O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, réu pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, falou por mais de duas horas, durante audiência de instrução realizada na manhã desta quarta-feira (26/11). No depoimento, ele tentou desconstruir a imagem de “réu confesso”, alegou ter sido coagido por policiais e afirmou que o crime abalou sua vida pessoal a ponto de acreditar que seu casamento com a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira “não resistiu” aos acontecimentos.
Renê está preso preventivamente desde agosto, quando foi detido após o disparo que matou Laudemir durante uma discussão de trânsito, em Belo Horizonte. A arma usada no crime pertencia à esposa dele, delegada da Polícia Civil, que não estava presente na cena.
Na audiência desta quarta, o empresário insistiu que jamais confessou o homicídio voluntariamente. Disse que admitiu o disparo apenas porque teria sido pressionado por investigadores, que, segundo ele, ameaçaram envolver sua esposa caso não colaborasse. “Eu falaria o que quisessem”, afirmou ele ao juiz, dizendo ter sido colocado sob “forte pressão psicológica”.
Renê também reclamou da exposição pública, alegando ter sido retratado como um “empresário da Shopee” pela imprensa – a referência, segundo ele, ajudou a cristalizar uma imagem distorcida de sua vida profissional e pessoal.
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Fim do casamento
Outro ponto que chamou atenção foi quando ele afirmou acreditar que seu casamento não resistiu ao episódio. Renê citou o afastamento emocional desde sua prisão e o impacto do caso na vida da esposa. “A gente não resistiu a tudo isso”, declarou, ao comentar a pressão pública e institucional enfrentada pela família.
A audiência desta quarta integra a etapa de oitiva de testemunhas de defesa e do próprio réu. Testemunhas de acusação já haviam sido ouvidas em sessões anteriores.
O empresário responde por homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima e perigo comum — além de porte ilegal de arma de fogo e fraude processual. Somadas, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.
A defesa tenta anular parte das provas, alegando irregularidades na condução das investigações. Um pedido de habeas corpus, apresentado anteriormente, já havia sido negado pela Justiça.
Relembre o caso
O gari Laudemir de Souza Fernandes, de 27 anos, foi morto em 11 de agosto de 2025, após uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte.
Ele trabalhava na limpeza urbana e desceu do caminhão para tentar dialogar com o motorista do carro, Renê da Silva Nogueira Júnior, após um desentendimento na via.
Minutos depois, Laudemir foi atingido por um disparo de arma de fogo e morreu ainda no local.
