O “day after” da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro foi marcado por uma tentativa sôfrega do Partido Liberal (PL) de reescrever os eventos das últimas horas. Em uma coletiva de imprensa liderada pelo senador Flávio Bolsonaro — agora a principal voz do clã, dada a momentânea ausência de Carlos e Eduardo nos holofotes —, a sigla buscou normalizar o caos, enquanto nos bastidores desenha-se uma estratégia de defesa que flerta com a insanidade.
O fato concreto é que a tentativa de mobilização no condomínio do ex-presidente levantou suspeitas de uma tentativa de obstrução ou fuga. Flávio Bolsonaro, contudo, dedicou sua fala a negar veementemente essa versão. Segundo o senador, tratava-se apenas de uma “vigília cívica” e de um momento de oração, sem qualquer intenção de tumulto.
Para analistas políticos que acompanham o desenrolar em Brasília, a declaração de Flávio soa como uma “repetição vazia de narrativas”.
A insistência em negar o óbvio serve a dois propósitos: manter a base militante engajada sob o pretexto da perseguição religiosa e política, e desviar o foco da desarticulação interna do partido, que agora aposta todas as fichas na tese da anistia.
Enquanto o PL tenta segurar as pontas no Congresso, o comportamento de Bolsonaro dentro da carceragem da Polícia Federal adiciona uma camada dramática — e possivelmente calculada — à crise. Relatos confirmam que o ex-presidente tem se recusado a consumir a alimentação fornecida pela PF, aceitando apenas o que é levado por familiares.
A justificativa oficial circula em torno do medo de envenenamento. No entanto, a análise de observadores, como Ricardo Noblat, sugere que essa “paranoia” pode ser o embrião de uma defesa jurídica baseada na instabilidade mental.
Se antes a retórica era de força, agora a tática parece ser a da fragilidade extrema.
Paralelamente, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro move suas próprias peças. Sua visita à prisão, registrada por fotógrafos em ângulos que ressaltam seu abatimento, foi vista não apenas como um ato de solidariedade conjugal, mas como um movimento político milimetricamente calculado.
Com pretensões claras ao Senado pelo Distrito Federal em 2026, Michelle transforma a crise familiar em capital político. A leitura nas entrelinhas é que, enquanto Flávio segura o microfone do partido, Michelle trabalha a imagem emotiva da campanha, preenchendo o vácuo deixado pelo marido com uma presença que mistura vitimismo e resiliência.
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