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    Luiz Aquila retorna a Brasília em celebração aos 30 anos da Referência

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    Um retorno, três décadas de história e um Carnaval de cores. É assim que Luiz Aquila retorna a Brasília, com exposição especial, aproveitando para celebrar os 30 anos da Galeria Referência, seus parceiros e amigos de longa data.

    Veja vídeo especial da galeria, cedido ao Metrópoles:

    A noite de abertura da mostra Boogie Woogie na Referência Galeria de Arte tinha a vibração rara dos encontros que se repetem no tempo, mas nunca iguais.

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    Havia algo de celebração íntima, familiar, na volta de Luiz Aquila a Brasília, cidade onde morou ainda menino e que, agora, o recebe para a exposição com marcas de uma vida inteira, escolhida especialmente para celebrar os 30 anos da galeria fundada pelo casal Onice Moraes e José Rosildete de Oliveira. Quase três décadas depois da primeira mostra com o artista, em 1996, o reencontro parecia a renovação de um ciclo.

    Onice Moraes e Luiz Aquila

    Rosildete lembra que a escolha do nome não surgiu por acaso. “O Aquila é um artista de muita importância no Brasil. Quando a galeria tinha apenas um ano de vida, fizemos uma exposição dele. Mantivemos essa amizade por 29 anos. Queríamos trazê-lo de volta para comemorar os 30 anos.”

    A relação com a Referência sempre foi mais que profissional.

    “Expus muitas vezes em feiras de arte com eles. E fiquei muito amigo deles. As vezes que eles vão ao Rio, nós sempre nos encontramos, saímos, conversamos. Então, se estabeleceu não só uma relação profissional, mas uma amizade.”

    A Referência nasceu de um impulso tão simples quanto decisivo: preencher uma lacuna em Brasília. Onice sempre teve a compreensão de que arte é uma necessidade.

    “Tudo começou porque nós pensávamos que Brasília precisava de uma galeria” conta Onice. “A capital precisava ter uma representação maior de arte.”

    Aquila e a pintura como destino

    Aos 82 anos, Aquila continua movido por uma energia que impressiona — um artista cuja produção parece expandir em vez de recolher. Sua fala é direta, mas carrega uma liberdade que se traduz no gesto criativo. “A pintura é a maneira que eu me coloco no mundo. A minha pintura e eu, muitas vezes, nos confundimos.”

    Confira algumas obras da mostra Boogie Woogie:

    10 imagensObras de arte do artista Luiz ÁquilaObras de arte do artista Luiz ÁquilaObras de arte do artista Luiz ÁquilaObras de arte do artista Luiz ÁquilaObras de arte do artista Luiz ÁquilaFechar modal.1 de 10

    Obras de arte do artista Luiz Áquila

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    Obras de arte do artista Luiz Áquila

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    Obras de arte do artista Luiz Áquila

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    Obras de arte do artista Luiz Áquila

    Pedro Iff/Metrópoles

    Ele pinta desde sempre e tem o pai, o artista e arquiteto Alcides da Rocha Miranda, como a primeira referência. “Decidi que seria artista aos 17 anos. Mas pintei a vida inteira.”

    E Brasília é parte fundamental dessa formação.

    “Vim morar aqui em 1960, quando meu pai decidiu vir numa época em que ninguém queria vir para Brasília. Ele ficou encantado com o céu, com as nuvens, com o espaço. Então, estar aqui é importante para mim.”
    Tela da era brasiliense de Luiz Aquila

    A curadoria como diálogo

    A mostra tem curadoria de Renata Azambuja, professora e historiadora da arte, cujo trabalho transita entre rigor acadêmico e sensibilidade afetiva, afinidade que encontrou eco imediato em Aquila.

    “Eu fiquei muito feliz com esse convite porque eu sou professora de história da arte. E o Luiz Aquila é um sujeito que efetivamente faz parte da história da arte brasileira.”

    Luiz Aquila foi professor e diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde exerceu grande influência sobre a Nova Pintura Brasileira. O artista é considerado o pai do movimento chamado Geração 80.

    Renata Azambuja e Luiz Aquila

    Renata narra que começa sempre escutando o artista: “Um artista fica ansioso ao expor, porque ele não só expõe o trabalho, ele se expõe. Meu processo é ouvir e entender o que ele quer para se sentir confortável.”

    Foram encontros, leituras, viagens ao Rio, conversas longas.

    “Houve uma junção daquilo que ele queria com aquilo que eu visualizava. Quis mostrar a complexidade dele: o pintor, o gravador, o desenhista. Ele é múltiplo. E, apesar da experiência, é muito jovem no fazer.” A inquietação, diz ela, é o motor.

    “A obra do Aquila tem experimentação forte, uma relação com o prazer de fazer. Ele é um ‘work in progress’. Está sempre se movendo. Eu tentei mostrar um pouquinho de cada possibilidade que ele tem, mas nenhuma exposição dá conta de todo o universo dele.”

    O vínculo também passa por afetos compartilhados. Aquila conta que se encantou ao descobrir que ela era neta de um casal importante para sua vida antiga em Brasília.

