O Planalto está dividido sobre escalar ou não o embate entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Enquanto isso, o líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), conta com apoio expressivo na bancada, afirma que seguirá defendendo os ideais do partido, reclamou sobre as escolhas do colega e se prepara para novos enfrentamentos nesta terça-feira (25/11). A temperatura da briga será dada durante o dia.
Na Câmara, haverá um encontro de bancada do PT, onde o partido deverá discutir a disputa e fechar questão contra a anistia ao 8 de Janeiro e qualquer benefício aos envolvidos na tentativa de golpe. A maior parte da bancada corrobora Lindbergh na contenda com Motta, e mesmo os que discordam da postura entendem que pior seria não apoiá-lo neste momento. Em seguida, há também a reunião do Colégio de Líderes, onde os deputados rompidos estarão frente a frente.
“Vou para a reunião do colégio de líderes. Não é um clube de amigos de Motta. Os amigos dele são [o senador] Ciro Nogueira (PP-PI) e o [ex-deputado] Eduardo Cunha. (…) Se tiver um ponto ruim, vou criticar”, afirmou Lindbergh ao Metrópoles. O deputado citou embates, como o da PEC da Blindagem e do IOF, que renderam a Lula vitórias na opinião pública, como exemplos de vezes em que se opôs ao presidente da Câmara e saiu vitorioso.
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O presidente da Câmara, Hugo Motta
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Guilherme Derrite em conversa com Hugo Motta
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Gil Ferreira/SRI
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Hugo Motta e Lula
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Lula, Hugo Motta e Davi Alcolumbre
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Hugo Motta, presidente da Câmara, durante votação da derrubada do decreto do IOF
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto
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Lindbergh Farias (PT)
KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo
Nesta terça, Lula também retorna a Brasília após uma viagem à África. O petista será orientado pelos auxiliares e deve bater o martelo sobre qual caminho será trilhado pelo governo. A expectativa é que o clima na Câmara siga quente. Uma ala expressiva do governo entende o embate como algo positivo na política, após a série de vitórias diante da opinião pública.
Por enquanto, restam ao presidente Lula duas pontes formais com Motta: o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Ambos foram articuladores do apoio de Lula ao deputado paraibano na corrida pela presidência da Casa.
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Segundo interlocutores de Motta, Guimarães mantém uma ponte mais sólida com ele. É esperada uma conversa em separado dos dois em breve. Já a relação com Gleisi ficou abalada, mas ainda existe em bons termos. A ministra é a articuladora política do governo Lula e deputada licenciada. Até o momento, conforme o apurado pela reportagem com pessoas próximas, ela ainda está avaliando o cenário e não interviu.
O governo avalia que Motta rompeu a corda quando indicou o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o projeto de lei que endurece o combate às facções criminosas, o chamado PL Antifacção. A proposta foi gestada pelo Planalto, mas o presidente quis dar a relatoria para o bolsonarista, que não exercia o mandato, até então, por ser secretário de Segurança Pública do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
O parlamentar, inicialmente, fez uma série de mudanças na proposta, incluindo a retirada de recursos da Polícia Federal (PF). Motta afirmou publicamente que o governo errou ao votar contra, indicando que o Planalto deveria ter orientado voto “sim” e apresentado um destaque para discutir especificamente a verba para o órgão.
Impacto
O climão generalizado no Congresso – Lula também está em maus termos com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) – deve cobrar seu preço em projetos de interesse do governo. A avaliação é de que o desenho do Orçamento de 2026 não deve ser impactado diretamente, mas há temor de que ele não seja votado a tempo.
Há, no entanto, uma série de propostas do governo que podem não ser votados diante da crise. Há a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reformula o setor da Segurança Pública e o projeto que endurece as regras para o chamado devedor contumaz, por exemplo.
Nessa segunda, o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que o governo já trabalha com um cenário de que o Congresso deixará caducar a Medida Provisória do Brasil Soberano. A chamada “MP do Tarifaço”, que socorre empresas afetadas pela sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos ao Brasil, perde a validade no dia 11 de dezembro, e segue sem perspectiva de votação no Congresso.
De acordo com Alckmin, uma nova MP com o mesmo teor poderá ser enviada ainda este ano, para análise somente em 2026. “Talvez até no final de dezembro, o pessoal do jurídico está avaliando. Mas, se não for no final de dezembro, é no comecinho de janeiro. Mas o ideal é que realmente tivéssemos aprovação”, afirmou Alckmin.
