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    Dólar avança a R$ 5,29 e Bolsa caminha para queda após série positiva

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    O dólar terminou a sessão desta quarta-feira (12/11) em alta, em um dia no qual o mercado financeiro repercutiu declarações do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e também monitorou o noticiário nos Estados Unidos, com o iminente fim do shutdown e a possível redução de tarifas sobre o café.

    Dólar

    • A moeda norte-americana fechou em alta de 0,37%, cotada a R$ 5,292, depois de cinco baixas consecutivas.
    • Na cotação máxima do dia, o dólar bateu R$ 5,302. A mínima foi de R$ 5,266.
    • Na véspera, o dólar terminou a sessão em queda de 0,64%, cotado a R$ 5,272. Foi o menor valor desde junho do ano passado.
    • Com o resultado, a moeda dos EUA acumula perdas de 1,63% em novembro e de 14,36% frente ao real em 2025.

    Ibovespa

    • O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), caminhava para fechar em baixa no pregão desta quarta-feira, interrompendo uma sequência de altas.
    • Por volta das 17h (pelo horário de Brasília), na reta final do pregão, o Ibovespa recuava 0,32%, aos 157,2 mil pontos.
    • No dia anterior, o indicador fechou o pregão em alta de 1,6%, aos 157,7 mil pontos. Foi o 12º recorde seguido de fechamento e a 15ª elevação consecutiva do índice em pregões – sequência positiva agora interrompida.
    • Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula ganhos de 5,49% no mês e de 31,15% no ano.
    • Se fechar mesmo no vermelho, o Ibovespa perderá a chance de cravar uma marca inédita de 16 pregões consecutivos de alta, recorde que permanece há 31 anos, desde 1994.

    “BC não pode brigar com os dados”, diz Galípolo

    No cenário doméstico, o grande destaque do dia foi a participação do presidente do BC, Gabriel Galípolo, em dois compromissos em São Paulo.

    O chefe da autoridade monetária participou de anúncios sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) e também de um debate no painel “Política Monetária no Brasil”, no Fórum de Investimentos 2026 – Tendências Globais para os Investimentos, promovido pela Bradesco Asset Management, na capital paulista.

    Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter a taxa básica de juros no atual patamar de 15% ao ano, o maior em quase duas décadas, desde 2006. O mercado já vem projetando o início do ciclo de corte da Selic para o início do ano que vem.

    Nesta quarta, Galípolo rebateu as críticas à autoridade monetária pela decisão de manter a taxa básica de juros (a Selic) em um patamar elevado para controlar a inflação no país.

    “Temos uma desancoragem das expectativas que sinaliza um bom pedaço dos próximos anos com uma inflação que não está dentro da meta. É por isso que o BC tem sido tão vigilante em ter essa segurança de ter colocado a taxa de juros em um patamar restritivo, permanecendo com ela por este período bastante prolongado, para garantir que a política monetária vá fazendo seus efeitos”, afirmou Galípolo.

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    “Entendo que é legítimo todos os ramos da sociedade poderem se manifestar sobre política monetária. Todo mundo pode brigar com o BC, mas o BC não pode brigar com os dados. De todas instituições públicas, o BC talvez seja a que tenha objetivos mais claros. Temos uma meta explícita de inflação”, disse.

    Galípolo foi questionado sobre críticas à política monetária mais restritiva do BC. Após o anúncio da manutenção da Selic em 15% ao ano, na semana passada, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), classificou a postura do Copom como “descasada da realidade” e “prejudicial ao Brasil”.

    “Se você diz que a convergência para a inflação está sendo mais lenta e gradual, aqueles que têm uma visão mais benigna da trajetória vão dizer que não estamos reconhecendo a realidade ou que é sabotagem”, observou Galípolo. “Se você faz algum tipo de reconhecimento de que [a inflação] está crescendo menos, aí também vai por outro lado: dizem que já está querendo entregar por pressão ou algo do tipo.”

    O presidente do BC complementou, sobre as críticas: “Se fizermos um bom trabalho, seremos criticados de forma equânime por esses dois extremos”.

    No outro compromisso do dia, Galípolo disse que a inflação no Brasil vem caminhando, de forma “lenta e gradual”, em direção à meta de 3% perseguida pelo BC. “Os dados vêm mostrando uma progressão, ainda que lenta e gradual, da inflação no sentido de convergência para a meta. É claro que o lento e gradual é bastante incômodo para o BC”, reconheceu.

