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    O Flamengo do presidente Padilha (por Roberto Caminha Filho)

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    Estava fiscalizando as praias e shoppings do Rio de Janeiro, quando meu tio flamenguista — daqueles que sabem escalar o time de 1955 de trás pra frente — me arrastou para o Pavão Azul, seu bar predileto em Copacabana. Entrei e percebi: não era um bar, era o inferno rubro-negro em chamas. As mesas estavam ocupadas por diabinhos veteranos, todos entre setenta e noventa anos, discutindo Flamengo como quem fala da partilha do Maracanã.

    Na mesa ao lado, falavam de Helal, de André Richer, de Kanela, de Márcio Braga… parecia reunião de diretoria. De repente, chega o velho Pureza, um português de fala grossa e camisa do Flamengo, tão desbotada que já parecia relíquia de museu. E disse:

    — Esses presidentes aí são bonzinhos, mas se não fosse o Padilha, o José Bastos Padilha, lá nos anos 30 e 40, o Flamengo seria hoje igual ao Bonsucesso, Madureira, Bangu ou América. Nunca seríamos um Vasco ou um Fluminense, esses clubes da elite. Foi o Padilha que começou tudo!

    Já pensaram! Português e urubu! Era o cão chupando manga.

    Aquilo me pegou. Pedi ao tio Paulo Emílio que a gente se sentasse perto do portuga. Cinco minutos depois, eu já era amigo íntimo do Pureza, como se fôssemos parceiros de pelada desde a infância. Ele falava com brilho nos olhos, como um padre rezando uma missa rubro-negra, ajudado por São Judas Tadeu.

    Segundo o coroa, Padilha não era apenas presidente: era visionário, professor de marketing sem diploma e inventor da propaganda antes da propaganda. Enquanto o mundo discutia se futebol era esporte de cavalheiros ou diversão de várzea, Padilha já pensava e fazia rádio, craques carismáticos, campanhas em escolas e frases de efeito. Ele viajava pelo Brasil levando o nome do Flamengo e suas bandeirinhas.

    Foi ele quem trouxe Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, e Domingos da Guia, o zagueiro que parava trem descarrilhado. Com esses ídolos, o Flamengo deixou de ser apenas um clube carioca e começou a virar paixão nacional. Padilha sabia: um craque não é só para ganhar jogo, é para conquistar corações.

    O velho Pureza se empolgava:

    — Olhe, rapaz, Padilha fazia o hino nacional ser cantado antes dos jogos! Isso não era moda, era ousadia. Ele dizia que o Flamengo era Brasil, e o Brasil seria todo Flamengo.

    Naquele momento, percebi que o tal Padilha era o pai do marketing esportivo. Muito antes de slogans e jingles, ele já havia inventado a frase “uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”. Não precisava de MBA em Harvard: bastava acreditar que o rubro-negro era eterno. Os comerciantes de roupas esportivas, da Adidas até a Drible, deveriam mandar rezar missas ao Padilha, todos os dias, em todos os países e estádios. Ele viu muita grana onde ninguém enxergava nem futebol.

    E como se não bastasse, veio o rádio. O Rio ainda era capital do país, e os jogos do Flamengo começaram a ecoar por todo o Brasil. Do Oiapoque ao Chuí, a torcida sintonizava e ficava com o coração batendo no ritmo da narração. Resultado? O Flamengo virou paixão nacional e ganhou o apelido que carrega até hoje: “O Mais Querido”. O Ary Barroso tocava a sua gaita ao ritmo do Maestro Padilha.

    Fui no Google e abri um baú esquecido. Descobri que Padilha não apenas presidiu o Flamengo: ele deu ao clube a sua alma. Transformou um time de bairro em um fenômeno nacional. Enquanto outros clubes cariocas miravam a elite, o Flamengo mirava o povão. E quem conquista o povo nunca mais perde o cheiro dele. Hoje, o Mengão é internacionalmente conhecido e invejado. O PIB rubro-negro é de matar peixeiros, porcos, bambis, mosqueteiros, bacalhaus cruzmaltinos e tricolores, da mais pura inveja.

    Durante os jogos, quando vejo a Nação lotar estádios e até aeroportos, lembro das palavras do Pureza: “Se não fosse o Padilha, seríamos apenas mais um time de bairro.” Pois é. Não foi só mais um. Foi o Clube de Regatas do Flamengo.

    Jules Rimet e João Havelange? Bons alunos, sem dúvida. Mas o professor, meus amigos, foi José Bastos Padilha — o presidente que inventou o marketing esportivo no Brasil sem nem saber que estava inventando para o mundo.

    Vou medir, com a minha régua, o tamanho do dinheiro que corre e escorre pelo Flamengo desde o Arcanjo Padilha:

    A Miss Help, americana, comerciante da beira do Porto de Manaus, em frente da Alfândega, preparou-se para vender camisas do Flamengo e da seleção argentina, durante os dois dias que antecederam o Flamengo x Racing, em Lima, no Peru. A americana, vendeu, apenas, 2742 camisas do Mengão em dois dias. O agro e os empregos agradeceram! A loja tem três metros de frente por seis metros de alta profundidade. Será agora, nesta semana que antecede a final da Libertadores, que Flamengo e Palmeiras explodirão suas vendas e melhorarão o Natal de milhões de brasileiros.

    E vivas ao Flamengo! Esse caldeirão rubro-negro que foi aquecido em 1930 e não tem a menor previsão de esfriar, explodindo duas vezes por semana, no futebol profissional. Que a Super Presidente palmeirense, Leila Mejdalani Pereira, faça do Porco, uma atração internacional pelo PIB verde-esmeralda, para que o Brasil possa multiplicar empregos e alegria para outros milhões de brasileiros.

    Vamos pra frente!!! Será a guerra do PIBão rubro-negro contra o PIBinho alvi-verde. Vamos dobrar essa inocente guerra, Tio Trump!

    Roberto Caminha Filho, economista, reza para que os outros clubes brasileiros, cheguem ao patamar profissional do Flamengo e possam criar milhares de empregos e muita renda.