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Só 12% de investimentos prometidos a Lula em viagens se concretizaram

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Só 12% de investimentos prometidos a Lula em viagens se concretizaram

Ao ser questionado sobre os custos de viagens internacionais, o governo Lula (PT) costuma responder que esses deslocamentos trazem investimentos ao Brasil. Mas um levantamento da coluna mostra que a maioria desses aportes ainda está longe de se concretizar.

Ao longo de três anos de viagens internacionais, Lula recebeu e divulgou promessas de R$ 345,6 bilhões em novos investimentos no país. No entanto, o total efetivamente já investido ou contratado desses investimentos é de apenas R$ 42 bilhões, ou 12,5%.

Ao mesmo tempo, os gastos com viagens internacionais do governo como um todo mais que dobraram nos dois primeiros anos de Lula, em comparação com os últimos dois anos de Jair Bolsonaro (PL).

O próprio Lula já frisou diversas vezes os investimentos obtidos por meio de suas viagens.

“De vez em quando as pessoas perguntam quanto a gente está gastando para fazer essa viagem. Eu não sei quanto estou gastando, porque eu não cuido disso. Mas eu sei quanto eu estou levando de volta para o Brasil”, disse ele em junho deste ano, em Paris.

“Se a gente somar os investimentos que conseguimos na China, no Japão, vamos perceber que estamos fazendo o que todo e qualquer presidente da República deveria fazer”, afirmou na ocasião.

Neste fim de semana, Lula esteve em Joanesburgo, na África do Sul, para a reunião da Cúpula do G20. Nesta segunda (24/11), está na capital de Moçambique, Maputo, para uma visita de Estado.

Parte desses investimentos anunciados por Lula em suas viagens está atrelada a contratos de concessão de infraestrutura, com prazo de até 30 anos de execução. Em outros casos, foram anunciados investimentos que já estavam contratados anteriormente.

Em um caso, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) atribuiu às viagens de Lula a atração de investimentos equivalentes a 75% de todo o investimento estrangeiro no Brasil no período — o que é altamente implausível.

Em nota oficial publicada em setembro de 2023, a Secom afirmou que as viagens internacionais de Lula no primeiro semestre daquele ano “resultaram diretamente em 111,5 bilhões de reais em novos investimentos para o país nos seis primeiros meses do ano”.

No entanto, de acordo com o Banco Central, todo o Investimento Direto no País (IDP) no primeiro semestre de 2023 foi de US$ 29,4 bilhões, o equivalente a R$ 149,9 bilhões. Ou seja, Lula e suas viagens teriam de ter sido “diretamente” responsáveis por 75% de todo o investimento estrangeiro no país no período.

Em governos anteriores do próprio Lula e de seus antecessores na Presidência, não faltam exemplos de investimentos anunciados em viagens que nunca saíram do papel.

Em outubro de 2019, por exemplo, Jair Bolsonaro (PL) e o então ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, anunciaram que a Arábia Saudita tinha decidido investir R$ 10 bilhões no Brasil. Anos depois, em 2023, um relatório da equipe de transição no Itamaraty constatou que o dinheiro dos sheiks nunca veio.

“No caso dessa aproximação, o investimento político (duas missões presidenciais) não se traduziu na atração de investimentos alardeada pelo governo Bolsonaro. Com a Arábia Saudita, os investimentos não se concretizaram”, diz um trecho.

O que se concretizou: Fundo Amazônia e empréstimo do Japão

Entre os exemplos bem-sucedidos de atração de investimentos nas viagens internacionais de Lula III estão os aportes ao Fundo Amazônia e um empréstimo de R$ 1 bilhão do Japão para a indústria farmacêutica.

Em abril de 2023, o então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que o país buscaria US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia nos cinco anos seguintes. Deste total, Biden conseguiu a aprovação do Congresso americano de US$ 100 milhões (ou R$ 538 milhões), que já foram efetivamente repassados.

Em junho do mesmo ano, o então primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, anunciou 80 milhões de libras para o Fundo Amazônia. A doação foi formalizada no fim de 2023, na COP28, em Dubai, no valor de R$ 500 milhões.

Na cúpula do G7, em junho de 2023, o Japão anunciou um empréstimo de R$ 1 bilhão para o setor de saúde brasileiro. O montante foi formalizado entre o BNDES e a Agência de Cooperação Internacional do Japão em junho de 2025, com um total de R$ 1,1 bilhão.

Um exemplo do que não é bem assim: R$ 100 bilhões da França

Em junho deste ano, numa viagem presidencial à França, o presidente da Apex, senador Jorge Viana (PT), anunciou um investimento de R$ 100 bilhões de várias empresas francesas. O número foi compilado por Jean-Pierre Clamadieu, presidente do conselho da Engie, e apresentado numa reunião entre os empresários e o presidente Lula. Mais tarde, o próprio presidente repetiu a cifra.

Na página da Apex há o detalhamento de alguns desses investimentos. São mencionados aportes previstos por cinco empresas: a própria Engie; o grupo CMA CGM, de transporte marítimo; a TotalEnergies; o grupo Lactalis; e a Vinci Highways.

