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    Escândalo capaz de destruir catedrais (por André Gustavo Stumpf)

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    Paulo Henrique Costa, pernambucano, algo arrogante, que sonhou desembarcar na Faria Lima precedido de boa fama, costumava lembrar que assumiu a presidência do BRB – Banco de Brasília, depois que a Polícia saiu das dependências da instituição, levando junto dirigentes presos. Ele, que veio da Caixa Econômica Federal, saneou o Banco, que era uma espécie de almoxarifado do governo do Distrito Federal e costumava a agradar o governador e alguns apaniguados. Mas, o BRB, de repente, mudou: começou a anunciar na camisa do Flamengo, ao mesmo tempo criou um cartão de crédito com a marca do clube carioca. Foi um sucesso.

    Entrou nos esportes para fixar a imagem do governador Ibaneis Rocha, que era um ilustre desconhecido na Capital da República. Ele nasceu no Piauí, fez a advocacia trabalhista em Brasília, ganhou muito dinheiro e aproveitou um daqueles momentos em que a política não oferece situações definidas. transformou-se em candidato ao governo do Distrito Federal. Injetou muito dinheiro no pleito e venceu as duas eleições consecutivas. Ele é bolsonarista. No episódio de oito de janeiro de 2023 foi afastado por seis meses do governo o GDF, porque na tarde daquele sábado não atendeu os telefonemas de Rosa Weber, a presidente do Supremo Tribunal Federal, que pedia mais tropas para proteger o STF.

    Ele só acordou quando tudo tinha terminado. Ficou seis meses longe de sua cadeira, substituído por Celina Leão, bolsonarista, goiana, que não tinha mais espaço em seu estado. Veio para Brasília e conseguiu se eleger deputada federal, mas o caminho terminou aí. As portas se reabriram para ela como vice-governadora do DF. Ela foi correta e governou em nome do governador afastado sem tentar nenhum golpe. A chapa para próxima eleição está montada. Celina Leão, para governador e Ibaneis Rocha para o Senado. Voltando ao esporte, o GDF patrocina diversos esportes amadores. E promete reabrir o autódromo de Brasília, fechado há onze anos, ainda neste mês.

    Apesar de todos os avisos do Banco Central de que era negócio perigoso, arriscado e cheio de armadilhas, o BRB colocou dinheiro no banco Master. A Polícia Federal acha que a camaradagem abriu a oportunidade de o banco brasiliense colocar mais de R$ 12 bilhões na instituição paulista. Banqueiros não costumam ter amigos. Têm negócios. Camaradagem é algo que não existe nas relações financeiras. Alguém ganhou muito com os aportes do GDF no Banco Master. Um dos sócios, Augusto Lima, marido de Flávia Perez, ex-Arruda, foi preso. Ela tem experiência em realizar visitas íntimas a maridos presos. Foi assim com Arruda. Agora a história se repete com seu mais recente companheiro. A opção é suportar o vexame ou fazer a fila andar.

    O Banco Master viveu dos contatos políticos de sua direção. Ele recebeu investimentos de fundos de pensão de funcionários públicos de prefeituras de 18 cidades brasileiras. A mais comprometida delas é o Rio de Janeiro, cujo instituto de pensões e aposentadorias colocou R$ 970 milhões no banco. O Conselho Consultivo da instituição é um desfile de nomes conhecidos da política nacional. Ricardo Lewandowski deixou o STF em agosto de 23 e ganhou um assento no colegiado. Ficou lá até abril de 2024 quando assumiu o Ministério da Justiça, que mandou prender Daniel Vorcaro, o proprietário do Master, quando ele tentava deixar o país a bordo de um exclusivo jato Falcon Dassault, trireator com capacidade de viajar entre continentes sem reabastecer.

    Durante este tempo foi auxiliado pelo filho Enrique Lewandowski, depois substituído por Viviane Bari, mulher de Alexandre de Moraes. Quem assumiu o lugar de Lewandowski foi Henrique Meirelles, ex-presidente do BC de Lula e ex-ministro da Fazenda de Michel Temer, que também foi contratado por Vorcaro como consultor. O comitê era formado ainda por Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula, e Gustavo Loyola ex-presidente do BC de Itamar Franco e Fernando Henrique.

    Foram tantas as investidas do banco Master e de seu principal controlador em busca de cumplicidade na Praça dos Três Poderes e na avenida Faria Lima que a operação que prendeu Daniel Vorcaro e decretou a liquidação do banco chegou a ser considerada impossível. A Polícia Federal agiu bem e rapidamente. Ao longo de 102 páginas, o procurador Gabriel Pimenta Alves detalha o intrincado esquema de aportes ilegais do BRB no Master e das demais instituições que foram sangradas pelos políticos. Esta é a linha de investigação que, se for levada às últimas consequências, desmontará biografias na direita e na esquerda, no governo e na oposição. Em Brasília, favorece a candidatura ao governo do DF de José Roberto Arruda, que estava longe da política há mais de15 anos. Paulo Henrique Costa, afastado do cargo, repetiu a história: deixou a presidência do BRB com a Polícia na porta.

     

    André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])