Reunidos em uma “plenária virtual” promovida pelo Sindicato dos dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, na noite dessa quarta-feira (12/11), funcionários do Nubank divulgaram um manifesto contra as demissões anunciadas pela fintech na semana passada e cobraram da direção da empresa a “recontratação imediata” dos profissionais demitidos.
Segundo informações do sindicato, quase 300 pessoas participaram da reunião virtual para discutir a crise no Nubank. A companhia demitiu 12 funcionários na última sexta-feira (7/11) depois de reações negativas e até mesmo revolta durante uma reunião na qual a empresa anunciou o fim do modelo de trabalho quase 100% em home office e a adoção do formato híbrido a partir do ano que vem.
Segundo a empresa, a partir do dia 1º de julho de 2026, pelo menos 70% dos funcionários terão de comparecer ao escritório do Nubank para trabalhar presencialmente dois dias por semana. A quantidade de dias presenciais aumentará para três por semana a partir de 1º de janeiro de 2027. Atualmente, os funcionários do Nubank comparecem ao escritório apenas durante uma semana por trimestre.
A mudança já havia sido anunciada em um e-mail assinado pelo CEO do Nubank, David Vélez. Na mensagem, o executivo admite que a empresa estava ciente de que poderia haver uma “disrupção para parte dos funcionários” com o novo formato de trabalho. Vélez foi duramente criticado nas redes sociais e chegou a responder a um comentário de um ex-funcionário no LinkedIn.
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Como foi a “plenária virtual”
De acordo com o Sindicato dos Bancários, “os relatos dos trabalhadores foram unânimes quanto à insatisfação com a mudança de regime de trabalho” do Nubank.
Outro ponto abordado, diz a entidade, “foi a forma como a mudança foi comunicada pelo Nubank, sem que fosse apresentada aos trabalhadores qualquer justificativa amparada em dados para a mudança de regime de trabalho”. “Cabe ressaltar que a mudança no modelo de trabalho não foi negociada com o sindicato. Na mesma data em que foi anunciada aos trabalhadores, a direção do Nubank se reuniu com o sindicato e apresentou a sua decisão, comprometendo-se a realizar reuniões periódicas com a entidade”, afirma o sindicato.
“O sindicato deixa claro que não aceitará retaliação por conta de manifestações dos trabalhadores pelo descontentamento com o fim do modelo 100% home office. É uma mudança grave, que precisa de diálogo. Os trabalhadores têm que ser ouvidos. Esperamos que, a partir de agora, o Nubank esteja disposto a ouvir as reivindicações que serão apresentadas nas mesas de negociação”, defendeu a presidente da entidade, Neiva Ribeiro.
Ainda de acordo com o sindicato, novas plenárias podem ser convocadas para discutir o assunto nos próximos dias. A entidade informou ainda que foi marcada uma reunião com a direção do Nubank na próxima quarta-feira, dia 19 de novembro.
O que diz o manifesto
No manifesto divulgado por funcionários, com o apoio do Sindicato dos Bancários, o grupo afirma que, “em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho”. “Oficialmente, 14 demissões por justa causa – um número inédito e alarmante – somadas a diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores”, diz o texto.
“É inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva, ignorando a opinião de mais de 90% da empresa segundo a própria Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira”, afirmam os funcionários.
Leia a íntegra do manifesto contra as demissões no Nubank:
Carta aberta dos trabalhadores organizados do Nubank ao CEO e M-Team
“Os trabalhadores organizados de todas as entidades legais do Nubank (Nu Asset, Nu Commerce, Nu Crypto, Nu Financeira, Nu Invest, Nu Pagamentos, Nu Pay, Nu Signals, Nu Tech e Olivia) e de todos os países atuantes (Brasil, Colômbia e México) vêm através desta carta manifestar seu repúdio:
- Ao fim unilateral do modelo remoto e a imposição do trabalho presencial a partir de 2026;
- A às advertências e demissões retaliatórias de funcionários do Nubank que manifestaram seu legítimo descontentamento frente a uma decisão que impôs a todos uma drástica mudança em sua realidade de trabalho sem qualquer negociação prévia.
Em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho. Oficialmente, 14 demissões por justa causa – um número inédito e alarmante – somadas a diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores.
Em poucos anos, o Nubank cresceu de 25 milhões para mais de 100 milhões de clientes, superando US$20 bilhões de lucro líquido, consolidando-se como uma das maiores histórias globais de sucesso e como o maior banco da América Latina.
Esse resultado é fruto do trabalho de equipes remotas, diversas e comprometidas, que entregaram crescimento, inovação e eficiência à distância em um modelo de trabalho que já contempla períodos presenciais de uma semana a cada três meses e impulsiona a cultura, colaboração e o fortalecimento das equipes. Essas equipes têm orgulho da empresa que construíram, dos resultados que entregaram, de dia após dia construir a marca mais valiosa do Brasil e um dos melhores bancos do mundo, segundo a Forbes.
Por isso, é inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva, ignorando a opinião de mais de 90% da empresa segundo a própria Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira.
