Em reunião realizada nessa quarta-feira (19/11) com o Sindicato dos dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, representantes da direção do Nubank descartaram a possibilidade de rever as demissões por justa causa anunciadas pela fintech no último dia 7 de novembro.
No encontro com o Nubank, o sindicato cobrou a revisão das demissões de funcionários que manifestaram sua insatisfação com mudanças no modelo de trabalho adotado pela empresa a partir de 2026.
Segundo informações do sindicato, o Nubank “apresentou números atualizados sobre o processo” e afirmou que não recuará em relação às demissões.
“Na reunião desta quarta, diante da cobrança do sindicato – que reiterou seu repúdio às demissões por justa causa, que para a entidade não são amparadas por justificativa cabível –, o Nubank se comprometeu a analisar os casos e trazer uma resposta em nova reunião na próxima semana”, informou a entidade por meio de nota.
“Reforçamos para o Nubank nossa contrariedade com essas demissões, uma vez que não identificamos, em reunião com os impactados, qualquer justificativa cabível para as mesmas, ainda mais por justa causa. Seguiremos na luta em defesa desses trabalhadores”, disse a presidente do Sindicato dos Bancários, Neiva Ribeiro, após a conversa com representantes do Nubank.
Ainda de acordo com o sindicato, o Nubank foi informado, na reunião, sobre “o sentimento dos trabalhadores, expresso em plenária realizada em 12 de novembro, de indignação, frustração e decepção com os rumos da empresa”.
O Nubank demitiu 12 funcionários, no último dia 7, depois de reações negativas e até mesmo revolta durante uma reunião na qual a empresa anunciou o fim do modelo de trabalho quase 100% em home office e a adoção do formato híbrido a partir do ano que vem.
Segundo a empresa, a partir do dia 1º de julho de 2026, pelo menos 70% dos funcionários terão de comparecer ao escritório do Nubank para trabalhar presencialmente dois dias por semana. A quantidade de dias presenciais aumentará para três por semana a partir de 1º de janeiro de 2027. Atualmente, os funcionários do Nubank comparecem ao escritório apenas durante uma semana por trimestre.
A mudança já havia sido anunciada em um e-mail assinado pelo CEO do Nubank, David Vélez. Na mensagem, o executivo admite que a empresa estava ciente de que poderia haver uma “disrupção para parte dos funcionários” com o novo formato de trabalho. Vélez foi duramente criticado nas redes sociais e chegou a responder a um comentário de um ex-funcionário no LinkedIn.
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O que alegou o Nubank na reunião
Na reunião com o sindicato, o Nubank afirmou que todos os pedidos de extensão de prazo para a mudança do modelo de trabalho podem ser feitos nos canais internos do banco, até o dia 30 de janeiro de 2026 – e que o retorno sobre esses pedidos será no dia 13 de fevereiro.
Já os pedidos de exceção podem ser formalizados, também por meio dos canais internos da empresa, até o dia 30 de novembro de 2025. Eles serão respondidos pelo Nubank até 15 de dezembro.
Os representantes do Nubank disseram ainda que não procede a informação de que o RH da companhia estaria convocando trabalhadores a se manifestarem sobre o interesse de seguir no banco no novo modelo de trabalho.
“O sindicato orienta que o trabalhador do Nubank que sofra qualquer espécie de pressão neste sentido denuncie para a entidade através do Canal de Denúncias”, orientou a entidade sindical.
Procurado pela reportagem do Metrópoles, nesta quinta-feira, para comentar a reunião com o sindicato, o Nubank ainda não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto à empresa.
Próximos passos
Segundo a direção do sindicato, outras reuniões com o Nubank devem ocorrer nos próximos dias para tratar do caso. A entidade também promete “convocar outras ações de mobilização junto aos trabalhadores”. “Uma delas possivelmente é uma plenária, desta vez presencial, para debater e definir com segurança e sigilo os próximos passos do movimento”, diz o sindicato.
“O sindicato está ao lado dos trabalhadores do Nubank, que, de forma justa, estão indignados pelo fato de uma empresa que sequer possui uma agência física, que tanto cresceu no modelo atual de teletrabalho, convocar seus funcionários para o presencial. Para avançarmos neste debate, é necessária a participação de todos”, afirmou Neiva Ribeiro.
Como foi a “plenária virtual”
O anúncio da reunião com o Nubank foi feito após o sindicato ter organizado uma “plenária virtual” com os funcionários da fintech para discutir as demissões e as mudanças anunciadas pela companhia no modelo de trabalho a partir de 2026.
Durante o encontro virtual, que contou com a participação de cerca de 300 pessoas, um grupo de funcionários do Nubank divulgou um manifesto – com o apoio do sindicato – contra as demissões e cobrou da direção da empresa a “recontratação imediata” dos profissionais demitidos.
De acordo com o Sindicato dos Bancários, “os relatos dos trabalhadores foram unânimes quanto à insatisfação com a mudança de regime de trabalho” do Nubank.
Outro ponto abordado na “plenária virtual”, diz a entidade, “foi a forma como a mudança foi comunicada pelo Nubank, sem que fosse apresentada aos trabalhadores qualquer justificativa amparada em dados para a mudança de regime de trabalho”. “Cabe ressaltar que a mudança no modelo de trabalho não foi negociada com o sindicato. Na mesma data em que foi anunciada aos trabalhadores, a direção do Nubank se reuniu com o sindicato e apresentou a sua decisão, comprometendo-se a realizar reuniões periódicas com a entidade”, afirma o sindicato.
