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    O que é “coisa de rico”? Antropólogo do luxo revela segredos da elite

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    O antropólogo Michel Alcoforado, autor do best-seller “Coisa de Rico”, lotou o teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, nessa segunda-feira (24/11), durante mais uma edição do Metrópoles Talks no Rio de Janeiro. Conhecido como o “antropólogo do luxo”, ele apresentou análises sobre o modo de vida, os hábitos de consumo e as inseguranças dos super-ricos no Brasil.

    Durante a conversa mediada pela jornalista Vanessa Oliveira, Michel defendeu que “coisa de rico” é um conjunto de códigos culturais que funcionam como passaportes simbólicos para acessar e pertencer ao universo da elite brasileira.

    “No Brasil, a percepção de riqueza é construída a partir de objetos, marcas e performances sociais. Ter é ser. A gente precisa das coisas de rico para entender quem somos  e convencer os outros de quem estamos querendo ser.”

    Michel Alcoforado

    Com mais de 37 mil exemplares vendidos em apenas dois meses, Alcoforado esclareceu que o livro vai além dos relatos sobre o universo da elite e funciona como um estudo sobre os mecanismos que produzem a desigualdade no país.

    Para ele, a desigualdade não é construída apenas pela elite. “Todos nós reforçamos esse sistema quando idolatramos os símbolos de riqueza.”

    Entrar no mundo dos ricos é um ritual

    Antes de escrever o livro, Michel enfrentou um desafio: acessar, de verdade, o universo dos ricos.

    Recebeu vários “nãos”, lidou com secretárias que funcionam como guardiãs da elite e percebeu que qualquer detalhe pode entregar quem pertence ou não àquele ambiente.

    Em um jantar, por exemplo, a sala para onde a pessoa é levada, o sofá em que se senta e até a taça que escolhe dizem muito sobre sua origem. “O rico percebe na hora quando você é um peixe fora d’água.”

    Michel explica que só há duas formas de circular nesse universo: trabalhando para a elite, como empregado, ou atuando como especialista que valida inseguranças, como os estilistas, cerimonialistas, professores de etiqueta e decoradores.

    “Não existe ninguém mais inseguro no Brasil do que o rico”, destacou.

    O Brasil da comparação infinita

    Michel também destacou a lógica brasileira da comparação social constante. “O Brasil é uma nação de invejosos. A comparação é a regra.”

    Segundo ele, sempre há um “rico de estimação”, alguém usado como referência.

    Esse movimento alimenta uma ambição sem fim: quando alguém alcança um patamar, logo deseja outro, acreditando que o próximo nível trará pertencimento. “Mas, esse momento nunca chega, e assim a desigualdade se perpetua”, afirmou.

    Ricos tradicionais e os novos ricos

    Para o antropólogo, a diferença não está na quantidade de dinheiro, mas na relação com o tempo.

    “Os ricos tradicionais tentam apagar suas origens e naturalizar o próprio status: organizam a casa, o guarda-roupa e até a forma de falar para reforçar a ideia de que são ricos desde sempre. Já os novos ricos precisam registrar datas das coisas que conquistaram: o primeiro carro importado, a compra do apartamento, a viagem internacional.”

    Michel Alcoforado

    Por que “Coisa de Rico” é, na verdade, um livro sobre desigualdade?

    “Não é responsabilidade exclusiva dos ricos. Todos nós reforçamos esse sistema quando desejamos ou idolatramos símbolos de riqueza”, afirmou ao Metrópoles.

    O livro, segundo ele, expõe esses mecanismos e oferece ferramentas para repensar estruturas sociais. “Tudo aquilo que a gente inventa, a gente pode desinventar.”

    Questionado sobre como transformar essa realidade, resumiu: “Para que a mudança aconteça, é preciso ampliar a consciência e abrir caminhos para transformações coletivas. É isso que plataformas como o Metrópoles Talks estão proporcionando hoje”.

    Metrópoles Talks

    O Metrópoles Talks é o braço de palestras do maior portal de notícias do Brasil, um espaço no qual mentes brilhantes compartilham ideias, experiências e visões capazes de inspirar e provocar reflexões profundas.

    Desde a criação, o projeto tem reunido personalidades de diferentes áreas, proporcionando encontros que unem conhecimento, trajetória e diálogo com o público.

    No Rio de Janeiro, essa foi a terceira edição, em continuidade a um ciclo que já trouxe ao público encontros potentes e inesquecíveis como a atriz e empresária Déborah Secco e a sexóloga e também empresária Cátia Damasceno.

    O Metrópoles Talks segue no Rio de Janeiro ao longo da semana e volta a ocupar a Casa de Cultura Laura Alvim com mais duas atrações: Hortência Marcari, hoje, e Glória Perez, amanhã, sempre com entrada gratuita na bilheteria.

    Talk com Hortência: Lições de uma Vida

    Quando: terça-feira, 25 de novembro
    Horário: 19h30

    Talk com Glória Perez: Histórias de Novela

    Quando: quarta-feira, 26 de novembro
    Horário: 19h30

    Local: Casa de Cultura Laura Alvim (Av. Vieira Souto, 176, Ipanema).

    Os ingressos são gratuitos e estarão disponíveis na bilheteria na hora do evento.