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    Saiba por que os produtos de beleza no Brasil estão ficando tão caros

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    No último ano, o mercado brasileiro de beleza — um dos maiores do mundo — viveu uma escalada de preços que não passou despercebida nem pelos apaixonados por skincare, nem pelos profissionais da área. Séruns que antes custavam R$ 70 hoje ultrapassam R$ 120; máscaras capilares de R$ 30 já duplicaram o valor; itens de maquiagem antes “básicos” tornaram-se pequenos investimentos. Mas o que está por trás desse movimento crescente?

    O segmento de cosméticos se mantém forte apesar de aumento nos valores

    Um aumento que vai além do luxo

    Embora o interesse por marcas premium e dermocosméticos siga em alta, o fenômeno não se restringe ao segmento sofisticado, e atravessa todo o setor.

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    “A cadeia produtiva da beleza ficou mais cara. Matérias-primas importadas, ativos de alta performance, embalagens especiais e até energia e logística sofreram aumentos”, explica Joielle Mendonça, farmacêutica especialista em estética e desenvolvimento de dermocosméticos.

    A profissional destaca que muitos ingredientes utilizados no Brasil vêm da Ásia e da Europa, regiões que ainda lidam com instabilidades na cadeia global de suprimentos.

    “Quando o frete encarece ou quando há escassez de um ativo, o preço final sobe. E isso acontece em cascata: atinge o fabricante, o distribuidor, o salão, o consultório e, por fim, o consumidor.”

    Outro fator é o avanço tecnológico dos produtos.

    “Quanto mais funcional e seguro um cosmético precisa ser, mais complexa é sua formulação. Isso aumenta o custo de pesquisa, testes, registro e produção”, completa.

    E mesmo assim… Seguimos comprando

    Apesar da alta generalizada, o consumo de beleza cresceu no Brasil. O país é o quarto maior mercado do mundo, segundo a Euromonitor, e se mantém resiliente mesmo diante da inflação.

    6 imagensFatores que Contribuem para o Encarecimento: Alta Carga TributáriaFatores que Contribuem para o Encarecimento: Inflação GeralFatores que Contribuem para o Encarecimento: Oscilações CambiaisFatores que Contribuem para o Encarecimento: Demanda AquecidaFatores que Contribuem para o Encarecimento: Tendências de MercadoFechar modal.1 de 6

    Fatores que Contribuem para o Encarecimento: Custos Logísticos Elevados

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    Fatores que Contribuem para o Encarecimento: Alta Carga Tributária

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    Fatores que Contribuem para o Encarecimento: Inflação Geral

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    Fatores que Contribuem para o Encarecimento: Oscilações Cambiais

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    Fatores que Contribuem para o Encarecimento: Demanda Aquecida

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    Fatores que Contribuem para o Encarecimento: Tendências de Mercado

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    Para Arides César, especialista no setor financeiro e consultor, isso tem explicação:

    “A beleza é vista como investimento em autoestima. Mesmo quando o bolso aperta, o brasileiro corta jantar fora, mas não corta o hidratante ou a escova da semana.”

    Ele observa ainda uma mudança no comportamento do consumidor: mais informação, mais exigência e menos impulsividade.

    “As pessoas pesquisam mais, comparam composição, analisam custo-benefício. O consumidor médio hoje entende o que é niacinamida, ácido salicílico e FPS híbrido. Isso muda a forma de consumir.”

    Esse movimento reforça um fenômeno já conhecido no setor: o “efeito batom”. Em tempos turbulentos, gastamos menos com grandes luxos, mas mantemos pequenos rituais que trazem prazer imediato.

    O “efeito batom” é uma teoria econômica e psicológica que descreve um aumento no consumo de bens de luxo acessíveis e de baixo custo, como maquiagem e cosméticos, durante crises econômicas

    Status, identidade e o “luxo possível”

    Enquanto produtos premium ficam cada vez mais caros — e desejados —, surge no Brasil uma nova tendência: o “luxo silencioso” da beleza.

    “O consumidor não quer apenas um frasco bonito. Ele quer resultados, ciência e experiência sensorial”, diz Joielle. “Hoje, status não é só mostrar a marca, mas mostrar a pele saudável, o cabelo tratado e o glow natural.”

    Essa lógica explica por que dermocosméticos, procedimentos minimamente invasivos e produtos com ativos potentes ganharam espaço. São luxos que cabem no orçamento de uma forma mais acessível que uma bolsa de grife, mas que entregam distinção simbólica.

    A pressão sobre pequenas marcas e profissionais

    Na outra ponta, pequenas marcas e profissionais autônomos enfrentam desafios inéditos.

    “Para salões e clínicas, tudo encareceu: luvas, descartáveis, equipamentos, aluguel, taxas…”, afirma Arides. “Quem não tem gestão financeira estruturada acaba repassando demais ao cliente — ou ficando no prejuízo.”

    Marcas independentes também sofrem: sem grande volume de compra e sem capacidade de estocar matérias-primas, os reajustes chegam mais rápido e com mais força.

    Ainda assim, o mercado não desacelera. Pelo contrário: cresce apoiado por inovação, pelo TikTok, atendimento personalizado e um consumidor mais engajado.

    Beleza cara, mas e irresistível

    Mesmo diante de preços que sobem, o fascínio pela beleza permanece intacto no Brasil. Pelo autocuidado, pelo status ou pelo conforto emocional, seguimos comprando, testando e buscando novas formas de brilhar.

    No fim das contas, o desejo é sempre o mesmo: se sentir bem. E esse luxo — silencioso ou não — continua irresistível para a maioria dos consumidores.

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