A saga dos arquivos do criminoso sexual Jeffrey Epstein ganhou um novo capítulo na últimas semana, depois que o Congresso dos Estados Unidos aprovou, por ampla margem bipartidária, o projeto de lei que obriga o Departamento de Justiça (DOJ) a divulgar todos os documentos relacionados ao caso. O texto foi sancionado pelo presidente Donald Trump, que também é citado diversas vezes nos materiais tornados públicos por parlamentares democratas.
A assinatura da lei abriu caminho para a liberação de um vasto volume de registros federais acumulados ao longo de mais de uma década de investigações na Flórida e em Nova York.
A legislação determina que o procurador-geral torne públicos, em até 30 dias, todos os documentos, comunicações, registros bancários, entrevistas e materiais não classificados referentes a Epstein — salvo exceções estritamente legais.
Nova investigação pode travar liberação completa
Apesar da expectativa, uma nova investigação anunciada pelo governo Trump levantou suspeitas de que poderá ser usada como justificativa para bloquear ou redigir trechos sensíveis dos arquivos.
A procuradora-geral, Pam Bondi, disse ter solicitado ao procurador federal Jay Clayton a abertura de uma apuração horas depois de Trump exigir investigações contra democratas e instituições financeiras ligadas ao caso Epstein.
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O que pode acontecer agora
Apesar da lei sancionada, parlamentares duvidam que o Departamento de Justiça cumpra o prazo de 30 dias para divulgar os arquivos restantes. Os cenários considerados incluem:
- Divulgação integral, com poucas edições — tida como improvável.
- Publicação com cortes extensos, sob justificativa de proteger vítimas e testemunhas.
- Alegação de que uma nova investigação aberta impede a liberação completa.
- Possíveis vazamentos internos, caso o Departamento de Justiça tente restringir o material.
- Uso político de eventuais atrasos, tanto por democratas quanto por republicanos críticos a Trump.
O que está nos arquivos já divulgados
Nos últimos dias, o Comitê de Supervisão da Câmara publicou mais de 20 mil páginas de e-mails e documentos do espólio de Epstein, entregues ao Congresso por intimação. O material reacendeu questionamentos sobre figuras públicas — incluindo Trump — e trouxe novas alegações, comentários pessoais, disputas políticas e episódios ainda sem clareza de contexto.
Os e-mails inéditos de Jeffrey Epstein, datados sobretudo de 2017 e 2018, revelam que o financista afirmava ser “o único capaz de derrubar” o atual presidente dos Estados Unidos, embora não explique o que motivou a frase.
As mensagens, liberadas após aprovação quase unânime do Congresso, também trazem críticas diretas ao republicano e menções a figuras políticas brasileiras.
Entre os trechos divulgados, Epstein descreve Trump como “completo maluco” e sugere que ele estava “quase insano” em conversa com Larry Summers.
Em outra passagem, afirma ter “fotos de Donald e garotas de biquíni na minha cozinha”, além de comentar que uma ex-namorada teria sido “passada para Donald” nos anos 1990, sem qualquer comprovação.
A Casa Branca reagiu dizendo que os arquivos “não provam absolutamente nada”.
Menções ao Brasil: Lula, Bolsonaro e Chomsky
Os documentos trazem ainda referências ao Brasil. Em um e-mail de 2018, Epstein relata: “Chomsky me ligou com Lula. Da prisão. Que mundo.”
Ao Metrópoles, a Presidência negou que Lula tenha mantido contato com o financista. Em outra mensagem, Jair Bolsonaro é citado brevemente como “o cara”, sem explicações adicionais.
Arte Metrópoles/Carla Sena
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Jeffrey Epstein morreu em 2019
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Jeffrey Epstein
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Impacto político e sinais de fissura no Partido Republicano
A liberação dos arquivos avançou graças a uma rara demonstração de unidade bipartidária: foram 427 votos a 1 na Câmara e aprovação unânime no Senado. Trump assinou o projeto tardiamente, sob pressão de parlamentares que afirmam que ele tentou adiar a decisão ao máximo. Se vetasse, o Congresso já tinha votos suficientes para derrubar o veto.
Pesquisas evidenciam que o caso já desgastava o presidente antes mesmo da nova leva de documentos: 74% dos adultos americanos desaprovavam sua condução do tema.
A divulgação provocou efeitos imediatos. Larry Summers renunciou ao conselho da OpenAI após novas revelações, e a democrata Stacey Plaskett, das Ilhas Virgens, enfrentou questionamentos sobre mensagens trocadas com Epstein.
No campo republicano, nomes como Marjorie Taylor Greene e Thomas Massie cobram transparência total, enquanto aliados de Trump tentam blindá-lo.
