O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (12/11), ao participar de um evento promovido por uma instituição financeira em São Paulo, que a autoridade monetária não vem emitindo “sinais” a respeito de suas decisões futuras e tem o único compromisso de levar a inflação no país de volta à meta anual de 3%.
As declarações de Galípolo foram dadas na abertura do Fórum de Investimentos 2026 – Tendências Globais para os Investimentos, promovido pela Bradesco Asset Management, na capital paulista. Mais cedo, o chefe do BC concedeu entrevista coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF).
“É reforçar o que tem sido a postura do Copom [Comitê de Política Monetária do BC]. É um comitê que não tem nenhuma intenção de operar o mercado e tentar conduzir alguma coisa nesse sentido. Temos tido simplesmente a humildade de reconhecer que estamos em um ambiente de incerteza bastante elevada. E a recomendação é sempre a de um BC dependente de dados”, afirmou Galípolo.
Na última reunião do Copom, na semana passada, a autoridade monetária manteve os juros inalterados, em 15% ao ano. O Brasil tem a quarta maior taxa nominal de juros do mundo e é o vice-líder no ranking global dos juros reais (a taxa nominal descontada a inflação). O mercado já vem projetando o início do ciclo de corte da Selic para o início do ano que vem.
“Tenho uma visão republicana de que o poder é consentido a quem está ocupando a cadeira, mas é justamente para fazer o poder real obedecer o poder formal. O BC é uma instituição que tem um mandato bastante explícito, que é uma meta de inflação de 3%, e ele tem uma ferramenta para perseguir essa meta, que é a taxa de juros”, explicou Galípolo.
“O que o BC vem fazendo é sempre comunicar e esclarecer como ele está enxergando e o que ele entende que é o necessário a ser feito para perseguir essa meta”, prosseguiu o chefe da autoridade monetária.
Segundo Galípolo, “o BC não está, através da sua comunicação, dando sinais a respeito de qualquer tipo de movimentação futura”. “Estamos recolhendo dados, percebendo como a economia está se desdobrando e vendo como isso está colaborando para que a gente consiga o atingimento da meta”, observou.
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Inflação a caminho da meta?
Na terça-feira (11/11), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados oficiais de inflação referentes ao mês de outubro. No mês passado, o índice ficou em 0,09%, 0,39 ponto percentual abaixo da taxa de setembro (0,48%). No acumulado do ano até outubro, a inflação no Brasil ficou em 3,73%. Em 12 meses, o índice foi de 4,68%, abaixo dos 5,17% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em outubro do ano passado, a variação havia sido de 0,56%.
Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é de 3%. Como há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,5% e 4,5%.
“Os dados vêm mostrando uma progressão, ainda que lenta e gradual, da inflação no sentido de convergência para a meta. É claro que o lento e gradual é bastante incômodo para o BC”, reconheceu Galípolo.
“Por outro lado, esse gradualismo colabora para emagrecer o outro risco, o receio de que se tivesse um declínio mais agudo da economia. O que os dados vêm mostrando é uma economia que está desacelerando, crescendo a taxas menores”, concluiu o presidente do BC.
Juros, inflação e atividade econômica
A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que indicou Galípolo para o BC, elogiou a atuação do chefe da autoridade monetária, mas voltou a defender a redução dos juros e disse que “a dose do remédio” não “pode virar veneno”.
