Vivendo Vladmir em Tremembé, a nova série do Prime Video, Daniel de Almeida Santos, ator da periferia de Campinas, no interior de São Paulo, ganhou notoriedade entre os fãs da produção, em especial por uma cena específica: a do casamento entre o personagem e uma mulher chamada Raíssa (nome fictício de uma das detentas da penitenciária).
Em conversa ao Metrópoles, Santos falou sobre os bastidores, os estudos sobre o caso e qual foi a maior dificuldade dele em dar vida a Vladmir.
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Na trama, o ator interpreta o companheiro de Raíssa, presa por ter matado a socos o enteado de 5 anos – filho de Vladmir – e amiga de Suzane von Richthofen. Inspirada em um caso real, a história do casal envolveu perdão, reconciliação e até um novo casamento (saiba mais abaixo).
Para Santos, o mais difícil foi gravar o discurso da renovação de votos. O ator, que também participou do filme Ainda Estou Aqui, contou que para gravar a cena, precisou entender a dualidade do personagem que, na frente de várias pessoas, falou do crime que aconteceu, do amor que tem pela mulher e do perdão por ela ter matado o filho dele.
“É um lugar bem complexo e delicado. Foi emocionante fazer [a cena]. A entrega foi total e a emoção foi muito grande dentro de mim para fazer isso. Tanto que o impacto está na cena em si. A maior dificuldade foi deixar o mais humano e crível possível respeitando a história deles”, explicou.
Daniel conhecia brevemente a história de Vladmir e Raíssa, interpretada na série por Débora Fernanda. Quando recebeu o convite para participar das gravações, ele mergulhou nos livros de Ulysses Campbell, roteirista da produção, e passou a pesquisar mais sobre o crime.
Divulgação/ material cedido ao Metrópoles
Reprodução/ Prime Video
Arquivo pessoal
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“Eu penso que o trabalho do ator é muito parecido com o trabalho do psicólogo: se você pega um personagem tão pesado como esse, você não pode ir imbuído de preconceito, senão você não consegue achar a humanidade […] Eu comecei a cavucar quais são as humanidades dessas pessoas, pensando nas minhas próprias humanidades e nas minhas próprias loucuras – que todo mundo tem”, revelou.
Para entender melhor a dinâmica do casal, Daniel fez questão de lembrar que aquelas pessoas que estão sendo retratadas na série têm família, pai, mãe, filho, amores e decepções. Ele usou isso para criar uma versão própria de Vladmir sem tentar “copiar” o homem real.
Polêmica das redes sociais
Uma das cenas mais comentadas nas redes sociais é justamente a cena do casamento de Vladmir e Raíssa (veja abaixo). Daniel levantou a hipótese que a história impacta porque os casos mais midiáticos são, em maioria, de classe mais rica. A história do casal, no entanto, é mais palpável para a população brasileira.
“As pessoas estão comentando as atrocidades dessa cena, que acharam horrível, uma das piores, que jamais perdoariam tudo isso ou comentam: ‘Ah, bota a culpa no diabo mesmo’ […] As pessoas pensam: ‘Nossa, pode ser meu vizinho cometendo isso’. Então, acho que é isso que impacta demais e é chocante para as pessoas”, ponderou.
Veja a cena do casamento:
Caso que inspirou Vladmir e Raíssa em Tremembé
Tudo indica que Raíssa é o nome fictício usado na série para representar Vanessa dos Santos Martins, condenada a mais de 22 anos de prisão por ter espancado o enteado até a morte, em 2007. O caso aconteceu em Penápolis, no interior de São Paulo.
No dia do crime, Vanderlei Garcia Alves – que seria Vladmir –, havia saído para visitar o pai, deixando o filho sob os cuidados da parceira. Incomodada com o choro do enteado, ela começou a agredi-lo. Depois, Vanessa teria tentado socorrer a criança, levando o menino ao hospital, mas a criança não resistiu aos ferimentos.
Presa em Tremembé, Vanessa teria se aproximado da religião protestante e ajudado a fundar uma igreja dentro da penitenciária, se tornando uma espécie de pastora. Anos depois, foi perdoada por Vanderlei – que também se tornou pastor – e se casou novamente com ele.
Quem é Daniel de Almeida
Nascido em Coruripe (AL), Daniel mudou-se aos 4 anos para Peruíbe, no litoral paulista, com o pai, trabalhador da construção civil, a mãe, costureira, e mais cinco irmãos. A família acreditava que não teria muito futuro na cidade litorânea e, quando surgiu a oportunidade, migrou para Campinas, em 1993. Na época, ele tinha 12 anos.
Hoje, o ator ainda vive no interior de São Paulo e também atua como educador social. Dá aulas de teatro, percussão e cinema em projetos voltados às periferias da cidade.
Ao chegar ao Jardim Icaraí, na periferia campineira, Daniel lembra que precisou adiar o sonho de ser ator para garantir a sobrevivência. Começou a trabalhar em um restaurante no bairro Cambuí, primeiro entregando comandas e, depois, como ajudante de cozinha.
Em Ainda Estou Aqui, Daniel interpretou Marlon, o segurança do fórum que abre a porta para Eunice Paiva, vivida por Fernanda Torres, quando ela vai receber o atestado de óbito de Rubens Paiva. O ator também participou de produções como Pico da Neblina, de Fernando Meirelles, Sintonia, da Netflix, e diversos curtas independentes.
Com o tempo, o artista foi convidado a dar aulas nas mesmas periferias que o viram crescer — um papel que ele considera tão importante quanto o de ator.
“Eu estou vivendo um ano maravilhoso. Nem parece que ganhamos o Oscar recentemente, e essa série (Tremembé) está me levando para um lugar novo também”, contou Daniel ao Metrópoles.
