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    Poderosa, irmã de Milei usa tarô para definir passos do governo

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    O presidente da Argentina, Javier Milei, tem ajuda dos astros para orientar passos estratégicos do seu governo. A prática foi introduzida por sua irmã, Karina Milei, secretária-geral da Presidência e figura central do governo, descrita pela imprensa argentina como esotérica e cercada de mistérios, que envolvem as cartas, astrologia e consultas espirituais.

    Karina cuida do irmão desde a infância. O pai era muito agressivo com Milei, o que ajudaria a explicar sua dificuldade de estabelecer relações pessoais. Na Argentina, costuma-se dizer que ele se relaciona melhor com seus cães do que com pessoas.

    O chamado “triângulo de ferro” do governo é formado pelo presidente, por Karina e por Santiago Caputo, assessor especial do Executivo. Caputo também exerce grande influência, mas por outro caminho: sabe manipular Milei explorando o medo do fracasso.

    Como em toda disputa por protagonismo, Karina e Caputo não convivem bem. Na recente eleição para o Congresso, porém, ela se saiu melhor. Insistiu na candidatura de nomes desconhecidos, contrariando Caputo — e eles foram eleitos. Embora Milei não tenha conquistado maioria legislativa, ampliou significativamente sua base parlamentar graças à aposta da irmã.

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    A escolha de figuras de fora da política revela uma crise de representação, que leva o eleitor a buscar outsiders — como ocorreu com o próprio Milei em 2023, quando foi eleito para um mandato de quatro anos. Assim como no Brasil, a reeleição é permitida uma única vez de forma consecutiva.

    Nesta terça-feira (4/11), Milei promoveu mudanças na administração. Enquanto se esperava que buscasse um governo mais amplo, o rearranjo revelou o oposto: ele fechou ainda mais o círculo do poder. A alteração mais simbólica nesse sentido foi a saída de Guillermo Francos da chefia da Casa Civil.

    Reconhecido por seu perfil conciliador, Francos foi enfraquecido por Caputo, que teria sugerido a Milei que seu chefe de gabinete era pró-China. “A não relação com a China determina o apoio de Trump”, resumiu Carlos Pagni, um dos mais influentes analistas políticos da Argentina, em seminário promovido pela Fundação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

    Saiu um articulador e entrou Manuel Adorni, conhecido pelo confronto direto com quem quer que seja e por ter a imprensa como adversária. Milei também ataca a imprensa reiteradamente. “As pessoas não odeiam o suficiente os jornalistas”, já declarou o presidente.

    Segundo Pagni, o principal desafio do governo é promover a estabilização econômica sem provocar recessão, o que tornaria o presidente impopular. Até agora, Milei conseguiu o que seus antecessores tentaram sem êxito: controlar a inflação — ainda um grave problema para o país. Se for bem-sucedido, analisa, o político populista e antissistema poderá ter implementado “o melhor programa social possível”.

    A relação com o Brasil é tensa, mas, como ressalta Pagni, trata-se de “dois países condenados a se entender” por questões econômicas. Milei aproveitou o “clima” entre Donald Trump e Lula para se aproximar do petista. “A integração do mercado de gás natural pode ser uma revolução para a Argentina”, afirma o analista.