Só que esses aportes somam R$ 40,2 bilhões — e não R$ 100 bilhões. Em dois casos, os valores já haviam sido anunciados antes. A Lactalis divulgou o investimento de R$ 291 milhões na planta de Uberlândia (MG) em março deste ano, e a CMA CGM já havia adquirido parte de uma empresa brasileira em setembro de 2024, por R$ 13,5 bilhões. Em outros casos, os valores ainda não foram desembolsados.

À coluna, a Engie Brasil disse que, em 2025, já havia investido “mais de R$ 5,2 bilhões em ativos de geração e transmissão de energia, sendo R$ 1,2 bilhão exclusivamente em projetos eólicos e solares” — ou seja, correspondente aos valores anunciados.

Ainda segundo a empresa, “a previsão é aportar outros R$ 6 bilhões até o final de 2027”. “Estes são investimentos já aprovados em concessões assinadas anteriormente”, informou.

Gastos com viagens internacionais cresceram 107% sob Lula

De janeiro de 2023 até hoje, os gastos do governo Lula com viagens internacionais somam R$ 837,8 milhões, segundo dados do Painel de Viagens do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI). Esse número inclui as viagens de todos os servidores públicos, não apenas as da Presidência da República.

Nos dois primeiros anos de gestão Lula (2023 e 2024), o gasto com viagens internacionais mais que dobrou em relação aos últimos dois anos sob Jair Bolsonaro. O montante passou de R$ 299,8 milhões para pouco mais de R$ 622 milhões (alta de 107,4%). A comparação é imperfeita, por conta das restrições de viagens da pandemia de Covid-19.

Ao fim da viagem a Moçambique, Lula somará 43 viagens internacionais. O presidente esteve em 52 cidades diferentes de 41 países e viajou durante pelo menos 150 dias. Os países mais visitados por Lula foram os Estados Unidos e a Colômbia, com quatro viagens cada; e Argentina e Uruguai, com três visitas.

Em sua terceira passagem pelo Palácio do Planalto, Lula também ficou conhecido por levar comitivas numerosas nas viagens internacionais. Em março deste ano, por exemplo, levou mais de 220 pessoas em sua viagem ao Japão e ao Vietnã. A viagem custou pelo menos R$ 4,5 milhões.

Secom: investimentos anunciados por Lula se materializam ao longo de anos

Procurada, a Secom disse que as viagens presidenciais servem para “abrir portas, criar ambiente de confiança e cooperação e firmar compromissos de curto, médio e longo prazos, que se materializam progressivamente ao longo de anos, e não em semanas ou meses”.

A Secom também afirmou que o Brasil permanece como um dos países que mais atraem investimentos estrangeiros. “A posição do Brasil passou do 4º lugar ao fim de 2022 para o 2º lugar já em 2023 e permanece nessa posição, apenas atrás dos EUA.”

Eis a nota da Secom, na íntegra:

“Os anúncios de investimento estrangeiro direto feitos durante viagens presidenciais não devem ser confundidos com fluxos imediatos de capital registrados nas estatísticas do Banco Central. Cada viagem presidencial tem como objetivo abrir portas, criar ambiente de confiança e cooperação e firmar compromissos de curto, médio e longo prazos, que se materializam progressivamente ao longo de anos, e não em semanas ou meses.

Em diplomacia econômica, os valores de investimento costumam ser escalonados e obedecem a cronogramas determinados pelas empresas investidoras. O valor anunciado representa a soma dos planos de investimento expressos por empresas ou governos, muitas vezes formalizados em memorandos de entendimento, protocolos de intenção, joint ventures ou fundos de cooperação. Essas iniciativas passam por etapas de estruturação financeira, licenciamento, aprovação regulatória e execução física, antes de aparecerem nas estatísticas oficiais de fluxo e estoque do Banco Central.

Por essa razão, não se considera adequada a comparação direta entre o total de valores anunciados e o volume de investimento estrangeiro direto registrado em um semestre específico ou ano específico, já que se trata de instrumentos e horizontes distintos. O primeiro representa o valor total a ser investido em determinado projeto e o segundo, o fluxo financeiro efetivado.

Entre os anúncios listados pelo repórter, há, por exemplo, a administração de uma rodovia por 30 anos. É evidente que a execução deste investimento, cuja concessão data de 2024, distribui-se ao longo de décadas e não ocorre de forma instantânea.

Por fim, cabe destacar que o total de Investimento Estrangeiros Direto no mundo vem se reduzindo desde 2021 e apesar dessa redução global, o Brasil segue entre as cinco economias que mais receberam investimentos estrangeiros direto. A posição do Brasil passou do 4º lugar ao fim de 2022, para 2º lugar já em 2023 e permanece nessa posição, apenas atrás dos EUA, até o primeiro semestre de 2025, de acordo com os dados divulgados pela OCDE em seu relatório “FDI in Figures” de outubro de 2025.

O Brasil terminou 2024 com um estoque de US$ 1,141 trilhão em investimento estrangeiro direto no país, o que representa quase metade (46,6%) do PIB. Essa marca é um recorde na série histórica do Banco Central”. 

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