“O sindicato deixa claro que não aceitará retaliação por conta de manifestações dos trabalhadores pelo descontentamento com o fim do modelo 100% home office. É uma mudança grave, que precisa de diálogo. Os trabalhadores têm que ser ouvidos. Esperamos que, a partir de agora, o Nubank esteja disposto a ouvir as reivindicações que serão apresentadas nas mesas de negociação”, defendeu a presidente da entidade, Neiva Ribeiro.
Ainda de acordo com o sindicato, novas plenárias podem ser convocadas para discutir o assunto nos próximos dias.
O que diz o manifesto
No manifesto divulgado por funcionários, com o apoio do Sindicato dos Bancários, o grupo afirma que, “em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho”. “Oficialmente, 14 demissões por justa causa – um número inédito e alarmante – somadas a diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores”, diz o texto.
“É inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva, ignorando a opinião de mais de 90% da empresa segundo a própria Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira”, afirmam os funcionários.
Parte dos funcionários se revoltou com as mudanças
Na última quinta-feira (6/11), o Nubank promoveu uma reunião da qual participaram cerca de 7 mil dos 9,5 mil funcionários da companhia – a maior parte deles participou do encontro remotamente, via Zoom. Alguns funcionários reagiram de forma contrária à mudança no formato de trabalho, e a reunião foi marcada por momentos de maior rispidez entre os participantes, inclusive com alguns insultos e linguajar agressivo.
O caso foi analisado pelo Comitê de Conduta do Nubank. No dia seguinte, em um outro e-mail, a empresa anunciou a demissão de 12 funcionários. “Foi uma decisão difícil, mas nós impusemos um limite do que é desrespeito e agressão”, informou a mensagem do Nubank.
De acordo com o órgão interno que analisou o comportamento dos funcionários na reunião, houve elementos que justificaram as demissões por justa causa. O banco digital anunciou ainda que “muitos outros funcionários vão receber advertências por escrito”.
Em um fórum de discussão interno, alguns funcionários do Nubank alegaram que moram longe das cidades nas quais há escritórios da empresa e que foram pegos de surpresa com o anúncio da direção. Outros também reclamaram de uma suposta falta de representatividade de pessoas de fora do Sudeste na instituição financeira, dizendo que a mudança no formato de trabalho prejudica mais aqueles que moram fora de São Paulo.
O que diz o Nubank sobre as demissões
O Nubank disse aos funcionários que irá expandir seus escritórios para atender ao aumento do número de pessoas que trabalharão presencialmente. A companhia conta com duas unidades em São Paulo, uma na Cidade do México e uma em Bogotá (Colômbia).
O Nubank tem ainda três espaços para networking e capacitação, os chamados “hubs de talentos”, em Montevidéu (Uruguai), Berlim (Alemanha) e Durham (EUA).
A companhia pretende inaugurar novos escritórios em Campinas (SP), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Buenos Aires (Argentina), Washington (EUA), Miami (EUA) e Palo Alto (EUA).
Segundo a fintech, algumas funções continuarão sendo exercidas remotamente “devido à natureza de seus trabalhos exigir pouca ou nenhuma interação com outras equipes”. Entre esses cargos, estão profissionais de atendimento ao cliente, profissionais de investimentos, ouvidoria, rotuladores de dados, investigadores de crimes financeiros, profissionais de soluções regulatórias e profissionais de recursos humanos.
Procurado pelo Metrópoles, o Nubank afirmou, por meio de nota, que “trabalha para preservar canais e rituais abertos para o livre debate entre seus funcionários, mas não tolera desrespeito e violações de conduta”. “O Nubank não comenta casos individuais de desligamento”, diz o comunicado.
Mais 2 demissões por tentativa de sabotagem
Como se não bastasse a crise deflagrada pela insatisfação de parte dos funcionários com as mudanças anunciadas, o Nubank também demitiu mais dois profissionais de sua equipe que teriam tentado sabotar os sistemas internos da companhia.
Em mensagem direcionada aos funcionários do Nubank, à qual a reportagem do Metrópoles teve acesso, o CTO da fintech, Eric Young, informou que ambos os funcionários “foram imediatamente demitidos e denunciados às autoridades”. O caso está sob investigação policial.
“Durante nossas operações regulares de Segurança da Informação, detectamos que dois funcionários estavam planejando sabotar sistemas internos. Agimos rapidamente para impedir que esses funcionários concretizassem o plano, utilizando nossas robustas defesas contra qualquer tipo de ameaça”, escreveu Young no comunicado interno.
“Os funcionários foram imediatamente demitidos e denunciados às autoridades. Todas as evidências serão encaminhadas para as devidas providências e não faremos comentários sobre investigações em andamento”, diz o texto.
O CTO do Nubank complementa o comunicado afirmando “a todos os funcionários do Nubank que qualquer tipo de ameaça ao sistema financeiro é crime federal e deve ser denunciada imediatamente”.
Até este momento, não é possível saber se as novas demissões do Nubank têm alguma conexão com o descontentamento dos funcionários sobre as mudanças no modelo de trabalho. Ao Metrópoles, o Nubank informou que não se manifestará sobre o assunto.
