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    Inelegível até 2060, Bolsonaro ainda detém o poder de surtar a direita

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    “Ninguém governa governador”, disse Agamenon Magalhães, ex-ministro do Trabalho de Getúlio Vargas nos anos 1930, interventor federal em Pernambuco depois da decretação do Estado Novo, e governador eleito em 1950. Morreu em 24 de agosto de 1952. Vargas matou-se com um tiro exatamente dois anos depois.

    Se não se governa governador, muito menos se empareda presidente, dono de um poder muitas vezes maior, a não ser meio de um golpe de Estado. Assim se deu com João Goulart no final de março de 1964. No caso de Jânio Quadros, foi ele que renunciou à Presidência por imaginar que retornaria nos braços do povo.

    Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito pelo voto popular com o fim da ditadura militar, deixou-se emparedar pela ambição de aumentar sua fortuna. Impichado por corrupção em 1992, condenado por corrupção em 2023, cumpre hoje a pena de oito anos e dez meses em prisão domiciliar.

    Por sua culpa, sua máxima culpa, sua exclusiva culpa, Bolsonaro, o mais incapaz e despreparado presidente da história do Brasil, ofereceu-se para ser emparedado. A não ser que a Justiça mude de opinião, no mínimo ficará literalmente emparedado por sete anos, na sede da Polícia Federal, em Brasília, ou em sua casa.

    Mas está inelegível até 2060, quando, se vivo, completaria 105 anos. Haja fantasia para alimentar o sonho de voltar um dia ao poder. Nem por isso seu nome deve ser riscado desde já do mapa político. Bolsonaro, ainda por anos, deterá o poder de atazanar a vida da direita que depende dos votos dele para se dar bem.

    Diz-se que mesmo sem sua benção, a direita enfrentará Lula em 2026 com chances reais de sucesso e que poderá eleger Tarcísio de Freitas presidente. Perguntem a Tarcísio se ele acredita nisso, perguntem. Mesmo que Bolsonaro anuncie seu apoio a Tarcísio, quem garante que mais tarde ele não o abandonaria?

    Carente de votos, a direita brasileira ama um atalho para chegar ao poder. E atalhos têm a ver com golpes ou candidatos populistas, não necessariamente de direita. Jânio foi um atalho Collor, outro. Bolsonaro, o mais recente.

     

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