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    Resgate da anistia a Bolsonaro recoloca Tarcísio entre radicais e STF

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    O início do cumprimento da pena de 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez crescer a pressão sobre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para que ele volte a atuar na linha de frente das articulações do projeto de anistia aos condenados pela trama golpista.

    Nessa terça-feira (25/11), horas após o Supremo Tribunal Federal (STF) encerrar a fase de recursos e declarar o trânsito em julgado do processo de Bolsonaro, Tarcísio afirmou que pretende trabalhar pela aprovação do texto.

    “Eu sempre defendi a anistia. O que eu puder fazer para que a anistia seja aprovada, eu vou fazer”, disse o governador a jornalistas, após evento no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

    Tarcísio prometeu fazer o “que puder” para a aprovação do texto e que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que deve liderar as articulações pela anistia após a prisão do pai, pode contar com sua ajuda. A demonstração de apoio se soma à promessa já feita por Tarcísio de indultar Bolsonaro caso seja presidente da República.

    “Vou trabalhar para que a anistia seja pautada e para que ela possa ser aprovada. Não estou preocupado com desgaste”, afirmou.

    Perguntado se recebeu algum recado de Bolsonaro para que atue na articulação no Congresso Nacional, Tarcísio negou, mas afirmou que os aliados do ex-presidente estão preocupados com o tema.

    Histórico com STF

    Com isso, o governador volta a mergulhar no tema que gerou seu maior desgaste até agora com o STF, com quem cultivou boa relação ao longo do mandato, mas se viu obrigado a comprar briga em meio ao julgamento do padrinho político.

    Em setembro, Tarcísio assumiu a linha de frente da articulação pela anistia. A ofensiva acabou resultando na aprovação do regime de urgência para o projeto na Câmara por ampla margem.

    Logo após a articulação em Brasília, o mandatário paulista “dobrou a aposta” no embate com o STF ao fazer ataques ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro, em discurso no ato bolsonarista de 7 de setembro, na avenida Paulista. Na ocasião, o governador defendeu de forma enfática a anistia e disse que “ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes”.

    Na sequência, após receber críticas de opositores, o governador recuou e deixou as articulações a cargo dos deputados bolsonaristas, mas sempre se mantendo a par das conversas.

    Nos bastidores, aliados afirmam que Tarcísio chegou a conversar com Moraes sobre o ocorrido, pedindo desculpas e creditando o ataque ao calor do momento.

    No sábado, após a prisão de Bolsonaro, Tarcísio foi às redes sociais em defesa do ex-presidente e fez criticas à decisão de Moraes. O governador, no entanto, evitou fazer ataques diretos ao ministro e à Corte.

    “Jair Bolsonaro tem enfrentado todos os ataques e todas as injustiças com a firmeza e a coragem de poucos. Tirar um homem de 70 anos da sua casa, desconsiderando seu grave estado de saúde e ignorando todos os apelos provenientes das mais diversas fontes, todos os laudos médicos e evidências, além de irresponsável, atenta contra o princípio da dignidade humana. Bolsonaro é inocente e o tempo mostrará. Seguimos firmes ao seu lado e lutaremos para que essa injustiça seja reparada o quanto antes”, afirmou.

    Antes da prisão em regime fechado, Tarcísio tinha um encontro com Bolsonaro marcado para o dia 10 de dezembro na prisão domiciliar. O governador, no entanto, tinha intenção de tentar antecipar a visita.

    Com a ida do ex-presidente para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, Moraes suspendeu todas as visitas previstas, com exceção de familiares e médicos.

    Nesta terça, Tarcisio afirmou que pretende visitar Bolsonaro na cadeia para prestar solidariedade.

    Pressão por anisita

    • Nesta terça, o senador Flávio Bolsonaro assumiu as conversas com o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do PL da “Dosimetria” na Câmara, como passou a ser chamado o projeto original da anistia após ajustes articulados pelo Centrão.
    • Com isso, o texto deixou de prever anistia ampla e irrestrita aos envolvidos na trama golpista e passou pregar uma diminuição de penas aos envolvidos, incluindo Bolsonaro.
    • Agora, após a prisão do ex-presidente, o objetivo dos aliados de Bolsonaro é buscar um acordo com Paulinho para que o texto seja votado o quanto antes, de modo que agrade aos bolsonaristas e aos partidos do Centrão.
    • Bolsonaristas teriam afirmado ao relator que a ideia é que o ex-presidente fique menos de seis meses preso.
    • Além de Paulinho, Flávio também esteve nesta terça visitando Jair Bolsonaro na Superintendência da Polícia Federal. Na segunda-feira (24/11), o PL avisou que só aceita votar a anistia aos envolvidos na trama golpista.