O Banco Central decretou nesta terça-feira (18/11) a liquidação extrajudicial do Banco Master e colocou a instituição sob administração especial temporária por 120 dias.
A medida atinge todo o conglomerado controlado por Daniel Vorcaro, preso nesta manhã pela Polícia Federal, e interrompe de imediato qualquer negociação de compra em andamento, incluindo a proposta feita ontem pela Fictor Holding, que havia anunciado aportes bilionários e a entrada de investidores dos Emirados Árabes Unidos.
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O banco estava sob desconfiança do mercado desde que passou a ofertar CDBs com remuneração muito acima da média para atrair investidores, em alguns casos, com taxas até 40% superiores à referência básica.
O custo dessa estratégia, somado a apostas consideradas agressivas em precatórios e empresas em dificuldades financeiras, comprometeu a liquidez da instituição.
A decisão do BC foi oficializada em ofício assinado pelo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo.
No documento, a autoridade monetária afirma que a liquidação foi determinada devido à “deterioração da situação econômico-financeira, comprometimento da liquidez e descumprimento de determinações regulatórias”, além do desrespeito a normas básicas de funcionamento do sistema bancário.
A EFB Regimes Especiais de Empresas foi nomeada como administradora temporária.
Na prática, a liquidação extrajudicial retira o banco do sistema financeiro e transfere seu controle a um liquidante, que passa a encerrar operações, vender ativos e pagar credores na ordem fixada pela legislação, até que a instituição deixe de existir formalmente.
Prisão de Vorcaro e operação da PF
A intervenção do BC coincidiu com a prisão de Daniel Vorcaro em Guarulhos, alvo da Operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal também nesta terça-feira.
Segundo a PF, o grupo ligado ao ex-controlador do Master é suspeito de fabricar carteiras de crédito fictícias, sem lastro real, e vendê-las como títulos válidos dentro do sistema financeiro.
As investigações começaram em 2024 a pedido do Ministério Público Federal e apontam que, após fiscalização do Banco Central, os papéis fraudulentos teriam sido substituídos às pressas por outros ativos igualmente irregulares, numa tentativa de ocultar a fraude. A PF apura crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa.
Tentativas frustradas de venda
O colapso do Banco Master não é repentino, e as tentativas de salvamento foram marcadas por controvérsia.
Em março deste ano, o BRB chegou a anunciar a compra da instituição, numa operação chancelada pelo governo do Distrito Federal com aprovação relâmpago da Câmara Legislativa.
A proposta previa que o banco público brasiliense ficasse com 58% do capital total do Master.
O Cade chegou a aprovar o negócio, mas a Diretoria Colegiada do Banco Central vetou a operação em setembro, alegando ausência de garantias e documentos que comprovassem a viabilidade financeira da aquisição.
O veto foi a primeira sinalização pública de que o BC não confiava nos números e na governança do Master. Sem conseguir nova capitalização, a situação do banco se agravou, até a entrada em cena da Fictor Holding Financeira.
A jogada da Fictor e o anúncio que não durou 24 horas
Nesta segunda-feira (17), a Fictor Holding Financeira, patrocinadora do Palmeiras e dona de participações em empresas de infraestrutura, serviços financeiros e alimentação, assinou uma proposta para comprar o Banco Master com injeção emergencial de R$ 3 bilhões.
O consórcio incluía investidores dos Emirados Árabes Unidos e previa reestruturação imediata da instituição. O anúncio foi recebido como um possível resgate do banco, mas não resistiu nem um dia.
Com a liquidação decretada pelo Banco Central, o negócio está automaticamente suspenso. Qualquer negociação, inclusive a da Fictor, só poderia prosseguir após o encerramento do processo e mediante autorização formal das autoridades, o que na prática inviabiliza a operação.
