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Ex-testemunhas de Jeová vão a cemitérios protestar contra a religião

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Ex-testemunhas de Jeová vão a cemitérios protestar contra a religião

Ex-testemunhas de Jeová aproveitaram o feriado de Dia de Finados nesse domingo (2/11) para protestar contra a religião em cemitérios de diferentes cidades do Brasil. Membros do Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ) realizaram manifestações em São Paulo, Campinas, Brasília, Curitiba e Goiás.

De acordo com o movimento, eles denunciam a doutrina da discriminação que causa isolamento e “morte social” aos ex-membros, que decidiram sair da religião. Na ocasião, ativistas levaram placas e faixas para sensibilizar os governos e autoridades sobre os prejuízos sociais e mentais causados por práticas antigas da religião, afirmou o MAV-TJ.

Eles citam, por exemplo, expulsão pública de “pecadores”, no palco da igreja, o que causa constrangimento e infringe a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), além da discriminação de ex-fiéis, “incentivada pelas publicações da igreja e que podem causar suicídio, depressão e ansiedade pelo corte abrupto de relações familiares”.

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Manifestantes se reuniram em cidades como São Paulo, Campinas, Brasília e Curitiba

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Ex-testemunhas de Jeová foram a cemitérios em diferentes cidades do Brasil protestar contra a discriminação que a religião impõe a ex-membros

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A saída da igreja impõe o corte nas relações com quem ainda segue a religião, o que inclui a quebra de laços familiares

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Os ex-membros da igreja se reuniram em uma associação chamada Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ)

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Eles citam a proibição de transfusão de sangue em quadros emergenciais e a exposição pública de ex-membros

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Eles chamam o isolamento imposto de “morte social”

Divulgação: MAV-TJ

Ex-testemunhas de Jeová são excluídos

Conforme os membros do movimento, todas as Testemunhas de Jeová do país são orientadas a encerrar a convivência com quem é removido da religião – seja um ex-membro, ou um fiel expulso ou desassociado. “Nesses casos, nós paramos de ter convivência com a pessoa”, disse uma porta-voz.

A orientação, veiculada em revista intitulada A Sentinela, publicada em maio deste ano, inclui fundamentação bíblica para discriminar ex-membros, denuncia o MAV-TJ. “Quando cortamos contato com quem foi removido, na verdade, estamos sendo bondosos”, impõe a norma da religião.

O conteúdo direcionado aos adeptos da fé menciona ainda que o contato com um ex-membro só deve ser retomado quando a pessoa voltar para a igreja. “E se ela voltar, vamos ficar extremamente felizes, junto com Jeová e os anjos”, determina a crença.

São Paulo

Em São Paulo, ex-testemunhas de Jeová se encontraram no cemitério da Consolação, na região central da capital paulista. Lá, eles protestaram contra a apologia ao que chamam de “morte social” de ex-membros, que passam a ser considerados “apóstatas” (pessoas perigosas para os que permanecem dentro das congregações).

“Além de proibirem transfusão de sangue em quadros emergenciais, as  Testemunhas de Jeová também causam ‘morte social’ e discriminação a ex-membros, por meio de suas publicações e site oficial” disse Yann Rodrigues, líder do movimento.

Para ele, é “inadmissível que, em 2025, uma religião escreva e distribua em território brasileiro, a revista A Sentinela com a orientação de que ‘cortar contato com ex-membros familiares ou amigos é ato de bondade de Jeová’”.

“Isso é apologia à discriminação e há anos tem causado rupturas familiares, que levam a mortes, suicídios, depressão e quadros de ansiedade entre os que saem da religião americana”, destacou.

Yann ressaltou que não é contra a religião, “mas contra as doutrinas que causam mortes sociais e prejuízos sociais e mentais”.

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Brasília

Já em Brasília, a manifestação aconteceu no cemitério de Taguatinga, no Campo da Esperança, no bairro Campo da Esperança.

O ato foi liderado por Lara do Prado, de 28 anos. Ela cresceu dentro da religião, e se considera “vítima da doutrina extremista”. Isso porque a jovem perdeu o contato com a mãe, irmãs e amigos da religião ao sair da igreja em 2021.

“Perdi o convívio com todos da religião, pessoas que me viram nascer e crescer e eram meus amigos, e perdi o contato com minha mãe, pois os familiares também são orientados a evitar e ignorar quem saiu da religião, como uma maneira de fazer a pessoa voltar. Tive que reconstruir meu ciclo social do zero, mas ainda sofro os efeitos emocionais da morte social que me causaram”, desabafou.

Curitiba

Em Curitiba, capital paranaense, uma manifestação foi realizada no cemitério da Paróquia de Santo Antônio, no bairro Orleans. Ativistas se reuniram ali para protestar contra a doutrina da discriminação a ex-membros.

O ato foi coordenado por Luiz Mar Nunes e a esposa dele, Sheila Czelusniak, 46, ex-Testemunha de Jeová que há mais de cinco perdeu contato com a filha mais velha, com o pai, madrasta, dois irmãos, duas tias, primos e primas. Todos permanecem fiéis à igreja. “Eu não morri. Estou morta em vida. É uma ‘morte social’, um luto sem funeral”, diz Sheila.

Sheila é uma das fiéis que foi exposta à comunidade religiosa ao decidir sair da igreja. Ela contou que, ao escrever uma carta para oficializar a saída da denominação americana, sinalizou que não queria que os dados fossem vazados no palco da assembleia,o que não adiantou. “Eles anunciaram o nosso nome para toda a assistência da reunião, mesmo com a Lei de Proteção de Dados vigente, no país”, relatou.

“Decidimos fazer esse ato simbólico para alertar as pessoas que esta doutrina é letal para as famílias, que podem ser despedaçadas, caso alguém decida não seguir a igreja. Nosso objetivo é lutar pelos nossos direitos fundamentais e garantir que qualquer pessoa saia de qualquer denominação sem punições”, explicou a ex-testemunha de Jeová.

O Metrópoles procurou representantes da religião para comentar o protesto e aguarda retorno.

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