Nos últimos 10 anos, o número de salas de aula abertas à noite em São Paulo despencou e complicou a vida dos moradores que desejam voltar para a escola. As turmas noturnas de ensino de jovens e adultos (EJA) diminuíram quase 67% entre 2015 e 2025.
Os dados são de um levantamento feito pelo Metrópoles com base em informações da Secretaria Estadual da Educação. Em 2015, o estado de São Paulo tinha 4.848 turmas de EJA funcionando à noite. Dez anos depois, a quantidade de turmas registrada pela secretaria caiu para 1.606.
Como foi feito levantamento
- Os cálculos foram feitos a partir de dados da Secretaria da Educação disponibilizados via Lei de Acesso de Informação (LAI) sobre o cenário entre os anos 2015 e 2024.
 - Para a comparação com este ano foram utilizadas as informações da rede em setembro de 2025, disponíveis no portal Dados Abertos da Educação, também da própria pasta.
 - A conta leva em consideração turmas abertas em escolas estaduais (EE), escolas estaduais indígenas (EEI) e escolas localizadas em quilombos e assentamentos.
 
Desde 2017, o número de salas de EJA à noite cai ano após ano. Veja o gráfico:
A queda nas turmas noturnas de EJA acontece em meio a um cenário geral de redução do ensino noturno no estado. Como mostrou o Metrópoles, São Paulo perdeu quase 11 mil salas de aula à noite em 10 anos, contando as turmas de ensino regular e EJA – eram 20.392 turmas noturnas em 2015 e 9.459 em setembro de 2025.



Cartaz convida pessoas a se matricularem na escola em 2026 à noite. Segundo mães, faixa foi colocada para incentivar procura e evitar fim do ensino noturno na escola em 2026
Jessica Bernardo / Metrópoles
Escola Brigadeiro Gavião Peixoto tinha mais de 30 turmas de ensino noturno em 2015 e hoje tem apenas 7
Jessica Bernardo / Metrópoles
EE Brigadeiro Gavião Peixoto é uma das maiores do estado
Jessica Bernardo / Metrópoles
EE Brigadeiro Gavião Peixoto fica em Perus, zona noroeste da capital paulista
Jessica Bernardo / Metrópoles
O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que a rede tem registrado uma “redução global no número de matrículas em todos os turnos e ciclos de ensino ao longo dos últimos anos” e que o fenômeno é associado à desaceleração populacional e ao crescimento do ensino profissionalizante e em tempo integral nas classes regulares.
A secretaria afirma ainda que tem adotado “diferentes ações de reengajamento e busca ativa voltadas a jovens trabalhadores e adultos que interromperam a trajetória escolar, com o fortalecimento da modalidade noturna e oferta de modelos flexíveis de ensino”.
A redução das turmas de noturno em São Paulo tem sido acompanhada pelo Grupo de Atuação Especial de Educação (Geduc) do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Leia também
- 
Rede estadual de SP perde 11 mil salas de aula noturnas em uma década
 - 
Grupo quer acionar Justiça contra lei que muda carreira de pesquisador
 - 
Temporal no interior de SP atinge escolas e deixa pessoas desabrigadas
 - 
Gilberto Gil presenteia alunos de escola pública com show em SP
 
Anna Helena Altenfeder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, instituição que desenvolve projetos com foco na melhoria da qualidade na educação pública, diz que as turmas de EJA, de fato, tendem a diminuir na medida em que o acesso e a permanência na escola melhoram.
“O EJA existe em função de prover o direito de educação àqueles que não tiveram escolaridade. Então, imaginando que num cenário onde todos acessam, todos permaneçam e todos aprendam e concluam na idade certa, a demanda por EJA cai”, explica.
A especialista ressalta, no entanto, que a realidade de analfabetismo no país, onde mais de 9,6 milhões de pessoas não sabem ler e escrever, e os dados sobre evasão escolar, ainda altos, mostram que há demanda para a EJA, e acendem um alerta sobre os dados atuais.
“A diminuição não é só em São Paulo, é nacional, e se dá por falta de investimento e de consideração da importância do EJA”, afirma Anna, lembrando que a modalidade de ensino sofreu redução de verba durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em 2024, o Ministério da Educação lançou o “Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos”, com o objetivo de retomar os investimentos na modalidade.

                                    

