Em menos de 15 dias, dois vereadores do estado do Rio de Janeiro (RJ) foram presos sob suspeita de estarem relacionados a facções criminosas que dominam o tráfico de drogas e armas em solo fluminense. A descoberta desse tipo de ligação, porém, não é inédita. Nos últimos tempos, investigações têm descortinado a união de políticos com o crime organizado em todo o país.
No dia 14 de novembro, Marcos Henrique Matos de Aquino (Republicanos), o vereador mais votado no município de São João de Meriti, foi detido durante a operação Contenção, deflagrada contra o Comando Vermelho (CV).
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Nessa terça-feira (25/11), outro político do município foi algemado em uma operação — esta tinha como alvo o Terceiro Comando Puro (TCP). Ernane Aleixo (PL) foi preso na ação policial batizada de “Muro de Favores”.
Investigações apontam que Aleixo, o terceiro vereador mais votado do município, teria oferecido suporte logístico e operacional à facção em troca de benefícios financeiros e eleitorais.
Ao longo deste ano, a coluna noticiou as prisões de diferentes políticos que foram corrompidos e tiveram suas carreiras manchadas pelo envolvimento com engrenagens criminosas que movimentam milhões. A sede pelo poder tem levado facções a se infiltrarem entre os parlamentares para fortalecer suas atuações.
A queda de TH Joias
No dia 3 de setembro, o deputado estadual Thiego Raimundo de Oliveira Santos, mais conhecido como TH Joias, foi preso em uma megaoperação conjunta das polícias Federal e Civil.
Investigações apontaram o político como um “relevante membro do Comando Vermelho” e facilitador do crime organizado no Rio de Janeiro.
Eleito em 2022 como suplente pelo MDB, ele assumiu a cadeira em 2024, após a morte do deputado Otoni de Paula Pai. Seu mandato, contudo, foi usado como instrumento para o funcionamento de uma máquina criminosa sanguinária no estado.
TH teria repassado informações privilegiadas às quadrilhas e protegido interesses criminosos. Uma foto anexada ao inquérito mostra o deputado deitado em uma cama coberta de dinheiro.
Foto de TH Joias deitado com pilhas de dinheiro foi revelada pela PF
Material cedido ao Metrópoles
Ao longo das investigações, a polícia constatou que TH ostentava riqueza ilícita nas redes sociais
Reprodução/Alerj
Primeira-dama do Bonde dos 40
Um nome que chamou a atenção da imprensa ao ser relacionado a uma facção criminosa foi o da vereadora Tatiana Medeiros (PSB). Ela foi presa no bairro Jóquei, zona Leste de Teresina (PI), no dia 3 de abril deste ano.
À época, ela foi apontada por investigadores da PF como namorada de Alandilson Cardoso Passos, integrante do Bonde dos 40, investigado por tráfico de drogas e diversos outros crimes.
Segundo a PF, há fortes indícios de que a campanha eleitoral de Tatiana tenha sido financiada com dinheiro sujo da facção criminosa. Durante uma fase anterior da investigação, a PF apreendeu R$ 100 mil em espécie nas instalações da ONG Instituto Vamos Junto, fundada pela vereadora.
A vereadora Tatiana Medeiros
Reprodução
Ela é namorada do chefe do Bonde dos 40
Reprodução
A vereadora usou o celular durante o período em que ficou presa
Reprodução
Preso com R$ 130 mil em espécie
No fim de outubro, a atuação de um vereador baiano foi desmascarada em uma operação deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Ilhéus (Ficco), em conjunto com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).
George Everton Santana (PCdoB), vereador de Ubaitaba (BA), foi preso no dia 30. Durante a ação, os investigadores encontraram R$ 130 mil em espécie com ele.
A operação foi deflagrada para desarticular uma organização criminosa envolvida em tráfico de drogas e armas, homicídios e lavagem de dinheiro no sul da Bahia e no estado de Sergipe. O nome do grupo criminoso não foi divulgado pela PF.
George Everton Santana
Reproduçãp/Web
A união entre a política e a milícia
No Rio de Janeiro, além dos que firmam pactos com as facções criminosas, há os políticos que se aliam à milícia — ou milicianos que se candidatam à política.
O ex-deputado estadual do Rio Natalino José Guimarães é apontado como sendo o fundador da primeira milícia fluminense, a “Liga da Justiça”. Na empreitada criminosa, ele teria tido ajuda do irmão, Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, ex-vereador.
Ambos são ex-policiais civis. Jerominho foi morto em agosto de 2022 e Natalino está preso desde 10 de dezembro do ano passado, alvo de uma operação do Ministério Público do Rio contra grilagem de terras.
De acordo com a Polícia Civil, o grupo é acusado de homicídios, extorsões e comércio irregular na venda de água e botijões de gás.
Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho
Reprodução
Jerominho foi atingido no abdômen e na perna
Reprodução
Ex-policial civil Natalino Guimarães é preso sob suspeita de grilagem
Reprodução / Redes Sociais
Madrinha do crime
Outra deputada indiciada por envolvimento com o crime foi Lucinha (PSD). Ela passou a ser investigada por envolvimento com a “Milícia do Zinho”.
De acordo com as investigações, a então política era chamada de madrinha por integrantes do grupo criminoso.
A deputada foi apontada como braço político da quadrilha de Zinho, mas sempre negou envolvimento com o grupo paramilitar.
Deputada Lucinha tem o apelido de madrinha da milícia
Divulgação/Alerj
