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Dólar sobe com corte no tarifaço e mercado dividido sobre juro nos EUA

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Dólar sobe com corte no tarifaço e mercado dividido sobre juro nos EUA

Na retomada das negociações do mercado financeiro após o feriado de 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), em que não houve pregão, o dólar operava em alta na manhã desta sexta-feira (21/11), em meio à repercussão da suspensão das tarifas comerciais de 40% que vinham sendo aplicadas pelos Estados Unidos sobre parte dos produtos agrícolas do Brasil.

Os investidores também aguardam pronunciamentos de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano), em busca de “pistas” sobre a trajetória da taxa básica de juros nos EUA. Após a divulgação do relatório oficial de empregos do país (o “payroll”), o mercado está dividido em relação às expectativas sobre um possível novo corte dos juros na próxima reunião do Fed, em dezembro.

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Trump corta tarifas de 40%

O grande destaque do último pregão da semana é a repercussão da decisão da Casa Branca de zerar as tarifas de 40% sobre alguns produtos agrícolas brasileiros. Com isso, as tarifas sobre carne bovina fresca, resfriada ou congelada, produtos de cacau e café, algumas frutas, vegetais, nozes e fertilizantes foram zeradas.

Na última sexta-feira (14/11), o governo norte-americano já havia anunciado a retirada das tarifas globais de 10%, mas alguns setores brasileiros ainda continuavam taxados com 40%.

Segundo o texto, a Casa Branca considera que houve “progresso inicial” nas negociações conduzidas após uma conversa telefônica entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 6 de outubro. O diálogo abriu caminho para uma revisão da medida punitiva, adotada sob justificativa de que políticas do governo brasileiro representariam uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança e aos interesses econômicos dos EUA.

A ordem executiva, assinada por Trump, é válida para produtos que entraram nos EUA a partir de 13 de novembro. A lista detalhada (veja aqui) inclui uma vasta gama de minérios (ferro, estanho, carvão, linhito, turfa, alcatrão), óleos minerais (petróleo, óleos brutos, combustíveis), e numerosos artigos relacionados a peças de aeronaves.

Os setores que permanecem sujeitos à alíquota adicional de 40% são aqueles cujos produtos não constam na extensa lista de exclusão – como máquinas e implementos agrícolas, veículos e autopeças, aço e derivados siderúrgicos, produtos químicos específicos, têxteis e calçados.

A decisão representa um gesto político importante: setor diretamente impactado pelo tarifaço, o agronegócio brasileiro pressionava o governo Lula por uma reação diplomática mais incisiva.

Apesar da flexibilização, o governo Trump reafirmou que o estado de emergência permanece em vigor. Ou seja, as sobretaxas continuam aplicadas à maior parte dos produtos incluídos originalmente.

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A ordem também autoriza novos ajustes tarifários caso o Departamento de Estado conclua que o Brasil não está atendendo às exigências dos EUA. Todos os órgãos de comércio e segurança envolvidos no caso — incluindo Tesouro, Comércio, Segurança Interna, USTR e Conselho de Segurança Nacional — seguem com poderes para monitorar e recomendar novas medidas.

“Não é tudo que o Brasil quer, não é tudo que o Brasil precisa, mas é importante”, disse Lula“[Trump], eu vou lhe agradecer só parcialmente, vou agradecer totalmente quando tudo tiver acordado entre nós. Se em apenas duas conversas já chegamos ao que chegamos hoje, com três a quatro conversas vamos fazer com que Brasil e EUA vivam em harmonia, politicamente e comercialmente. Obrigado pela decisão”, completou.

Juros nos EUA

Os investidores também voltam suas atenções a discursos que serão proferidos por dirigentes do Federal Reserve, a autoridade monetária dos EUA. John Williams, Michael Barr, Phillip Jefferson, Susan Collins e Lorie Logan devem falar em eventos públicos nesta sexta-feira.

Após a divulgação dos dados referentes a setembro do “payroll”, o relatório oficial de emprego dos EUA, o mercado se dividiu ainda mais em relação às projeções sobre o que o BC norte-americano fará em sua próxima reunião para definir a taxa de juros, marcada para os dias 9 e 10 de dezembro. Será o último encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed em 2025.

Os EUA registraram a criação de 119 mil vagas de emprego fora do setor agrícola em setembro. O resultado veio bem acima das projeções do mercado, que indicavam a criação de 53 mil vagas.

A taxa de desemprego no país foi de 4,4% em setembro. Em agosto, o “payroll” mostrou o fechamento de 4 mil vagas no país (dado revisado) e uma taxa de desemprego de 4,3%.

Setembro interrompeu uma sequência de quatro meses consecutivos em que os empregos criados ficaram abaixo de 100 mil nos EUA. Também foi a primeira divulgação do relatório desde o fim do shutdown – a paralisação de diversos setores da máquina governamental, que durou mais de 40 dias e foi a maior da história do país.

A força do mercado de trabalho nos EUA é um dos componentes considerados pelo Fed para definir a taxa de juros e esfriar a demanda na economia a fim de combater a inflação.

Analistas temem que uma possível aceleração do mercado de trabalho nos EUA leve a um novo aperto da política monetária pelo Fed. Nesse sentido, dados mais fracos do “payroll” poderiam ser até considerados positivos, por sinalizarem maior espaço para a queda dos juros – embora também exista a preocupação em relação a uma retração excessiva da maior economia do mundo.

Atualmente, a taxa de juros nos EUA está no intervalo entre 3,75% e 4% ao ano, depois de dois cortes seguidos de 0,25 ponto percentual. A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros, a última do ano, está marcada para os dias 9 e 10 de dezembro.

De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, a probabilidade de manutenção dos juros por parte do Fed no próximo mês estava em 56,6% no início da manhã. Hoje, 43,4% dos investidores apostam em uma nova redução de 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 3,5% e 3,75% ao ano.

A taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Segundo dados do Departamento do Trabalho, a inflação nos EUA ficou em 3% em setembro, na base anual. Na comparação mensal, o índice foi de 0,3%.

A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.

Análise

Segundo Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o payroll “trouxe números mais positivos, que indicam que o mercado de trabalho nos EUA ainda mantém certo fôlego”.

“A taxa de desemprego subiu em setembro, atingindo um patamar acima do esperado pelo mercado, mas ainda baixo para os padrões históricos dos EUA. Adicionalmente, vale dizer que houve um leve aumento da participação na força de trabalho, o que significa que mais pessoas procuraram emprego nas últimas quatro semanas”, observa.

Segundo a economista, “o bom ritmo de contratações nos últimos meses corrobora a visão de que a atividade econômica segue robusta nos EUA, o que tende a manter a inflação pressionada”.

“Antes da última decisão de juros, os membros do Fed vinham demonstrando uma preocupação maior com uma possível deterioração do mercado de trabalho do que com a inflação. No entanto, a ata da última reunião de política monetária sugere que as preocupações em relação à alta dos preços têm aumentado. Esse cenário, junto com os dados de hoje, diminuem a chance de um corte de juros na reunião de dezembro”, conclui Moreno.

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