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    Os impactos da liquidação do Master nos bancos médios

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    A liquidação do Master provocou uma corrida de investidores em busca de informações sobre como recuperar o dinheiro aplicado em produtos financeiros do banco, como os CDBs. Mais do que isso, aumentou a desconfiança de quem colocou dinheiro em outros bancos médios, que cresceram, assim como o Master, com a oferta de investimentos em renda fixa.

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    Os CDBs do Master conquistaram investidores ao oferecer rendimento de até 140% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Mas o Master não foi o único banco de médio porte a oferecer retornos bem acima dos ofertados pelos bancos tradicionais. Nos chamados bancões os rendimentos dos CDBs não alcançam sequer 100% do CDI.

    Com o movimento desencadeado pela liquidação do Master, a estabilidade dos grandes bancos volta a ser um fator de peso, o que pode ter impacto direto no crescimento de instituições financeiras e na concentração do mercado.

    Em geral, os bancos menores captam recursos por meio de papéis como os CDBs e emprestam para pequenas e médias empresas, que são seus principais clientes. A desconfiança dos investidores pode interromper esse fluxo.

    De acordo com dados do Banco Central (BC), em 2024 o valor arrecadado com CDBs ultrapassaram a marca de R$ 1 trilhão. É uma avalanche de dinheiro que entrou, principalmente, nas contas de bancos pequenos e médios

    Retorno de um fantasma

    A liquidação do Banco Master revive um fantasma que sempre assombrou o brasileiro na hora de investir. E não sem motivo. Ao longo de décadas, o cenário foi mesmo de filme de terror, com reviravoltas abruptas e sustos de deixar o cabelo em pé — e os bolsos vazios.

    Dos confiscos com respaldo do governo às pirâmides financeiras com propaganda no horário nobre, é difícil encontrar alguém que nunca perdeu investimentos — ou mesmo o dinheiro que seria usado para quitar contas básicas.

    E o trauma é coletivo. A poupança até hoje é o investimento preferido do brasileiro, especialmente pela segurança, apesar do rendimento baixo, de acordo com números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

    Tem muita gente que nem mesmo na poupança confia. De acordo com o mesmo levantamento, em 2024, 32 milhões de pessoas ficaram de fora do mercado financeiro mesmo com reserva disponível. Nesse período, 33% da população economizou dinheiro (aproximadamente 53 milhões de pessoas). Mas apenas 39% delas aplicou os recursos em produtos financeiros.

    A resistência ao universo dos investimentos se manteve em meio a uma mudança radical da relação do brasileiro com o sistema financeiro. Na última década, transações financeiras que antes só podiam ser feitas após horas de espera em uma agência bancária passaram a ser realizadas no celular. Pagamentos, transferências e investimentos.

    Surgiram plataformas especializadas em investimentos que iluminaram infinitas siglas que antes eram de conhecimento de poucos: LCA, LCI, CDB…

    O medo foi diminuindo. De novo, de acordo com levantamento da Anbima, o número de investidores aumentou. Em 2021, era 31% da população brasileira. Em 2024, 37%.

    O maior número de investidores — e, consequentemente, de dinheiro no sistema financeiro — teve impactos. Financiou o agronegócio, o mercado de construção e… permitiu o crescimento de bancos médios, como Master.

    Afinal, os CDBs são, de forma simplificada, um aporte de dinheiro para o sistema financeiro. O investidor “emprestou” dinheiro para o Master confiando que receberia o valor de volta, acrescido com o “rendimento” do período.

    É um universo que cresceu junto. Bancos médios e investidores. Juntos, também, terão que enfrentar os impactos da liquidação do Master. Não só o impacto prático, mas, principalmente, o moral.

    As consequências do medo são difíceis de prever. Ainda mais quando falamos de uma desconfiança tão enraizada e presente na vida dos brasileiros.