante o novo estudo, foram investigados novamente a morfologia do crânio e a mandíbula através de tomografia computadorizada e reconstruções virtuais em 3D. O objetivo era entender melhor sua taxonomia – método para classificar, organizar e nomear os seres vivos.
Em seguida, os resultados foram comparados aos restos mortais de crianças Homo sapiens e neandertais. Foi nesse momento que concluiu-se que Skhūl 1° tinha características híbridas de ambas espécies. Enquanto o crânio era mais parecido com a nossa espécie, a mandíbula era mais semelhante à de nossos ancestrais.
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Foram analisados o crânio e mandíbula da criança
Divulgação/Centro Dan David de Evolução Humana/ Universidade de Tel Aviv
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Imagem mostra crânio da criança Skhūl 1°, de aproximadamente 140 mil anos
Divulgação/Centro Dan David de Evolução Humana/ Universidade de Tel Aviv
Antes da descoberta, o indivíduo era classificado como “ser humano moderno”, algo classificado como “quase impossível” pelos pesquisadores. Mesmo híbrida, Hershkovitz aponta que a criança não foi resultado de uma suposta relação entre as duas espécies, mas sim que faz parte da miscigenação lenta de um grupo sobre o outro.
“Nós o chamamos de população com introgressão, o que significa que os genes de uma população penetraram lenta e gradualmente no outro grupo. Por isso, na realidade, o que observamos em Skhūl 1º é uma população ‘quase sapiens’, mas com maior proporção de genes neandertais”, afirma o pesquisador.
Por outro lado, parte da comunidade científica questiona os resultados apresentados no novo estudo. Pesquisadores acreditam que o túmulo de Skhūl 1 pode ter sofrido alterações posteriores ao enterro, sendo essencial a análise de DNA para confirmar a descoberta. Novas investigações deverão ser realizadas.
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