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    “Guerra” da segurança pública devolve Tarcísio à corrida presidencial

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    Aliados do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), avaliam que a disputa política em torno do tema de segurança pública, desencadeada após a megaoperação policial no Rio de Janeiro, recolocou o governador de São Paulo na corrida para se candidatar à Presidência da República em 2026.

    De acordo com políticos do entorno de Tarcísio, o principal fator que gerou um recuo nas pretensões presidenciais do governador era a recuperação da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a maré de boas notícias que vivia o petista.

    Nos últimos meses, Lula conseguiu se aproximar do presidente norte-americano Donald Trump para negociar o tarifaço, viu o projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro perder tração e conseguiu aprovar no Congresso a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, o que será uma bandeira na campanha de reeleição de Lula.

    No entanto, desde a megaoperação policial realizada contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, na semana passada, o tema da segurança pública gerou uma agenda negativa para o governo Lula, segundo aliados de Tarcísio, algo que não acontecia há tempos.

    Críticas a Lula

    O tema é visto como o “calcanhar de aquiles” da esquerda e do PT. Além disso, opositores de Lula resgataram uma fala recente em que o petista classifica os traficantes como “vítimas” dos usuários de drogas.

    Em que pese a alta aprovação popular demonstrada em pesquisas de opinião, a operação no Rio foi alvo de críticas de Lula, que chamou a ação de “matança” e defendeu que a Polícia Federal investigue os métodos usados pela polícia fluminense, o que também desencadeou críticas da oposição.

    A operação deixou ao menos 121 mortos, sendo quatro polícias, a mais letal da história do país. De acordo com o governo do Rio de Janeiro, 95% das vítimas teriam ligação com o Comando Vermelho. Por outro lado, a principal liderança da facção em liberdade, Edgard Alves de Andrade, o Doca, não foi encontrado durante a operação.

    “A decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança e houve uma matança. Eu acho que é importante a gente ver em que condições ela se deu”, afirmou Lula na última terça-feira (4/11).

    Nos dias seguintes à operação, governadores de direita passaram a classificar a ação como um sucesso e saíram em apoio ao governador do Rio, Cláudio Castro (PL). Dois dias depois da incursão policial nos complexos do Alemão e da Penha, os governadores de oposição a Lula formaram uma coalizão chamada de “consórcio da paz”, em reunião realizada na capital do estado vizinho, na qual Tarcísio participou por videochamada.

    Criminoso não é vítima da sociedade. O Estado precisa cuidar do cidadão de bem, de quem trabalha e faz este país crescer. É hora de endurecer as leis. As facções e organizações que tanto mal causam à população devem ser reconhecidas pelo que realmente são: terroristas. pic.twitter.com/cFtZjyBNAu

    — Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) October 30, 2025

    No encontro, Tarcísio afirmou que “não agir seria covardia” e que a operação teria tido o cuidado de afastar os criminosos da região onde as pessoas moram. Durante a fala, publicada em seu perfil oficial nas redes sociais, o governador citou exemplos do que definiu como avanços na segurança pública de São Paulo, como o enfrentamento da Cracolândia e do crime organizado no setor de transportes e combustíveis.

    “Isso é terrorismo”

    Paralelamente, o governador paulista também passou a defender que grupos como o PCC e o Comando Vermelho passem a ser classificados como terroristas. A reclassificação é tema de um projeto de lei que passou a ser endossado por bolsonaristas em resposta ao episódio da segurança no Rio.

    “Não dá para a gente aceitar organizações que fazem barricada, que impõem terror territorial, que a partir daquele local, qualquer venda, qualquer compra tem que ser com autorização do criminoso ou mediante o criminoso, isso é impor terror à população, isso é terrorismo”, afirmou o governador no início da semana.

    “O que se quer são penas mais pesadas, dificultar o acesso a determinados benefícios para que essas pessoas paguem pelos crimes que cometem. A gente precisa aumentar o custo para o criminoso. Não pode sair barato”, acrescentou.

    Trampolim para Derrite

    Além de apoiar a iniciativa em declarações públicas, o governador de São Paulo liberou seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), para que ele retome seu mandato como deputado federal e seja o relator do projeto.

    Na última terça-feira (4/11), Tarcísio pressionou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), que é seu colega de partido, a indicar Derrite para relatar o texto.

    “A gente tem o PL [projeto de lei] do Danilo Fortes [deputado federal do União-CE], que deve ser relatado pelo Derrite. O Derrite deve ser liberado para tomar conta desse projeto lá. Isso foi combinado com o próprio presidente da Câmara. A ideia é que a gente possa apensar um projeto no outro [anti-facção do governo federal] e a partir dali fazer um melhor texto, um texto que nos dê a segurança para o que a gente quer”, disse Tarcísio durante agenda em Guarulhos.

    O texto atualmente é relatado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas haveria um acordo entre os parlamentares de centro-direita para Derrite ser o relator da proposta quando a proposta for a plenário.

    Desde o fim do primeiro semestre, o Progressistas tem articulado para que Derrite seja mais atuante em pautas de segurança no Congresso Nacional. As conversas com Motta ocorrem, ao menos, desde junho. A ideia é que a relatoria do projeto sirva como vitrine para o secretário disputar as eleições em 2026.

    Diante desse destaque, Derrite voltou a ser apontado por aliados como o possível candidato de Tarcísio ao governo de São Paulo, caso o governador decida concorrer ao Palácio do Planalto.

    “Não confundir conceitos”

    Para ministros de Lula, o enquadramento das facções criminosas como grupos terroristas abrem brecha para “intervenções internacionais”, em especial nos Estados Unidos.

    Já no ano passado, Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública, disse que facções e grupos terroristas são coisas diferentes e que não pretendia “confundir conceitos”.

    Em resposta, o governo Lula e o PT têm apostado em dois projetos distintos voltados ao tema, como a PEC da Segurança, que prevê maior participação do governo federal nas estratégias de combate ao crime organizado, algo que contraria a vontade dos governadores de direita e da oposição.

    Outro projeto do governo é o chamado PL Antifacção. Elaborado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, a proposta busca dar ao Estado mais poder para enfrentar o crime organizado, em especial as facções que controlam territórios e impõem regras própria nesses locais.

    “O Brasil não pode mais aceitar a existência de Estados paralelos dentro do país”, afirmou o presidente Lula, ao anunciar o envio do projeto. Segundo ele, o texto representa um marco no enfrentamento ao crime organizado e uma resposta do Estado à violência que atinge as periferias. Elaborada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, a proposta busca dar ao Estado mais poder para enfrentar o crime organizado, em especial as facções que controlam territórios, impõem regras próprias e desafiam o poder público em diversas regiões do país.