Não nos concentraremos aqui no fato que o trabalho remoto não reduz a produtividade. As evidências são claras e o próprio Nubank admitiu. Cabe mencionar que políticas de RTO reduzem a satisfação média dos trabalhadores e provoca saída em massa de profissionais qualificados, sobrecarregando os que ficam. Cuidadores familiares (especialmente mulheres), pessoas com deficiência e neurodivergentes são ainda mais afetadas por essas mudanças, causando impacto desmesurado no seu desempenho profissional e qualidade de vida. Por fim, deslocar trabalhadores para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro implica em uma perda de renda real e no decréscimo da qualidade de vida dos trabalhadores.
Portanto, com nossos direitos constitucionais a manifestação e a livre organização, viemos exigir:
- A REVERSÃO DO RTO, com abertura de negociação entre a empresa, seus trabalhadores e a representação sindical.
- Fim da PUNIÇÃO e RECONTRATAÇÃO IMEDIATA de todos os demitidos por expressarem de forma justa a sua indignação por tamanho impacto nas nossas vidas e nosso trabalho.
Convocamos todes funcionários do Nubank a se somarem nessa luta.”
Entenda o caso
Na última quinta-feira (6/11), o Nubank promoveu uma reunião da qual participaram cerca de 7 mil dos 9,5 mil funcionários da companhia – a maior parte deles participou do encontro remotamente, via Zoom. Alguns funcionários reagiram de forma contrária à mudança no formato de trabalho, e a reunião foi marcada por momentos de maior rispidez entre os participantes, inclusive com alguns insultos e linguajar agressivo.
O caso foi analisado pelo Comitê de Conduta do Nubank. No dia seguinte, em um outro e-mail, a empresa anunciou a demissão de 12 funcionários. “Foi uma decisão difícil, mas nós impusemos um limite do que é desrespeito e agressão”, informou a mensagem do Nubank.
De acordo com o órgão interno que analisou o comportamento dos funcionários na reunião, houve elementos que justificaram as demissões por justa causa. O banco digital anunciou ainda que “muitos outros funcionários vão receber advertências por escrito”.
Em um fórum de discussão interno, alguns funcionários do Nubank alegaram que moram longe das cidades nas quais há escritórios da empresa e que foram pegos de surpresa com o anúncio da direção. Outros também reclamaram de uma suposta falta de representatividade de pessoas de fora do Sudeste na instituição financeira, dizendo que a mudança no formato de trabalho prejudica mais aqueles que moram fora de São Paulo.
O que disse o Nubank sobre as demissões
O Nubank disse aos funcionários que irá expandir seus escritórios para atender ao aumento do número de pessoas que trabalharão presencialmente. A companhia conta com duas unidades em São Paulo, uma na Cidade do México e uma em Bogotá (Colômbia).
O Nubank tem ainda três espaços para networking e capacitação, os chamados “hubs de talentos”, em Montevidéu (Uruguai), Berlim (Alemanha) e Durham (EUA).
A companhia pretende inaugurar novos escritórios em Campinas (SP), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Buenos Aires (Argentina), Washington (EUA), Miami (EUA) e Palo Alto (EUA).
Segundo a fintech, algumas funções continuarão sendo exercidas remotamente “devido à natureza de seus trabalhos exigir pouca ou nenhuma interação com outras equipes”. Entre esses cargos, estão profissionais de atendimento ao cliente, profissionais de investimentos, ouvidoria, rotuladores de dados, investigadores de crimes financeiros, profissionais de soluções regulatórias e profissionais de recursos humanos.
Procurado pela reportagem do Metrópoles, o Nubank afirmou, por meio de nota, que “trabalha para preservar canais e rituais abertos para o livre debate entre seus funcionários, mas não tolera desrespeito e violações de conduta”. “O Nubank não comenta casos individuais de desligamento”, diz o comunicado.
Mais 2 demissões por tentativa de sabotagem
Como se não bastasse a crise deflagrada pela insatisfação de parte dos funcionários com as mudanças anunciadas, o Nubank também demitiu mais dois profissionais de sua equipe que teriam tentado sabotar os sistemas internos da companhia.
Em mensagem direcionada aos funcionários do Nubank, à qual a reportagem do Metrópoles teve acesso, o CTO da fintech, Eric Young, informou que ambos os funcionários “foram imediatamente demitidos e denunciados às autoridades”. O caso está sob investigação policial.
“Durante nossas operações regulares de Segurança da Informação, detectamos que dois funcionários estavam planejando sabotar sistemas internos. Agimos rapidamente para impedir que esses funcionários concretizassem o plano, utilizando nossas robustas defesas contra qualquer tipo de ameaça”, escreveu Young no comunicado interno.
“Os funcionários foram imediatamente demitidos e denunciados às autoridades. Todas as evidências serão encaminhadas para as devidas providências e não faremos comentários sobre investigações em andamento”, diz o texto.
O CTO do Nubank complementa o comunicado afirmando “a todos os funcionários do Nubank que qualquer tipo de ameaça ao sistema financeiro é crime federal e deve ser denunciada imediatamente”.
Até este momento, não é possível saber se as novas demissões do Nubank têm alguma conexão com o descontentamento dos funcionários sobre as mudanças no modelo de trabalho. Procurado pelo Metrópoles, o Nubank informou que não se manifestará sobre o assunto.
