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    Monumento às Bandeiras: área histórica de SP vira lamaçal após evento da Netflix

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    Um evento para divulgar a 5ª temporada da série Stranger Things, da Netflix, ocupou nesse domingo (23/11) o entorno do Monumento às Bandeiras, ao lado do Parque Ibirapuera, e deixou para trás um rastro de lama, tapumes, grades e banheiros químicos para todo lado. Nessa segunda-feira (24), o gramado da Praça Armando Sales de Oliveira, onde fica um dos principais cartões postais de São Paulo, ainda expunha as marcas da ocupação do espaço público.

    A Parada Estranha reuniu mais de 10 mil pessoas e foi realizada na Avenida Pedro Álvares Cabral, com alegorias, adereços e a presença do ator britânico Jamie Campbell Bower, o “Vecna”.

    O gramado ao redor do Monumento às Bandeiras foi tomado pela área vip do evento, com comida e bebida para influenciadores e convidados. Tapumes separaram os escolhidos do restante da população e tendas disputaram a visibilidade com a obra de Victor Brecheret. Para os organizadores, a Prefeitura de São Paulo não cobrou nada.

    Além da realização do evento privado no espaço público, também chamou a atenção o mato crescendo entre as frestas dos blocos de granito que compõem a obra.

    Na noite dessa terça-feira (25/11), a área ao redor do monumento seguia com tapumes e os trabalhadores ainda removiam as estruturas do evento da Netflix. A previsão é que essa etapa de desmontagem se encerre somente nesta quarta (26/11), três dias após a realização da “Parada Estranha”.

    16 imagensResquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São PauloResquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São PauloMonumento às Bandeiras, em São PauloTrabalhadores desmontam estruturas de evento da Netflix em São PauloResquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São PauloFechar modal.1 de 16

    Lamaçal em área de evento da Netflix em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Trabalhadores desmontam estruturas de evento da Netflix em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Resquícios de evento da Netflix na praça do Monumento às Bandeiras, em São Paulo

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    Na noite de terça (25/11), empresa responsável ainda fazia remoção de estruturas do evento da Netflix

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    Na noite de terça (25/11), empresa responsável ainda fazia remoção de estruturas do evento da Netflix

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    Na noite de terça (25/11), empresa responsável ainda fazia remoção de estruturas do evento da Netflix

    William Cardoso/Metrópoles

    Críticas

    A situação chamou a atenção de quem passou pelo local nessa segunda. A médica Camila Galvão Lopes, 44 anos, não gostou do que viu. “O Monumento às Bandeiras é um dos lugares mais bonitos de São Paulo, sempre foi aberto, muito amplo. Você passa pela manhã e dá aquela sensação gostosa vendo as pessoas a caminho do parque”, disse. “Nunca tinha visto uma situação assim. Sempre foi uma menina dos olhos de São Paulo. Não ficou bom, está meio esquisita essa parte da cidade”, afirmou.

    O arquiteto João Marcos Rocha, 33 anos, também criticou a ação. “É o setor privado tomando conta do espaço público. A população está tendo que ficar aqui sem espaço para passar. Só isso que sabem fazer, privatizar tudo”, disse.

    O zelador João Gonçalves Pereira, 67 anos, não aprovou a realização da parada na praça onde fica o monumento. “Acho horrível, faltou zelo. Estragou uma área de monumento, uma das mais prestigiadas da cidade”, ressaltou.

    Também zelador, José Arnaldo da Silva Matos, 47 anos, criticou a organização. “Foi uma coisa mal planejada, por ser uma área de muita movimentação, com muitas pessoas entrando no parque. Não caiu legal, não.”

    Monumento polêmico

    O Monumento às Bandeiras já foi alvo de protestos na última década e é motivo de polêmica por causa do passado que evoca.

    A obra chegou a receber pichações e banho de tinta vermelha, representando o sangue derramado pelos bandeirantes em suas incursões pelo sertão, quando escravizaram e mataram indígenas e negros. A prefeitura mantém uma viatura da Guarda Civil Metropolitana (GCM) no local.

    Apelidado de “empurra-empura”, o monumento é uma obra de Victor Brecheret, prevista inicialmente para ser inaugurada durante as celebrações do primeiro centenário da Independência do Brasil, em 1922.

    Foi iniciada somente na década seguinte e acabou entregue muitos anos depois, em 1953, como parte das comemorações do Quarto Centenário de São Paulo, em 1954.

    Com 50 metros de comprimento e 16 metros de altura, o Monumento às Bandeiras é formado por 240 blocos de granito, com 50 toneladas cada.

    O que diz a Prefeitura de São Paulo

    A Prefeitura de São Paulo afirma que o evento Stranger Things Parade foi autorizado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), com limite de público de até 15 mil pessoas. “O organizador apresentou toda a documentação exigida, incluindo declarações de segurança e acessibilidade”, disse, em nota.

    A administração municipal diz que a Subprefeitura da Vila Mariana autorizou o uso do espaço público, fiscalizou o comércio ambulante e fará vistoria após a desmontagem total da estrutura. “Se houver danos ao gramado ou a equipamentos urbanos, o organizador será notificado para realizar a recuperação.”

    A gestão Ricardo Nunes (MDB) também confirmou que não recebeu nada pelo evento. “Não houve pagamento à prefeitura pelo uso da área, uma vez que eventos de acesso gratuito, como no caso, são enquadrados na modalidade de autorização de uso, mediante cumprimento das condicionantes técnicas e operacionais”, disse.

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    Segundo a prefeitura, o Monumento às Bandeiras, tombado pelo Conpresp, só pode receber intervenções mediante autorização dos órgãos de preservação. “O evento foi analisado e autorizado por se tratar de atividade temporária e sem impacto direto ao monumento”, afirmou.

    A administração municipal também disse que a manutenção do local, incluindo limpeza e remoção de vegetação, é realizada periodicamente conforme programação da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa.

    Procurada, a Netflix não se manifestou até a publicação. O espaço segue aberto.