    “Por outro lado, esse gradualismo colabora para emagrecer o outro risco, o receio de que se tivesse um declínio mais agudo da economia. O que os dados vêm mostrando é uma economia que está desacelerando, crescendo a taxas menores”, concluiu o presidente do BC.

    Setor de serviços cresce

    Ainda no âmbito interno, o mercado também repercutiu os dados divulgados nesta manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o desempenho do setor de serviços no país em setembro.

    Segundo o IBGE, o volume de serviços subiu 0,6% em relação ao mês anterior, na série com ajuste sazonal. Foi o oitavo resultado positivo seguido, período em que o setor acumulou alta de 3,3%. Com isso, o setor de serviços está 19,5% acima do nível pré-pandemia (em fevereiro de 2020) e renova, neste mês, o ápice da sua série histórica.

    Na série sem ajuste sazonal, em relação a setembro do ano passado, o volume de serviços avançou 4,1%, a 18ª taxa positiva consecutiva. No acumulado do ano, a alta é de 2,8% e, em 12 meses, de 3,1%.

    O crescimento do setor em setembro foi acompanhado por três das cinco atividades, com destaque para os transportes +(1,2%). Os demais avanços vieram de informação e comunicação (+1,2%) e de outros serviços (+0,6%). Por outro lado, os serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,6%) e os prestados às famílias (-0,5%) tiveram queda no mês.

    Café terá tarifas reduzidas

    No front externo, as atenções dos investidores se voltaram aos EUA. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, confirmou, em entrevista à Fox News, que o governo do presidente Donald Trump anunciará uma redução nas tarifas comerciais impostas sobre produtos como café, banana e outros itens importados pelo país.

    A declaração vai em linha com o que disse o próprio Trump, na véspera, também em entrevista à Fox. O Brasil é o maior exportador mundial de café e tem os EUA como um dos principais destinos de venda. Segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC), cerca de 20% das exportações brasileiras do grão têm como destino o mercado norte-americano.

    “Nós vamos baixar, nos próximos dias, algumas tarifas sobre o café e vamos ter algum café entrando [nos EUA]”, disse Bessent em entrevista ao programa The Ingraham Angle, da Fox News. “Vamos cuidar de tudo isso muito rapidamente. É algo cirúrgico, bonito de se ver, mas o custo de vida hoje está bem menor.”

    Assim como Trump no dia anterior, o secretário do Tesouro dos EUA não deu detalhes sobre as medidas – de quanto será a redução das tarifas nem quando ela será anunciada.

    O novo posicionamento da Casa Branca sobre a taxação do café surge em meio a um contexto recente de reaproximação diplomática e comercial entre os EUA e o Brasil – simbolizada por encontros, conversas e acenos entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Shutdown chegando ao fim

    Os mercados também continuam com as atenções voltadas aos EUA, aguardando o fim do shutdown, a paralisação de amplos setores do governo norte-americano, que já dura mais de 40 dias e é a mais duradoura da história do país.

    Após ser aprovado pelo Senado, a Câmara dos Representantes dos EUA deve votar, nesta quarta, o acordo que pode encerrar o shutdown. Na segunda-feira (10/11), congressistas republicanos e democratas chegaram a um consenso sobre o acordo, aprovado no Senado por 60 votos contra 40.

    A proposta prevê um pacote orçamentário provisório que possibilitará o financiamento do governo federal até janeiro de 2026, além de um pacote mais amplo de orçamento para o Legislativo, o Departamento de Agricultura e para programas voltados para veteranos norte-americanos.

    O texto passou no Senado após cinco semanas de negociações entre representantes republicanos e democratas centristas.

    Na terça-feira (11/11), Donald Trump parabenizou o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, e o líder da maioria no Senado, John Thune, pela aprovação da medida que reabre o governo federal.

    Análise

    Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, o dólar teve um dia de “ajuste técnico”, após acumular queda superior a 2% nas últimas sessões.

    “O movimento ocorre em meio à expectativa pela retomada dos indicadores econômicos dos EUA com o fim do shutdown, o que traz cautela aos mercados e leva investidores a reduzirem posições após a sequência de apreciação do real”, explica Shahini.

    Ainda assim, diz o analista, “o diferencial de juros doméstico segue como fator de sustentação para a moeda brasileira, já que a ata do Copom e o IPCA mais fraco reforçaram a percepção de que o ciclo de cortes da Selic deve começar apenas em 2026, mantendo o diferencial de juros como suporte importante para divisa brasileira”.