Sérgio Luiz de Freitas Filho (foto em destaque, à esquerda), conhecido como Mijão ou Xixi, e apontado como membro da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), serviu de apoio emocional ao empresário Maurício Silveira Zambaldi (à direita), vulgo Dragão, preso sob acusação de planejar a morte do promotor de Justiça Amauri Silveira Filho, enquanto ele estava sendo pressionado pela facção criminosa.
Após se tornar alvo de uma investigação movida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e causar um desfalque milionário ao PCC, Dragão foi ameaçado por Eduardo Magrini, o Diabo Loiro, membro da facção, de ser colocado no “prazo”.
“O que significa, nos termos do Primeiro Comando da Capital, que se ele não cumprir o que é dele exigido no período de tempo fornecido pela organização criminosa, ele responderá nos termos da facção, podendo ser, inclusive, assassinado”, diz trecho de representação enviada pelo Ministério Público paulista (MPSP) à Justiça.
Apoio emocional de líder do PCC a investigado
Sofrendo forte pressão da facção criminosa, Dragão recorreu a Mijão, seu amigo de juventude, pedindo por ajuda, como mostram mensagens interceptadas pelo Gaeco e acessadas pela reportagem.
“Eu te imploro. Só você pode me ajudar. Vão me colocar nas ideias com outros amigos”, disse Dragão em mensagens de texto enviadas em agosto deste ano ao membro da cúpula do PCC, que está foragido há ao menos 10 anos e, atualmente, se esconde na Bolívia, segundo o MPSP.
Em outra mensagem, Dragão diz a Mijão que o faccionado “foi o único que sempre lhe estendeu a mão” e reforçou que ele é “a única pessoa que pode ajudar”.
“Eu implorei para o amigo não colocar na ligação com muita gente. Chegou a ligar para tomar as medidas e eu não atendi. Aí, ele deu o prazo até segunda pra mim. Só te peço, por favor, me tira desse problema, amigo”, suplicou o empresário a Mijão. Em seguida, ele disse ao faccionado que receberia dinheiro em poucos meses, e o pagaria em breve.
Vanessa, esposa de Dragão, também pediu a Mijão para que ajudasse o marido, que estava sob a mira de intimidações do PCC após causar desfalque à facção
Gaeco/MPSP
Dragão implorou por ajuda a Mijão, membro da cúpula do PCC foragido há ao menos 10 anos e escondido na Bolívia
Gaeco/MPSP
Mijão e Dragão são amigos desde a juventude, quando moravam no mesmo bairro em Campinas (SP)
Reprodução
Nas conversas interceptadas pelo Gaeco, não há respostas de Mijão a Dragão. Os investigadores incluíram na representação à Justiça, no entanto, uma mensagem enviada por Vanessa Janizelo Zambaldi, esposa do empresário, ao membro da cúpula do PCC. O texto mostra uma forte relação de apoio emocional entre os criminosos.
“Sou grata a tudo o que você já fez por minha família. Sou grata em nome das minhas filhas e do Maurício, principalmente. No dia 23 que você ouviu e ajudou muito, nós hora fizemos até promessa com Deus. E somos gratas pela sua vida e por você estar ajudando minha família nessa intensidade, você é um pai”, escreveu Vanessa. Mijão respondeu somente “ok”.
Vanessa é investigada por atuar nos esquemas de lavagem de dinheiro capitaneados pelo marido. O MPSP não pediu a prisão preventiva da mulher, mas requereu medidas cautelares, que ainda devem ser analisadas pela Justiça.
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Parceria criminosa
A apuração do Gaeco mostra que Dragão e Mijão, foragido há ao menos uma década, eram amigos desde a juventude, quando moravam no bairro Jardim São Fernando, em Campinas, no interior de São Paulo.
Com o tempo, a relação de amizade se tornou uma parceria de negócios. Mijão, já sendo um nome forte no PCC, passou a se beneficiar dos esquemas de lavagem de dinheiro capitaneados por Dragão.
A própria facção utilizou as engrenagens criadas pelo empresário, o que gerou prejuízos significativos ao grupo criminoso e, assim, dores de cabeça e ameaças para Dragão.
Os problemas entre Dragão e o PCC surgiram quando o empresário se tornou alvo de uma investigação do Gaeco, e também foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Linha Vermelha, deflagrada em fevereiro deste ano.
Devendo para o PCC e sendo alvo de investigação, Dragão ficou desmoralizado no crime. Para recuperar o prestígio, ele planejou matar o promotor Amauri Silveira Filho, do Gaeco de Campinas, e um comandante da polícia.
O plano não deu certo, pois foi descoberto com antecedência pelas autoridades. Dragão acabou preso em 29 de agosto, junto com o também empresário José Ricardo Ramos. Os dois atuavam nos setores de comércio de veículos e transporte.
