A cidade de São Paulo teve, entre janeiro e setembro, 2.127 pedidos à prefeitura de ajustes no tempo dos semáforos. Desde o segundo semestre de 2023, a cidade tem passado por mudança nos equipamentos.
Entre os bairros que tiveram mais pedidos de ajuste estão justamente aqueles que passaram a contar, em sua maioria, com os “semáforos inteligentes”, que determinaram a abertura e o fechamento a partir da contagem de veículos. Vila Mariana, Sé, Lapa e Pinheiros são as subprefeituras com mais solicitações.
A reportagem encontrou nas próprias planilhas de dados abertos do 156 2.127 pedidos de janeiro a setembro. Trata-se de um aumento de 14% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram 1.862, nessas mesmas planilhas. Já a Prefeitura de São Paulo afirma que o número apurado pela Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia (SMIT) até outubro é de 2.369, ante 2.206 de até o mesmo mês de 2024 (um aumento de 7%, portanto).
Reclamações
O engenheiro civil Reinaldo Talpiai, 70 anos, reclama do pouco tempo para fazer as travessias na Vila Mariana. “Estão dando mais preferência para os carros. Para atravessar, as pessoas sofrem um pouquinho, principalmente as de idade, que não têm tanta mobilidade”, diz. “E os motoristas não têm muita paciência”, afirma.
O engenheiro critica também o tempo de espera para se atravessar a rua. “Tem alguns faróis na Vila Mariana, como Santa Cruz e 11 de Junho que são muito demorados. Algumas pessoas dizem ‘não abre para o nosso lado’. A preferência é pelos carros”, afirma.
Sempre nas proximidades da Estação Vila Mariana, Antonio Carlos de Souza, 60 anos, também critica os semáforos. “Demora muito para abrir e, quando abre, é muito rápido para fechar. Tem que levar em conta que há muitos senhores e senhoras. Se fossem só os jovens, de faculdade, seria bom. Mas as senhoras vêm de bengala, andam devagar”, afirma.
Ciclos, demora e miojo
A arquiteta e urbanista Rafaella Basile é coordenadora de Mobilidade e Ruas Seguras da Iniciativa Bloomberg pela Segurança Viária Global. Ela afirma que o respeito aos semáforos é maior quando os ciclos são curtos.
“A gente está falando de ciclos de 60, 90, no máximo, 120 segundos. Quanto mais curtos os ciclos, maior a chance de um pedestre, de um motorista, respeitar. Por quê? Porque esse pedestre sabe que em breve vai ser o momento de atravessar, se ele chegar ali no cruzamento e o semáforo tiver vermelho para ele. E a mesma coisa o motorista”, diz.
Segundo Rafaella, os “semáforos inteligentes” são baseados em fluxo veicular e, muitas vezes, isso acaba se tornando um problema. “Esses parâmetros de ‘semáforos inteligentes’ não levam em conta o tempo de espera dos pedestres. Eles levam em conta o fluxo veicular e os parâmetros para pedestres ficam em segundo plano”, afirma.
Para a especialista, é necessário ter em mente, mesmo com “semáforos inteligentes”, a segurança de quem caminha pela cidade, levando em conta o máximo de 90 segundos, como ocorre em Buenos Aires, na Argentina.
Leia também
-
SP tem média de 18 atropelamentos por dia. Veja principais locais
-
SP vê explodir pedidos de ajuste em semáforos em meio à modernização
-
Com concessão, Nunes tira do ar site que mostra semáforos apagados
“O que a gente tem visto em muitas cidades brasileiras é que a adoção desses (sistemas de ‘semáforos inteligentes’ abriu portas para tempos de ciclo mais longos”, afirma.
Rafaella diz que, em tom de brincadeira, ativistas já chegaram a apelidar semáforos de “farol miojo”, porque demorava três minutos para abrir. “É um tema que muitas vezes é tido como pouco importante, mas a gente também tem visto os impactos disso, que aqui na cidade de São Paulo, por exemplo, esse aumento do desrespeito aos semáforos, ele tem crescido”, afirma.
O que diz a Prefeitura de São Paulo
A Companhia de Engenharia de Tráfego diz que a temporização dos semáforos de pedestres na cidade de São Paulo atende aos padrões estabelecidos pelo Contran/Denatran, de abrangência nacional. Além do tempo do verde, o pedestre que já iniciou a travessia tem o vermelho piscante para concluí-la.
“A CET aumenta em até 20% a duração do tempo em que o semáforo fica no vermelho piscante para maior conforto do pedestre. Há semáforos em que a ativação do estágio para travessia de pedestres se dá em função do acionamento das botoeiras. Se a botoeira não for acionada, o estágio do pedestre não acontece, dando a falsa impressão de um tempo de espera maior”, diz.
Segundo a CET, o projeto de Modernização Semafórica da cidade de São Paulo prevê não apenas a implantação do sistema de modo adaptativo, mas um conjunto de ações integradas contemplando a atualização dos controladores semafóricos, a implantação de uma rede de transmissão de dados desses controladores com as centrais de controle semafórico geridas pela CET bem como a troca de colunas, grupos focais e cabos, além do enterramento de toda a fiação correspondente ao conjunto semafórico.
O parque semafórico paulistano tem aproximadamente 6.200 cruzamentos semaforizados. A modernização abrangerá 2.586 dentro da área do Minianel Viário. “As principais melhorias para os usuários, principalmente os pedestres, estão associadas à redução dos tempos de espera para travessia, uma vez que o sistema ajusta automaticamente, em função do fluxo veicular do momento, as temporizações mais adequadas em cada ciclo da programação”, afirma, em nota.
“Vale informar que este aumento não significa uma piora nos serviços, mas sim um maior conhecimento da plataforma pelos paulistanos e percepção de resolução das demandas, visto que, em 2025, 95% das solicitações para semáforos inteligentes já foram resolvidas”, diz.
