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Glória Perez revela os desafios de escrever uma novela no Brasil

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Glória Perez revela os desafios de escrever uma novela no Brasil

“O que mais me orgulha é ver essas obras ocupando a memória afetiva das pessoas — e saber que posso inspirar novos autores”, afirmou Glória Perez, na noite dessa quarta-feira (26), durante participação no “Metrópoles Talks – Uma História de Novela”. A autora lotou a Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro.

A abertura do evento contou com a presença da secretária de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Danielle Barros, que reforçou a importância econômica e cultural da teledramaturgia para o estado.

“É uma indústria que gera emprego, renda e movimenta toda a economia criativa do estado. Eventos como este aproximam quem constrói essas histórias de quem as consome”, frisou.

Ela também lembrou o impacto do audiovisual no turismo, o fortalecimento dos espaços culturais e o investimento de mais de R$ 1,5 bilhão em fomento à cultura nos últimos anos.

Como nasce uma novela na cabeça de Glória Perez

Em mais de quatro décadas de carreira, Glória Perez se consolidou como uma das autoras que mais transformou temas sociais em fenômenos culturais.

Glória explicou que uma novela pode surgir de uma imagem, um personagem ou um tema, mas só ganha corpo quando ela entra completamente na história. A autora escreve em pé, por mais de sete horas por dia, sempre com o ambiente organizado e sem escaleta.

“Eu escrevo assistindo à novela dentro da história. Só consigo pensar com a trama em movimento”, contou. Para ela, o processo é intenso e imprevisível: “tudo pode acontecer”.

Quando o público muda o rumo da novela

Em “Caminho das Índias”, Glória planejou dois tipos de amor: o “amor cultivado”, sereno e inspirado na tradição indiana, e o “amor paixão”, explosivo, vivido pela personagem de Juliana Paes.

Convencida de que o público brasileiro escolheria o romance mais intenso, foi surpreendida. “O público comprou o amor cultivado. E aí eu tive que reescrever a história dentro desse novo cenário.”

Como a autora escolhe temas sociais para as novelas

Glória afirmou que escolhe temas que realmente a inquietam e que, muitas vezes, já estão presentes na sociedade, mas passam despercebidos.

Ao criar Ivana, em “A Força do Querer”, ouviu famílias, psicólogos e pessoas trans para construir a trajetória com sensibilidade. “Eu precisava despertar empatia. Todo mundo já sentiu algo parecido ao olhar no espelho e não se reconhecer. Fui por esse sentimento”, explicou.

Temas pioneiros que marcaram a trajetória

Ela abordou o drama da falta de infraestrutura pública com a personagem Sulamita, da novela “Partido Alto”, escrita em parceria com Aguinaldo Silva, contribuindo para consolidar o conceito de merchan social.

Em “Carmem”, tratou da AIDS em um período de extremo preconceito, inspirando-se no caso do ativista Betinho, que contraiu o vírus por transfusão de sangue.

Mais recentemente, em “Travessia”, trouxe à tona os perigos do deepfake e de crimes digitais, relacionando o avanço tecnológico a novos dilemas sociais.

O único tema que ela nunca conseguiu levar ao ar

Embora tenha explorado assuntos sensíveis durante toda a carreira, Glória nunca pôde abordar o aborto — no recorte que considera mais urgente.

Segundo ela, muitos feminicídios noticiados pela imprensa envolvem mulheres mortas após recusarem pressões dos parceiros para interromper uma gravidez.

“Vejo casos assim todos os dias. É uma realidade dura da violência contra a mulher”, expôs. Para a autora, o tema renderia “uma novela poderosa”.

A crítica ao politicamente correto e à autocensura

Glória afirmou que o ambiente artístico mudou com o medo do cancelamento.

“A humanidade não é politicamente correta. Exigir que a arte seja é não retratar a vida como ela é”, ponderou.

Para ela, a censura contemporânea é mais perigosa do que a da ditadura, porque agora “mora dentro da cabeça do autor”.

Segundo Glória, autores e artistas que antes eram incentivados a ousar hoje são levados a “encolher as asas”.

O futuro da novela brasileira

Para Glória, o formato perdeu força ao deixar de dialogar com o contemporâneo e ao competir com múltiplas telas. “Hoje tudo é pelo celular. O público é imediatista.”

Ela acredita que as novelas precisam de temas de grande impacto, capítulos mais curtos e narrativas ágeis para reconquistar espaço.

“A novela brasileira já foi a melhor do mundo. E pode voltar a ser”, declarou.

Metrópoles Talks

O Metrópoles Talks é o braço de palestras do maior portal de notícias do Brasil, um espaço no qual mentes brilhantes compartilham ideias, experiências e visões capazes de inspirar e provocar reflexões profundas. Desde a criação, o projeto tem reunido personalidades de diferentes áreas, proporcionando encontros que unem conhecimento, trajetória e diálogo com o público.

No Rio de Janeiro, a série de eventos conta com o patrocínio do Governo do Rio de Janeiro. O antropólogo Michel Alcoforado, autor do best-seller “Coisa de Rico”, foi o convidado, na segunda-feira (24/11), para falar sobre o modo de vida, os hábitos de consumo e as inseguranças dos super-ricos no Brasil. Já na terça-feira (25/11), a maior jogadora da história do basquete brasileiro, Hortência Marcari, emocionou o público com histórias de disciplina e superação da vitoriosa carreira.

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