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    Família Bolsonaro sai de cena e o jogo muda (por Leonardo Barreto)

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    Neste final de semana, uma pergunta desafiou analistas. Afinal, a prisão de Jair Bolsonaro terminou ou começou um processo político?

    Por todos os ângulos que se olhe, a questão da tornezeleira eletrônica revela a incapacidade que o ex-presidente tem de perceber a realidade, fixar objetivos e construir estratégias. Estando em surto ou não ao tentar romper a tornozeleira, Bolsonaro tem suas faculdades colocadas em dúvida.

    Isso não muda o fato de que tudo o que o ex-presidente Jair Bolsonaro faz tem repercussão e influência sobre 2026. Mas serve para moderar as expectativas a respeito do protagonismo que ele pode ter no futuro imediato.

    Hoje, a aparição e Bolsonaro tem influência positiva para Lula no cenário de reeleição.

    No primeiro semestre de 2026, a popularidade do presidente Lula estava nas cordas, com 28% de avaliações ótimas ou boas. O mínimo para ser competitivo na busca pela reeleição é 30%.

    Foi só crescer a sombra do bolsonarismo que o jogo inverteu o sinal: anistia, tarifaço dos EUA e PEC da blindagem trouxeram Lula de volta para o patamar competitivo, embora no seu limite mínimo (31%).

    A questão da tornozeleira e da prisão levarão o PL a retomar o tema da anistia na Câmara, o que é bom para o petista, especialmente se tirar o tema “segurança pública”, que tanto gera desconforto para o governo, da pauta.

    Entretanto, a influência de Bolsonaro no processo político se tornará cada vez mais incidental e indireta, ou seja, ele vai se tornar mais um contexto, uma agenda de políticas públicas, do que um ator.

    A questão da anistia não será mais debatida para recolocar Bolsonaro no jogo, mas como um tema de atenção humanitária. A polarização se reorganizará em torno de pautas, como mostra a questão da segurança pública, em não mais a partir de perfis antagonistas, pelos menos não até os candidatos serem oficializados.

    A direita não bolsonarista – ou todos os setores que não são petistas – irá estruturar seu projeto sem depender do aval do ex-presidente. Há condições novas de jogo e não vai tardar o momento em que o mundo político as reconheça.

    Prisão de Bolsonaro encerrou um ciclo. A roda girou a nova história que se abriu não tem o ex-presidente no seu centro.

     

    Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela UnB