O ex-secretário do Ministério da Agricultura, Pedro Alves Corrêa Neto, recebeu mais de R$ 1 milhão da entidade Conafer, investigada na farra do INSS. A informação foi levantada pela Polícia Federal (PF) e consta de decisão judicial do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O nome de Pedro Alves Corrêa Neto apareceu pela primeira vez no contexto da farra do INSS em uma reportagem da coluna. A apuração mostrou que ele recebeu R$ 50 mil de Cícero Marcelino de Souza Santos, considerado pela PF o operador financeiro da Conafer.
“A Polícia Federal atribui a Pedro Alves Corrêa Neto corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por ter recebido vantagens indevidas do operador financeiro Cícero Marcelino de Souza Santos, em troca de facilitação de programas e liberação de recursos de interesse da Conafer e do ITT (Instituto Terra e Trabalho)”, escreveu o ministro André Mendonça na decisão judicial.
Ainda de acordo com o ministro, o Ministério da Agricultura e a secretaria então comandada por Pedro eram “estratégicos” para a Conafer. “Segundo a representação policial, ele figurava como concedente de recursos públicos para o Instituto Terra e Trabalho (ITT), presidido por Vinícius Ramos da Cruz, cunhado de Carlos Roberto Ferreira Lopes.” Lopes é o presidente da Conafer.
Após a publicação da reportagem, Pedro Alves Corrêa Neto foi demitido da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo (SDI) do Ministério da Agricultura e Pecuária. A exoneração dele foi publicada no dia 20 de outubro e aparece como “a pedido” no Diário Oficial da União.
Ao ser questionado na CPMI, em outubro, sobre Corrêa Neto, Cícero Marcelino disse que não se lembrava dos pagamentos.
“O senhor sabe disso? Que o senhor pagou ao secretário do Ministério, ao Sr. Pedro Alves Corrêa Neto?”, perguntou o deputado Evair de Melo (PP-ES), citando a reportagem da coluna. “É igual eu falei para o senhor, vêm as planilhas e eu vou fazendo os pagamentos…”, respondeu Marcelino.
A coluna não conseguiu contato com Pedro Alves Corrêa Neto. Já o Ministério da Agricultura disse, à época, que a saída dele era uma “mudança na estrutura da pasta”, sem dar mais detalhes.
Ex-secretário recebeu Conafer da farra do INSS dez vezes
De acordo com registros públicos de sua agenda, Corrêa Neto se reuniu com representantes da Conafer ao menos dez vezes nos últimos três anos. O mais recente desses encontros ocorreu em 25 de março deste ano, poucas semanas antes da deflagração da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal.
A reunião de 25 de março foi descrita como a “primeira reunião executiva do Matopiba – definição de pauta e alinhamento estratégico”. O Matopiba é uma região que engloba partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O presidente da Conafer, Carlos Lopes, esteve presente.
Ao longo dos anos, a agenda de Corrêa Neto registra encontros com diversos representantes da entidade, como Davi Feo, secretário de Relações Internacionais; Tiago Lopes, vice-presidente; e Anandha Almeida, consultora. Não há, porém, registros de reuniões com Cícero Marcelino.