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    Mulher trans foi perseguida e morta após dívida de R$22, diz polícia

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    A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou, nessa sexta-feira (14), que Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, morreu após ser brutalmente agredida por funcionários de um bar na Savassi, em Belo Horizonte.

    Segundo os investigadores, Alice foi perseguida e espancada depois de deixar o local sem pagar uma conta de R$ 22.

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    A nova linha investigativa foi apresentada em entrevista coletiva, quando a corporação detalhou o trajeto da vítima, os suspeitos e a cronologia que culminou na morte por choque séptico dias após a agressão.

    Perseguição por R$ 22

    De acordo com a Polícia Civil, Alice era cliente frequente do estabelecimento. Na noite de 23 de outubro, ela esteve no bar, consumiu bebidas e saiu sem quitar a conta.

    O que era uma situação corriqueira, funcionários relataram que clientes que esqueciam de pagar costumavam voltar no dia seguinte, deu origem a uma caçada violenta.

    Dois funcionários deixaram o bar logo após a saída de Alice. As investigações apontam que eles correram atrás da vítima até uma rua próxima, onde a sessão de espancamento aconteceu.

    Os golpes, segundo a perícia, atingiram principalmente tórax e abdômen, provocando fraturas internas que mais tarde evoluíram para uma infecção generalizada.

    Intervenção

    A polícia informou que Alice só não morreu naquele instante porque um motociclista que passava pelo local interveio. Mesmo ameaçado pelos agressores, ele permaneceu ao lado da vítima e acionou o Samu.

    Alice foi levada para atendimento e recebeu alta no mesmo dia. Voltou para casa com dor intensa, mas só depois de uma sucessão de agravamentos buscou novos exames.

    Dias de sofrimento

    Em 26 de outubro, Alice passou por exames que identificaram lesões graves, incluindo costelas quebradas.

    Em 5 de novembro, já debilitada, registrou ocorrência e passou por exame de corpo de delito. A situação continuou se deteriorando: ela perdeu 12 quilos, não conseguia se alimentar e vivia com dores constantes.

    No dia 8 de novembro, foi internada novamente, desta vez em Betim, quando os médicos identificaram uma perfuração no intestino causada pelos golpes. No dia seguinte, não resistiu a um choque séptico.

    A morte só não passou pelo IML porque o exame de corpo de delito feito em vida já havia registrado as lesões provocadas pela violência.

    Linha de investigação: transfobia

    A polícia apura se o espancamento foi agravado pela condição de Alice ser uma mulher trans. Caso isso seja confirmado, o crime pode ser enquadrado como transfobia.

    Medidas cautelares foram decretadas contra os suspeitos, que permanecem em liberdade enquanto a investigação segue sob sigilo.

    Posicionamento do bar

    A lanchonete Rei do Pastel, onde Alice esteve antes da agressão, declarou que está colaborando com as investigações e que aguarda a conclusão da apuração. Afirmou repudiar qualquer forma de discriminação e que não compactua com comportamentos violentos.