    “Quando eu vi o trabalho dela e soube que ela era neta desses dois, eu fiquei encantado. Essas genealogias me importam. A gente vê que ela se envolve sem limite afetivo.”

    Sobre essa relação, Renata compartilhou:

    “A gente tem uma relação que eu acho que ultrapassa a questão profissional. Ela tem relação também com o conhecimento que ele tinha de algumas pessoas da minha família, que também moravam em Brasília lá na década de 60 e se configurou, então, uma dupla afetiva e profissional.”

    O Carnaval íntimo de Aquila

    Uma frase dita anos atrás marcou a noite. O curador e pesquisador Tarciso Viriato lembrou durante a conversa:

    “Alguém perguntou: por que é que você pinta e tal? E você disse: ‘Porque no final tem uma festa’. Eu nunca esqueci isso.”

    Aquila sorriu e completou: “O meu ateliê é um Carnaval, não é? Toda vez que eu vou para o ateliê, estou indo para um baile de Carnaval.”

    Veja o mini documentário sobre o grande artista Luiz Aquila:

    O Carnaval de Aquila, apesar de raízes brasilienses, se deve muito a sua relação com a Cidade Maravilhosa:

    “Eu vejo que o meu trabalho foi ganhando em expansão. Passou a ser mais expansivo, mais extrovertido. O uso da cor mais contrastante. Teve uma grande influência do Rio no meu trabalho. A minha cidade, musa, é o Rio de Janeiro. O Rio me abriu.”

    Esse espírito — leve, espontâneo e profundamente comprometido — atravessa Boogie Woogie. São obras expansivas, cromáticas, orgânicas, que traduzem aquilo que ele mesmo chama de “façanha”:

    “Tem uma coisa meio ‘façanhuda’ nisso de insistir e continuar pintando. Fazer a pintura se reinventar. Há a façanha do jovem artista nas descobertas, e a do artista já não tão jovem, que afirma o que já fez.”

    Convidados apreciam o Boogie Woogie

    Um gesto de permanência

    Para Onice, a história da galeria se sustenta naquilo que permanece — os artistas, as obras, a memória.

    “As coleções precisam incluir os artistas de sua região e de seu tempo. Arte é investimento, é decoração, mas é, acima de tudo, registro da história.”

    Sobre a história e trajetória da Referência, a galerista conta:

    “O que nos motivou, no início, foi exatamente essa paixão, a necessidade de promover os artistas daqui, representar o centro-oeste. Então é isso que nos move, até hoje.”

    A exposição de Aquila sintetiza esse percurso. Não apenas revisita a trajetória da galeria: reafirma sua missão de olhar para o presente com raízes firmes no território.

    “A evolução na arte não é linear. A obra anterior continua a ser tão válida quanto a obra presente. Então, não tem uma hierarquia no tempo.”

    Boogie Woogie é, assim, festa, reencontro e renovação — um carnaval íntimo. Um gesto de maturidade que continua, teimosamente, a nascer jovem.

    O espírito do Aquila é de uma constante transformação da pintura, uma inquietação no fazer da pintura. A obra dele tem uma relação com o prazer, a relação com o prazer de pintar, com o prazer de fazer.

    Renata Azambuja

    Confira os cliques do evento:

    José Rosildete de Oliveira, Onice Moraes, Renata Azambuja e Luiz Aquila
    Luiz Aquila, Lara Alvim e Chico Alvim
    Raquel Nava e Patricia Bajniewski
    Paulo Moraes, Emerson Dionísio, Onice Moraes, José Rosildete de Oliveira e Juliana Santana
    Luiz Aquila, Vânia Castro, Inês Zatz e João Antônio
    Tarciso Viriato
    Pedro Sassi, Nina Miranda e Joana Alvim
    Fernando Bueno, Alessandra França, Luciana Paiva e Márcio Borsoi
    Vania Moraes, Beto Osório, José Rosildete de Oliveira, Onice Moraes e Paulo Moraes
    André Santangelo
    Obras de arte do artista Luiz Áquila
    José Rosildete de Oliveira, Isa Estrela de Oliveira, Onice Moraes  e Nicole Estrela Caseiro
    Renata Azambuja
    Ivan Valença e Paulo Moraes
    Lea Juliana e Vania Moraes
    Paulo Vega Jr, Fernando Bueno e Leo Tavares
    Junio Guedes Dias
    Glenio Lima, Darlan Rosa e Célia Rosa
    Luiza Mader, Samantha Canovas e Nuara Visintin
    Bárbara Moreira, Cinara Barbosa e Gustavo Tomé
    Roda de conversa para comemorar e falar sobre o aniversário da galeria

    Serviço:
    Boogie Woogie
    Pinturas, gravuras e serigrafias de Luiz Aquila na Referência Galeria de Arte; sala principal e sala acervo (202 Norte, Bloco B, Loja 11, Subsolo)
    Curadoria: Renata Azambuja
    Abertura: 25/11/2025, das 18h às 20h
    Visitação: até 17/01/2026, de segunda a sexta, das 10h às 19h; e sábado, das 10h às 15h, com entrada gratuita e livre para todos os públicos

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