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    Mototáxi em SP: Dino chama empresas do setor de “senhores de escravos”

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    O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino associou as empresas que fornecem serviços de mototáxi com “senhores de escravos do século 18” em voto no julgamento que analisa a constitucionalidade da Lei 18.156/2025, do Estado de São Paulo.

    A legislação exige que os municípios autorizem por conta própria o funcionamento do mototáxi. Para o ministro Alexandre de Moraes, relator do julgamento, a norma invade competência da União e impõe barreiras ao exercício de atividade econômica. O magistrado concedeu, no fim de setembro, uma liminar que suspende a lei.

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    Ponto de mototáxi em Perus, zona norte

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    Reportagem do Metrópoles em garupa de mototáxi em São Paulo

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    Mototáxi na zona sul de São Paulo

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    Mototáxi na zona sul de São Paulo

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    Câmara Municipal discute regulamentação do mototáxi

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    Câmara Municipal discute regulamentação do mototáxi

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    JR Freitas, líder do movimento autônomo dos motoboys, durante sessão na CCJ da Câmara Municipal de São Paulo

    Reprodução/Instagram

    Dino fala em “direitos básicos” para trabalhadores de mototáxi

    “Férias, repouso semanal remunerado, seguro contra acidentes, aposentadoria, licença maternidade e paternidade, entre outros, são direitos fundamentais para trabalhadores que – mesmo com hibridismo – laboram de modo subordinado em proveito econômico de empresas que organizam o serviço prestado a terceiros”, afirmou em seu voto.

    O ministro destacou que o cansaço gerado pelo trabalho exacerbado, aliado à necessidade de transitar em altas velocidades, podem causar riscos à segurança dos consumidores dos serviços de mototáxi, além dos “demais participantes do trânsito das grandes cidades, sobretudo pedestres”.

    “A gamificação do trabalho não pode conduzir a paradigmas insustentáveis e irresponsáveis. Seres humanos não são personagens de videogame, com múltiplas ‘vidas’ – a serem exploradas ao máximo e descartadas como um produto de consumo qualquer”, ponderou.

    O especial do Metrópoles, publicado em agosto deste ano, mostrou que entregadores do iFood, que trabalham em bicicletas e motocicletas no trânsito da capital paulista, são submetidos à gamificação do trabalho e, assim, colocados em risco.

    “Senhores de escravos do século 18”

    Dino, por fim, declarou que “visar lucro é indubitavelmente legítimo, mas não é admissível que, eventualmente, empresas operadoras de alta tecnologia comportem-se como senhores de escravos do século 18, lucrando com o trabalho alheio executado em um regime excludente de direitos básicos”.

    Dada a ressalva, o ministro acompanhou o relator do caso, Alexandre de Moraes, e considerou inconstitucional a lei estadual do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

    Mototáxi na capital

    No início de outubro, a Justiça de São Paulo determinou prazo de 90 dias para que a prefeitura da capital paulista regularize o serviço de transporte de moto por aplicativo no município. A desembargadora relatora Marcia Dalla Dea Barone afirmou que o decreto municipal que proibia o serviço na cidade de São Paulo é inconstitucional, uma vez que o assunto é de competência federal.

    “A utilização de motocicletas para o transporte individual remunerado de passageiros por meio de aplicativos é uma opção substituinte do modelo de transporte público (antigo parâmetro de transporte proporcionado diretamente pelo poder público). O paradigma substitutivo, pese embora sua natureza empresarial, não altera, contudo, o substrato do interesse geral do transporte, cuja prestação, por isso mesmo, reclama alguma sorte de regulação pública”, diz o documento.