MAIS

    Inflação comportada indica corte de juros em janeiro, dizem analistas

    Por

    A inflação comportada registrada no Brasil em outubro deste ano, cujos dados foram divulgados nesta terça-feira (11/11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçou a percepção do mercado financeiro de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve começar a cortar a taxa básica de juros (Selic) a partir de janeiro de 2026.

    É o que afirmou a maioria dos economistas e analistas do mercado consultados pela reportagem do Metrópoles nesta manhã, logo depois de o IBGE divulgar os dados do índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país.

    No mês passado, o índice ficou em 0,09%, 0,39 ponto percentual abaixo da taxa de setembro (0,48%). No acumulado do ano até outubro, a inflação no Brasil ficou em 3,73%. Em 12 meses, o índice foi de 4,68%, abaixo dos 5,17% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em outubro do ano passado, a variação havia sido de 0,56%.

    Em outubro, três dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram variação negativa: artigos de residência (-0,34%), habitação (-0,30%) e comunicação (-0,16%). Do lado das altas, as variações ficaram entre 0,01% de alimentação e bebidas e 0,51% de vestuário.

    O que diz o mercado

    André Valério, economista sênior do Banco Inter, observou que “o resultado foi a menor variação para um mês de outubro desde 1998 e foi acompanhado de um qualitativo razoavelmente bom, que só não foi melhor devido às altas pontuais em alguns serviços com alta representatividade no índice”.

    “O cenário benigno de curto prazo para a inflação permanece e não devemos observar uma reversão significativa nas próximas leituras, com inflação ao produtor acomodada e possível redução da bandeira de energia elétrica em dezembro, o que aumentam as chances de vermos o índice encerrando 2025 abaixo do teto da meta, que é de 4,5%”, afirmou o economista. “Juntamente com a ata do Copom, divulgada hoje mais cedo, vemos um cenário favorável para o início do ciclo de cortes na reunião de janeiro.”

    Segundo Pablo Spyer, conselheiro da Ancord, a desaceleração do índice “foi puxada, principalmente, pela queda dos preços de energia e combustíveis, reforçando o quadro de desinflação que o país vem observando ao longo do segundo semestre”.

    “A valorização do câmbio e a estabilidade de custos na base da cadeia produtiva ajudam a consolidar esse movimento, abrindo espaço para que a inflação termine 2025 dentro da meta, hoje projetada em 4,46%”, projeta.

    Leia também

    Para Syper, “o dado reforça a percepção de que o processo de desinflação segue firme e, junto com a ata do Copom com tom mais suave, tende a aumentar a confiança do mercado de que o início do corte de juros pode começar já em janeiro”.

    Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, avalia que, “do ponto de vista qualitativo, o dado reforça um cenário mais benigno para o curto prazo”. “O resultado de outubro confirma um processo de desinflação mais consistente, com surpresas baixistas concentradas em bens e administrados. A difusão se manteve em 52% e as medidas de núcleo de inflação mostraram novo arrefecimento, o que reduz a probabilidade de repiques no curto prazo”, observa.

    “A melhora do balanço de riscos reflete a estabilidade do câmbio, o recuo das commodities energéticas e a menor pressão de serviços após meses de resiliência. A leitura também sugere que a inflação de bens industriais segue contida, beneficiada por um ambiente global de preços mais baixos e recomposição de estoques”, explica Benedito.

    “Diante do resultado, mantemos viés baixista para o IPCA de 2025 e revisamos nossa projeção de 4,9% para 4,6% no ano, com expectativa de que a inflação continue convergindo de forma gradual à meta, sustentada por efeitos defasados da política monetária, estabilidade cambial e comportamento mais benigno dos alimentos.”

    Pedro Cutolo, estrategista da ONE Investimentos Wealth Management, destaca que, antes mesmo da divulgação dos dados de outubro, o IPCA “já permitia o início do processo de corte de juros, que deve começar em janeiro, até atingir um patamar próximo de 10% até meados de 2027″

    “Agregando os dados de agosto, setembro e outubro, observamos uma inflação já compatível com a meta. Vamos ainda nos debruçar e calcular os núcleos e a série dessazonalizada, mas o primeiro sinal é positivo para juros e ativos de risco de forma geral”, diz Cutolo.

    Para o economista Maykon Douglas, “as últimas leituras de inflação têm vindo mais brandas e mostram boa composição nos núcleos, embora permaneçam acima da meta”.

    Ele acredita que “a autoridade monetária seguirá cautelosa nos próximos meses para avaliar o cenário de moderação no mercado de trabalho e seu impacto sobre itens mais sensíveis à demanda”. “No entanto, o IPCA apresentou um resultado positivo e sugere um cenário mais favorável à política monetária doméstica. O IPCA deve fechar o ano com alta de cerca de 4,3%”, projeta.

    Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, por sua vez, não aposta no início da queda dos juros já em janeiro, mas apenas em março de 2026. Segundo ela, o resultado da inflação em outubro “não muda o cenário de curto prazo”.

    “A ata do Copom deve ser lida como uma barra um pouco mais baixa para corte em janeiro, e o dado de inflação não altera essa leitura. Seguimos projetando o início do ciclo de cortes em março, com o BC mantendo discurso cauteloso e foco na convergência da inflação à meta”, conclui.

    Claudia Moreno, economista do CG Bank, diz que o IPCA de outubro veio abaixo do esperado. “Entre os itens que surpreenderam para baixo no mês, vale mencionar os preços da alimentação no domicílio, que recuaram 0,16%, e os preços de bens industriais, que tiveram apenas uma leve alta de 0,04%. Esses segmentos, que têm peso importante no cálculo do IPCA, são impactados diretamente pelo recente enfraquecimento do dólar, que tem contribuído para segurar os preços nos últimos meses e, consequentemente, conter uma alta mais forte da inflação como um todo”, explica.

    Moreno também aposta em queda dos juros apenas em março, e não em janeiro. “Os dados do IPCA e as sinalizações feitas pelo Copom na ata da última reunião reforçam nossa expectativa de que a taxa Selic seja mantida em 15% até o fim de 2025, com início do ciclo de cortes em março do ano que vem.”

    Taxa de juros

    A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.

    Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

    O atual patamar da taxa de juros no Brasil, de 15% ao ano, é o maior em quase duas décadas, desde 2006. O país é o vice-líder no ranking global das maiores taxas reais de juros do mundo.

    A próxima reunião do Copom para definir a taxa de juros, a última do ano, acontecerá nos dias 9 e 10 de dezembro.