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Ex-delegado morto tinha rascunho com denúncia de fraude em licitação

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Ex-delegado morto tinha rascunho com denúncia de fraude em licitação

Executado a tiros de fuzil em Praia Grande, no litoral paulista, no dia 15 de setembro, o ex-delegado-geral da Polícia Civil e então secretário do governo municipal Ruy Ferraz Fontes mantinha em seu notebook o rascunho de uma denúncia ao Ministério Público de São Paulo (MPSP). No texto não finalizado, ele relatava suspeitas de fraude em procedimentos licitatórios e lavagem de dinheiro na prefeitura da cidade litorânea que, segundo anotou, envolveriam servidores públicos e empresários.

Depois que o rascunho foi localizado, o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) considerou indispensável apurar se a atuação funcional de Ruy na prefeitura tinha relação com o homicídio, de acordo com o relatório final do inquérito, finalizado no último dia 13 e ao qual o Metrópoles teve acesso.

Embora o documento também aponte a participação de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) na execução — ainda que com a possibilidade aberta de terem sido contratados por alguém —, o departamento de homicídios decidiu, diante da denúncia sobre fraude, determinar medidas cautelares em relação a alguns servidores municipais. O objetivo era “verificar a existência ou não de vinculação na morte de Ruy Ferraz com sua atuação na prefeitura”.

Veja imagens do crime captadas por câmeras de monitoramento:

Por conta disso, um segundo inquérito foi aberto — desta vez no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) — exclusivamente para investigar possíveis fraudes em licitação e lavagem de dinheiro com origem na administração municipal.

Esse desdobramento mostra que a Polícia Civil, ainda que com o PCC no foco da investigação, considerou relevante a hipótese de crime relacionado à atividade do ex-delegado na Prefeitura de Praia Grande. Prova disso é que, em outubro, cinco servidores municipais foram alvos de mandados de busca e apreensão, incluindo Sandro Rogerio Pardini, subsecretário de Gestão e Tecnologia.

Já em relação ao PCC, o inquérito policial indica que o envolvimento da facção na execução seria uma retaliação à atuação de Ruy Ferraz contra o grupo criminoso na época em que ele chefiou a Polícia Civil, entre 2019 e 2022.

Como revelado pelo Metrópoles, uma reunião da “Sintonia dos 14” — célula da organização criminosa que atua como uma espécie de conselho deliberativo — em março de 2014, “sentenciou” o então delegado-geral à morte. A versão de que a principal facção do país está por trás da execução de Ruy Ferraz é compartilhada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Servidores municipais prestaram depoimento

A linha de investigação sobre as atividades de Ruy Ferraz na prefeitura considera, além do rascunho encontrado, depoimentos de funcionários municipais à época do crime. Eles contaram que o ex-delegado vinha atuando de forma incisiva em setores onde tramitavam processos administrativos sensíveis. Parte das testemunhas relatou ter conversado com ele sobre rotinas internas e procedimentos licitatórios.

Um engenheiro da prefeitura identificado como Rodrigo Orlando declarou ter tratado com os investigadores sobre “determinadas circunstâncias de licitações que estavam em trâmite na prefeitura”, como consta no processo.

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Outros funcionários de planejamento, tecnologia e integração de informações também prestaram depoimento, indicando que o ex-delegado-geral havia se aprofundado em fluxos considerados estratégicos para o controle de gastos públicos.

“[Ruy pode ter] embaraçado situações recentes durante sua atuação na administração municipal, o que possa [sic] ter acarretado nesta ação praticada com extrema violência”, diz trecho de parecer do DHPP sobre o assassinato.

Para a polícia, pode ter havido uma interferência direta de Ruy Ferraz em interesses suspeitos dentro do governo local.

Oito denunciados pelo MPSP

Para além do relatório policial, o MPSP denunciou, na sexta-feira (21/11), oito pessoas pelo assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil.

A denúncia foi formalizada através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e imputou aos oito suspeitos os crimes de homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, favorecimento pessoal e organização criminosa armada.

De acordo com o MPSP, os alvos da denúncia começaram a planejar o crime em março de 2025, com roubo de veículos, aquisição de armas e definição de imóveis usados para apoio logístico. No dia da execução, eles emboscaram a vítima na saída da Prefeitura de Praia Grande e fizeram diversos disparos com fuzis. Após a execução, os criminosos atearam fogo em um dos veículos utilizados e se dispersaram.

A complexa logística teria que ter sido planejada há vários meses, o que aponta, segundo o MPSP, para uma ação do crime organizado. Para os promotores, portanto, o mando do crime seria realmente do PCC.

Trecho da denúncia cita, inclusive, o episódio da “sintonia dos 14” em 2019 e infere que, “uma vez emitida a ordem” da facção criminosa, “ao menos desde o mês de março de 2025 ela foi assumida” pelos investigados.

Veja quem são os denunciados:

A defesa dos suspeitos não foi localizada pelo Metrópoles. O espaço segue aberto para manifestações.

Executado com armas de guerra

A execução de Ruy Ferraz Fontes, registrada às 18h16 de 15 de setembro, teve precisão de ataque preparado. A vítima havia deixado a prefeitura minutos antes, em seu carro, quando foi perseguida pelo veículo dos assassinos, do qual tentou fugir. O relatório policial descreve que “os autores portavam armamento de guerra com elevado poder destrutivo”.

Após a colisão do carro do ex-delegado-geral com dois ônibus, os criminosos desceram e fizeram “novos e incessantes disparos, de forma coordenada”, anulando qualquer possibilidade de defesa.

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A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes

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O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes

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O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes

Valentina Moreira/Metrópoles

O modo de ação rápido, organizado, com fuga apoiada em veículos roubados e incendiados, reforçou as suspeitas contra o PCC.

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