Oito dias após supostamente admitir que seria um “disciplina” do Primeiro Comando da Capital (PCC), o homem apontado como responsável por recrutar o grupo que executou o ex-delegado geral Ruy Ferraz Fontes em Praia Grande, no litoral paulista, negou a informação, em um segundo interrogatório, realizado em 11 de novembro.
Na ocasião, Marcos Augusto Rodrigues Cardoso, conhecido como “Fiel”, “Pan” ou “Penélope Charmosa”, disse que não possui qualquer vínculo com a organização criminosa. Ele afirmou que, na verdade, seria conhecido como “Fiel de Deus”.
Segundo o relatório de investigação, a confissão de envolvimento com a maior facção do país teria ocorrido em 3 novembro, quando Marcos Augusto foi preso. A transcrição desse interrogatório está em segredo de Justiça em um outro processo, que autorizou o pedido de prisão.
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Na denúncia apresentada nessa sexta-feira (21/11), o Ministério Público de São Paulo (MPSP) disse que Fiel seria disciplina na região do Grajaú, na periferia da zona sul da capital paulista. Isso, de acordo com os promotores, “lhe confere considerável ascendência na organização criminosa”.
Além de Marcos Augusto, sete pessoas foram denunciadas. O MPSP, no entanto, não apontou quem seriam os mandantes, se limitando a dizer que, “ao que tudo indica”, o crime seria uma vingança do PCC pela atuação de Ruy Ferraz Fontes na Polícia Civil de São Paulo.
Veja quem são os denunciados:
- Felipe Avelino da Silva (Mascherano) – Responsável por furtar o Jeep Renegade usado na ação, esconder o veículo e instalar placas falsas. Impressões digitais dele foram encontradas no carro.
- Flávio Henrique Ferreira de Souza – Ligado ao Jeep Renegade furtado junto com Felipe. Digitais dele também foram achadas no veículo. Está foragido.
- Luiz Antonio Rodrigues de Miranda – Participou do planejamento, usou imóveis de apoio e ajudou a ocultar armas após o crime. Foragido.
- Dahesly Oliveira Pires – Transportou e ocultou fuzil, carregadores e munições no dia seguinte ao crime, para proteger os executores.
- Willian Silva Marques – Cedeu sua casa em Praia Grande como esconderijo e depósito de armas. Testemunhas relataram que ele sabia do uso ilícito do imóvel.
- Paulo Henrique Caetano de Sales – Integrante do grupo, participou da logística e esteve em imóveis usados como base. Preso.
- Cristiano Alves da Silva – Atuou na execução e na logística. Possui antecedentes por roubo e receptação. Preso.
Marcos Augusto Rodrigues Cardoso – Apontado como recrutador e organizador do grupo. Suposto integrante do PCC em posição de “disciplina” no Grajaú, com ascendência sobre os demais. Conversas interceptadas mostram que ele escalou executores e planejava fuga para o exterior.
“Jogar bola”
Durante as investigações, a polícia interceptou conversas em que Pan e o suposto atirador, Umberto Alberto Gomes, falam sobre o crime.
“Com certeza, meu amigo. Obrigado pela confiança que vc teve hem mim quando me colocou para jogar bola do seu lado [sic]”, disse Gomes, em data não especificada.
“Eu não tinha dúvida alguma da sua capacidade, quando eu vi você naquele vídeo que você mostrou, eu falei ‘tem que ser esse’ [sic]”, respondeu Cardoso. “Se cuida, estamos juntos. Obrigado você também por confiar em mim”, complementou.
Conversa mostra diálogo entre indiciados por morte de Ruy Ferraz
Reprodução
Conversa mostra diálogo entre indiciados por morte de Ruy Ferraz
Reprodução
Conversa mostra diálogo entre indiciados por morte de Ruy Ferraz
Reprodução
Em outro momento, os suspeitos conversam sobre a necessidade de acabar com vestígios do crime e que, depois, a única coisa a ser feita seria “se entocar” e esperar a conclusão das investigações.
“Meu amigo nois temos que dar um jeito de pedir para alguém tocar fogo no branco. Já berro mesmo. Lá tem nossas digi [digitais] [sic]”, afirmou Gomes.
“No papo irmão, nós temos que deixar tudo no jeito. Se vier dar algum problema para nós, a nossa travessia lá para o outro lado. Só uma ideia de precaução mesmo, entendeu, irmão. Não é pessimismo, mas há essa possibilidade”, respondeu Cardoso.
“Agora não tem jeito. É só se entocar e esperar o desfecho da apuração dos caras”, complementou.
O atirador Umberto Alberto Gomes foi morto pela polícia do Paraná durante o cumprimento de um mandado de prisão contra ele em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
