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    O tomate parando o SUV (por Eduardo Fernandez Silva)

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    São tantos, e tão complexos, os problemas que hoje afligem vilas, cidades, regiões e o planeta, seus mares e terras, que poucos têm propostas concretas para começar a superá-los. Repito: começar, pois soluções completas só após os primeiros passos e corrigirmos os inevitáveis erros. Um caminho necessário não seria o tomate esmagar o SUV – pois mataria quem está dentro – mas sim, o tomate precisa parar o SUV. Estes veículos, aliás, já foram chamados “armas de destruição em massa – ADM”, devido ao elevado consumo de materiais e impacto destrutivo na biosfera.

    A indústria automobilística e sua associada, a de petróleo, jamais permitirão que esse nome ADM, mais adequado, venha a ser usado de maneira generalizada; afinal, revelaria o engodo de gastar milhões em propaganda para vender incontáveis automóveis enormes, cuja real necessidade é eventual, e assim prejudicar ainda mais o trânsito nas cidades e ajudar a destruir as nossas fontes de vida.

    Estudo recente divulgado pelo jornal The Guardian mostrou que o 0,1% mais rico da população dos EUA consome a biosfera a uma taxa 183 vezes mais rápida que a média mundial! Em comparação aos 10% mais pobres, os super ricos emitem carbono 4.000 vezes mais! E boa parte da indústria do marketing promove esse estilo de vida que é, em si, uma arma de destruição em massa.

    Num extremo, o 0,1% mais rico emite 2,2 toneladas/dia de CO2, o peso de um rinoceronte, ou de um SUV; no lado oposto, o cidadão médio somali emite apenas 82 gramas/dia, aproximadamente o peso de um tomate. Daí a importância de o tomate parar o SUV, essencial para que todos possamos ter alguma chance de viver sem as cada vez mais frequentes e destrutivas secas, enchentes e outras consequências do estilo de vida dos milionários, e do marketing que empresta glamour ao que precisa ser condenado, evitado e parado!

    Para o conjunto dos habitantes do planeta, a média é 12kgs/dia de CO2; ou seja, o peso de uma criança de três a quatro anos, infantes cujas chances de sobrevivência nas elevadas temperaturas causadas pelo estilo de vida dos milionários e bilionários são a cada dia menores. Aliás, nos EUA, a expectativa de vida ao nascer tem diminuído há anos!

    A análise sobre o volume de GEE emitido por diferentes grupos populacionais foi apresentada pela Oxfam, conhecida e respeitada organização. Outra informação trazida diz respeito à evolução das emissões de uns e outros: enquanto o grupo do 0,1% mais rico aumentou suas emissões em 32% nos últimos 30 anos, a parcela emitida pelos 50% mais pobres caiu 3%!

    “A crise climática é uma crise da desigualdade”, disse Amidtabh Behar, diretor executivo daquela organização. A frase é correta, mas talvez o fosse ainda mais se assim formulada: “a desigualdade gera a crise climática”. Formulada desta maneira ela evidencia o caminho a trilhar para evitar a crescente mortandade decorrente da continuidade do processo que estamos vivendo! Oxalá na COP em Belém os representantes dos tomates possam parar os SUVs!