A noite de sábado (8/11) foi um convite à escuta e à emoção no Festival Estilo Brasil. Às 21h45, sob aplausos calorosos, Tim Bernardes surgiu no palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães e abriu um espetáculo que mesclou sensibilidade e carisma. Com voz serena e violão em punho, ele transformou o espaço em um refúgio, um lugar onde o tempo parecia suspenso.
“Finalmente! Não toco aqui desde 2019. É bonito de ver daqui que vocês multiplicaram. Tô muito feliz de tocar aqui em Brasília”, disse, ainda nos primeiros minutos, antes de mergulhar em “Nascer, Viver, Morrer”.
O público, silencioso e atento, acompanhava como quem observa algo precioso. A canção deu início a uma sequência que incluiu “Fases” e “BB (Garupa de Moto Amarela)”, em arranjos limpos e emocionais, sustentados apenas por sua presença e o peso do silêncio.
Entre as músicas, Tim transformava pausas em pequenas conversas. Em um dos momentos mais espontâneos da noite, brincou com o público ao improvisar sobre a Asa Norte, comparando-a à Santa Cecília, bairro paulistano citado na letra de BB. “Qual é o bairro aqui de Brasília que parece com Santa Cecília? Na Asa Norte? Então vamos explorar a Asa Norte!”, riu, arrancando risadas e aplausos.

Logo depois, o show tomou um tom mais introspectivo com “Mesmo Se Você Não Vê”, apresentada como uma das faixas mais espirituais do disco. Antes de tocar, ele compartilhou uma lembrança que inspirou a letra: “Uma criança perguntou ao pai, depois de ver o mar pela primeira vez: ‘Pai, à noite o mar continua lá?’… Essa pergunta me atravessou. A canção nasceu daí.”
O setlist seguiu em tom crescente: “Falta”, o solo de piano que se funde a “Talvez”, e um trecho em que Tim relembrou o início da carreira solo, mencionando Recomeçar (2017) como o ponto de partida de uma nova fase criativa. Em seguida, surpreendeu ao tocar pela primeira vez ao vivo as faixas “Prudência” e “Praga”, compostas para Maria Bethânia e Erasmo Carlos. “Eu nunca tinha feito as minhas versões, e hoje vou cantar essas aqui pra vocês.”
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Com seu humor sutil, Tim também conversou com o público sobre o Enem, arrancando gargalhadas: “Vocês estão falando o nome de músicas comigo? Amanhã tem prova do Enem, né? Boa sorte! Chega cedo, pelo amor de Deus!”. Logo depois, apresentou “Velha Amiga”, uma das mais aplaudidas da noite, e contou uma história curiosa sobre sua guitarra: “Essa guitarra eu comprei do Rodrigo Amarante, lá no tempo do Little Joy. Desde então, tá comigo, desde 66”, brincou, em referência à canção “66”, d’O Terno.
O show alternava momentos de lirismo e descontração. “Só Nós Dois” veio em versão delicada, seguida de uma homenagem a Jards Macalé com “Soluços”, interpretada com reverência. Logo depois, Tim compartilhou lembranças de sua história com Brasília e do início da trajetória com O Terno.
“Onde é a noitada depois daqui, galera? (risos). Sabe que a primeira vez que viajei pra tocar na vida foi pra Brasília, em 2012, quando o Terno lançou o primeiro disco. Já tinha 20 anos. Foi o show no Balaio (Café)! Depois a gente tocou na Criolina, na Caixa Cultural com o Boogarins, no CCBB, na Festa Play… foi muito rock and roll!”, contou, nostálgico e risonho. Na sequência, apresentou “Quis Mudar”, em arranjo.
Ao piano, o cantor interpretou “Olha” com delicadeza quase silenciosa, seguida de “Não Espero Mais” e “Melhor do que Parece”, faixas da fase com O Terno que ganharam nova vida em formato solo. Entre uma música e outra, comentou rindo: “Violeiro passa metade do tempo afinando e a outra metade tocando desafinado.”

Em um dos trechos mais comoventes da noite, Tim homenageou Gal Costa com “Realmente Lindo”, canção que compôs para a artista. A plateia escutou em silêncio, tomada pela emoção. O show então caminhou para o fim com “A Balada de Tim Bernardes”, “Leve”, “A História Mais Velha do Mundo” e “Recomeçar”, encerrando o set principal em tom de serenidade e gratidão.
Chamado de volta para o bis, o artista agradeceu à equipe técnica — “Sem eles, nada disso aconteceria” — e voltou ao palco para as derradeiras “Volta”, sucesso d’O Terno que ganhou nova dimensão na voz solo do cantor, e “Eu Vou”, encerrando a noite em um clima de arrebatamento calmo.
O público permaneceu sentado e extasiado, acompanhando em coro suave. Quando as luzes se apagaram, a sensação era de que o quarto cósmico do artista havia se expandido para caber toda Brasília, e que, por algumas horas, o tempo realmente parou.
Festival Estilo Brasil
Local: Ulysses Centro de Convenções
Ingressos: Bilheteria Digital
