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    Jovem morto por leoa chegou a invadir pista de avião para ir à África

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    De acordo com a conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou Gerson de Melo Machado, o “Vaqueirinho”, durante oito anos, o jovem, que invadiu a jaula de uma leoa em João Pessoa (PB) e morreu neste domingo (30/11), tinha o sonho de ir à África para domar leões. Segundo ela, ele chegou a invadir a pista de pouso do Aeroporto Castro Pinto, na capital paraibana, na tentativa de realizar o desejo.

    Segundo ela, Gerson, que morreu aos 19 anos, cortou a cerca de proteção do aeroporto, conseguiu acessar a área restrita aos aviões e chegou até o trem de pouso de uma aeronave da Gol. “Agradeci a Deus quando fui avisada pelo aeroporto. Perceberam pelas câmeras antes que uma tragédia acontecesse”, relatou.

    A cena não foi um episódio isolado. Policiais que acompanhavam as frequentes idas do jovem à Central de Flagrantes — ele possuía 16 passagens por dano e pequenos furtos — contaram que Gerson repetia, insistentemente, o desejo de ir para a África cuidar de leões. Ele dizia que faria o trajeto “a pé”, e os agentes tentavam explicar que o continente ficava a milhares de quilômetros.

    Jovem morto por leoa chegou a invadir pista de avião para ir à África - destaque galeria3 imagensConselheira tutelar Verônica Oliveira ao lado de Gerson de Melo Machado, conhecido como VaqueirinhoLeoa que atacou o jovem em João PessoaFechar modal.MetrópolesGerson de Melo Machado, o Vaqueirinho, morto por uma leoa em João Pessoa, após invadir a jaula do animal1 de 3

    Gerson de Melo Machado, o Vaqueirinho, morto por uma leoa em João Pessoa, após invadir a jaula do animal

    Reprodução/PMPBConselheira tutelar Verônica Oliveira ao lado de Gerson de Melo Machado, conhecido como Vaqueirinho2 de 3

    Conselheira tutelar Verônica Oliveira ao lado de Gerson de Melo Machado, conhecido como Vaqueirinho

    Arquivo pessoal/ Material cedido ao MetrópolesLeoa que atacou o jovem em João Pessoa3 de 3

    Leoa que atacou o jovem em João Pessoa

    Material cedido ao Metrópoles

    Abandono familiar e transtornos mentais

    Verônica acompanhou Gerson dos 10 aos 18 anos. A primeira vez que o viu, ele havia sido levado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao Conselho Tutelar, após ser encontrado andando sozinho em uma BR. Desde então, passou a integrar a rede de proteção da infância.

    Ela o descreve como um jovem que cresceu sem apoio familiar e em condições severas. Filho de uma mãe com esquizofrenia e avós também comprometidos na saúde mental, ele vivia em pobreza extrema.

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    Entre os irmãos, Gerson foi o único que não conseguiu uma família adotiva. “Justamente por ter possível transtorno. A sociedade quer adotar crianças perfeitas, coisa impossível dentro do acolhimento institucional, onde só chegam diante de negligência extrema”, afirma Verônica.

    Os transtornos de Gerson, porém, só foram reconhecidos oficialmente quando ele entrou no sistema socioeducativo.

    De acordo com a profissional, mesmo a mãe tendo perdido a guarda há anos, o jovem continuava buscando por ela. “Ele, embora estivesse destituído, amava a mãe e sonhava que ela conseguisse cuidar dele. Evadia do abrigo e ia direto para a casa da avó e da mãe”, afirma.

    O caso

    Gerson invadiu, neste domingo, a jaula de uma leoa no Parque Arruda Câmara, conhecido como Bica, em João Pessoa, na Paraíba.

    Em nota oficial, a Prefeitura de João Pessoa informou que ele “escalou rapidamente uma parede de mais de 6 metros, passou pelas grades de segurança, usou uma árvore como apoio e entrou no recinto da leoa”.

    A administração municipal declarou que já iniciou a apuração das circunstâncias do caso, manifestou solidariedade à família da vítima e reafirmou que o zoológico segue todas as normas técnicas e de segurança.

    A Polícia Militar e o Instituto de Polícia Científica da Paraíba (IPC) foram acionados para realizar os procedimentos cabíveis. O zoológico foi imediatamente fechado após o ataque, e as visitas foram suspensas.