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“Topo correr o risco”, diz CEO suspeito de fraudar venda de HIS

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“Topo correr o risco”, diz CEO suspeito de fraudar venda de HIS

“Eu não vou pagar 30% mais caro em uma unidade só por causa de um nome no contrato da unidade. Esse risco eu topo correr. Por 30% de prêmio, eu topo correr.” É assim, contando a própria estratégia para potencializar seus lucros, que o empresário Gustavo Nery, CEO da imobiliária Midrah, tem convencido investidores a comprarem apartamentos em São Paulo que deveriam ser voltados à população de baixa renda. 

O discurso, repetido em diferentes vídeos do empresário nas redes sociais, foi revelado, nesta terça-feira (4/11), durante a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga fraudes na venda de apartamentos destinados à moradia social na capital paulista.

Gustavo compareceu à CPI na condição de testemunha. Durante a oitiva, o vereador Nabil Bonduki (PT), vice-presidente da CPI, exibiu vídeos em que o empresário admite que tem comprado habitações de interesse social (HIS), vendidas a preços mais baratos no mercado por serem destinadas a pessoas com renda familiar de até seis salários mínimos, para fazer o chamado aluguel de curta duração – AirBnb. A prática é proibida pela Prefeitura de São Paulo. 

Veja:

Em um deles, Gustavo, que atua como corretor, diz que pagou R$ 270 mil em um apartamento HIS, no empreendimento “Living Full Faria Lima”, enquanto apartamentos que não eram destinados à moradia social eram vendidos por R$ 410 mil no mesmo prédio. Atrás dele, está um telão onde o empresário exibe uma lista de apartamentos que afirma serem seus.

“Quer dizer que comprar R2V [apartamento padrão] é ruim? Na minha estratégia é. A não ser que seja no mesmo preço do HIS, que seja competitivo. Eu não vou pagar 30% mais caro em uma unidade só por causa de um nome no contrato da unidade. Esse risco eu topo correr. Por 30% de prêmio, eu topo correr”, diz ele.

Em outros vídeos exibidos na CPI, o empresário aparece explicando que as unidades do tipo HIS e HMP (Habitação de Mercado Popular – para quem tem renda familiar de até 10 salários mínimos) são vendidas com “trava” de renda por serem destinadas à população de baixa renda. Mesmo assim, o corretor cita estratégias adotadas por seus clientes para comprar os imóveis apesar de terem renda superior ao público alvo deste tipo de moradia.

“Tem até investidores nossos, por exemplo, que chegaram a comprar em nome do filho porque ele quer estar enquadrado para pagar mais barato naquela unidade. Pra vocês terem uma ideia do HIS pro R2V, que é uma unidade sem trava de renda, às vezes aumenta 25%, 30% o valor do apartamento no mesmo prédio, então é um grande benefício comprar no HIS”, diz ele em uma das imagens.

Em outro vídeo, o empresário diz que a regra de que investidores só podem alugar para pessoas enquadradas nas faixas de renda permitidas por lei cai quando é feito o aluguel por curta temporada.

“Em teoria eu compro aquela unidade para destinar a pessoas enquadradas, [mas] se liberar curta temporada não tem como enquadrar porque não existe enquadramento em curta temporada”, afirma Gustavo.

Nos comentários de uma das postagens, o empresário diz que é dono de 15 apartamentos HIS em São Paulo.

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O empresário disse aos membros da CPI que sua empresa funciona como uma intermediadora entre a incorporadora e os clientes finais, e que já fez R$ 1 bilhão com a venda de imóveis nos últimos 30 meses, a maior parte deles unidades do tipo HIS e HMP.

“Eu não tenho o número exato de unidades [HIS e HMP] porque, como intermediador, a gente acaba não participando tanto do final da venda. Mas o total de vendas nosso foi superior a duas mil unidades, nesse tempo de dois anos e meio. Dessas, acredito que mil, 1.200 unidades provavelmente estavam em HIS e HMP”, afirmou Gustavo, que alegou ter uma equipe com entre 40 e 45 corretores.

Antes dos vídeos serem exibidos, o empresário afirmou que todos os corretores avisavam aos clientes sobre as regras das unidades HIS e HMP previstas em legislação. Depois da exibição das cenas, Gustavo se manteve em silêncio e não respondeu a nenhuma das perguntas dos vereadores, gerando indignação dos parlamentares.

“Eu vou responder pelo senhor. O senhor está cometendo uma fraude, uma ilegalidade. O senhor está burlando a legislação do município de São Paulo para conseguir lucro para a sua empresa. O senhor não só vai ter que ser investigado pela CPI, mas também pelo Ministério Público e pela Justiça”, afirmou a vereadora Silvia Ferraro (PSol).

O presidente da CPI, vereador Rubinho Nunes (MDB), apresentou requerimento para solicitar a quebra do sigilo fiscal e bancário da empresa Midrah e seus sócios.

A CPI dessa terça-feira (4/11) também ouviu um representante da Caixa Econômica Federal, que falou sobre os financiamentos realizados pelo banco, e o empresário Abrão Muszkat, presidente da incorporadora You,inc.

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