Um novo estudo revelou como tumores cerebrais respondem quando o ambiente ao redor deles passa por falta de nutrientes. O material foi publicado na revista PLOS Biology nessa segunda-feira (24/11).
A pesquisa, conduzida por cientistas do Peter MacCallum Cancer Centre, na Austrália, mostrou que o crescimento do tumor não depende apenas das células cancerígenas, mas também de como o cérebro regula a entrada de nutrientes.
Tumores cerebrais crescem rápido porque precisam de um fluxo constante de energia e aminoácidos. Porém, os pesquisadores quiseram entender o que acontece quando essa “matéria-prima” começa a faltar. Para isso, usaram um modelo de drosófila — a popular mosca-da-fruta — que permite observar o comportamento tumoral em situações de escassez.
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A drosófila é um dos organismos mais usados na biologia moderna porque permite manipular genes com precisão e observar, em tempo real, como tecidos inteiros respondem a mudanças no ambiente.
No estudo, a equipe de cientistas conseguiu reproduzir, na larva da mosca, um tumor de células-tronco neurais e observar como ele se comporta quando o organismo enfrenta restrição alimentar.
Os pesquisadores criaram um tumor cerebral manipulando um gene que normalmente controla o desenvolvimento correto dos neuroblastos. Após induzir o tumor, eles dividiram as larvas em dois grupos: um recebendo dieta normal e outro com dieta restrita, reproduzindo um ambiente de escassez.
Cientistas usam mosca para entender como tumores cerebrais reagem a nutrientes
A barreira hematoencefálica da drosófila — formada por células gliais — foi marcada para que os cientistas conseguissem medir a atividade de um transportador essencial: o Path (Pathetic), responsável por levar aminoácidos até o cérebro.
Com as moscas sob diferentes condições nutricionais, o grupo avaliou a quantidade de Path na barreira, o volume do tumor, a proliferação celular e a atividade de vias metabólicas importantes, como mTOR, que dependem da chegada de aminoácidos para sustentar o crescimento tumoral.
O que a pesquisa descobriu
As análises mostraram que, em cérebros saudáveis, a barreira hematoencefálica aumenta a atividade do transportador Path quando falta nutriente, como uma forma de compensação. Mas nos cérebros com tumor ocorre o oposto: a barreira reduz a expressão de Path justamente no momento em que os nutrientes diminuem.
Essa redução corta parte do suprimento de aminoácidos essenciais, diminuindo a ativação de vias metabólicas que alimentam a multiplicação das células tumorais. O tumor, sem esse fluxo constante de matéria-prima, desacelera.
Quando os cientistas forçaram o aumento de Path por manipulação genética, mesmo em ambiente pobre em nutrientes, o tumor voltou a crescer mais rápido. Isso reforça que o transportador é um ponto-chave no controle tumoral.
Na prática, o cisto funciona como uma fábrica que precisa de insumos para manter seu ritmo. A barreira hematoencefálica foi o portão de entrada desses insumos. Em situação de escassez, ela decide diminuir a abertura desse portão ao redor do tumor. Menos entrada de aminoácidos significa menos material para multiplicação, e o tumor perde velocidade.
Os pesquisadores destacam que ainda é cedo para afirmar se o mesmo mecanismo acontece em humanos, mas o achado revela uma nova forma de enxergar o câncer cerebral: não apenas como um problema das células tumorais, mas também do ambiente que as alimenta.
Se for possível identificar transportadores equivalentes ao Path em humanos, terapias futuras poderiam explorar esse controle de nutrientes como estratégia para desacelerar tumores cerebrais.
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