A novela Três Graças tem mostrado para o paulistano, na ficção, a vida que ele conhece bem no dia a dia. Seja pelos lugares ou pelas estórias representadas por atrizes e atores, muita gente tem se identificado com aquilo que é mostrado nas telas. Quem vive na cidade e gosta dos dramas do horário nobre, sente orgulho de ver a capital paulista servindo de cenário mais uma vez.
A Brasilândia virou a fictícia “Chacrinha” e moradores do bairro pobre da zona norte têm demonstrado empatia por personagens.
A protagonista Gerluce (Sophie Charlotte) teve a filha Joelly (Alana Cabral) aos 16 anos. O roteiro se repete logo no início da novela, com a garota, agora aos 15 anos, também ficando grávida na adolescência, como ocorreu com a mãe.
A situação não é incomum na Brasilândia e a assistente de coordenação pedagógica Vanessa Micaele de Oliveira, 35 anos, conhece bem o que é retratado na ficção.
“No meu caso, eu fui mãe muito nova, aos 16 anos, da primeira filha. Então tem uma semelhança. Parei minha vida para cuidar da Vitória e, depois, quando ela tinha 11 anos, fui retomar meus estudos”, diz. “Está representando o que muitas meninas aqui da comunidade vivem”, afirma, agora com mais um filhinho, ainda bebê, no colo.
Moradores da Comunidade do Iraque, na Brasilândia, tiveram a oportunidade há alguns meses de ver os artistas de perto. Parte das gravações aconteceu na Rua Ipiroldes Martins Borges, que recebeu as estrelas da Globo.
A operadora de caixa Daiane Silva, de 32 anos, diz que todos foram muito simpáticos e tiraram fotos com os moradores. “Eu não tirei foto com a Grazi [Massafera], porque no dia estava de folga”, afirma.
Segundo Daiane, a novela tem refletido a realidade do local. “É maravilhoso demais, muito bom. Assistir e ver a minha Brasilândia, o Iraque, que o povo fala muito mal”, diz. “Tem o bem e tem o mal.”
Na novela, o traficante que manda na Chacrinha é interpretado por Xamã, que faz o papel do vilão Bagdá, numa referência direta à Comunidade do Iraque.
O mestre de obras Valter Batista da Rocha, 65 anos, é um dos fundadores da região e diz que gosta de onde vive. “Quarenta anos só nesse lugarzinho aqui. Mudou bastante”, afirma.
Rocha é otimista ao analisar a situação do local e afirma que hoje qualquer pessoa pode entrar e sair de casa a hora que quiser, diferentemente do que acontecia no passado, quando a violência, segundo ele, era maior.
Outra coisa que faz o mestre de obras se orgulhar do seu bairro são as mudanças na paisagem. “No passado, era tudo terra, lama, muita sujeira e mato. A gente beneficiou aqui”, diz.
Rocha lembra também do tempo em que para comprar coisas básicas do dia a dia tinha que ir até a vizinha Vila Terezinha. “Hoje tem tudo na mão, açougue, padaria”, diz.
Corta! Aclimação!
O bairro da Aclimação, entre a região central e o começo da zona sul paulistana, sempre teve no parque que leva o seu nome a atração principal. Nos últimos meses, entretanto, atrizes e atores têm dado uma agitada no local.
Embora a mansão de Arminda, “a Dona Cobra”, foi criada no Rio de Janeiro, parte das gravações externas têm acontecido nas ruas do bairro de São Paulo. Em especial, nas proximidades da Rua Safira com a Avenida Aclimação.
Uma das cenas envolvendo carro de polícia e abordagem chamou a atenção da aposentada Ana Isabel Marton, de 65 anos, que ama ver o bairro representado na novela. “O pessoal achou que era algum problema, mas era a novela. Minha sobrinha até me ligou dizendo ‘nossa, acho que está acontecendo alguma coisa aí na Aclimação’. Depois, a gente descobriu que era a novela”, afirma.
A garçonete Tammy Souza, de 29 anos, viu em frente ao restaurante onde trabalha as gravações de Três Graças. “É muito interessante ver várias pessoas envolvidas para gravar uma cena de 30 segundos. Várias vezes, até ficar boa. O diretor vendo o que precisa ou não melhorar. Foi muito bacana”, diz.
Tammy também tirou fotos com os artistas e gostou da receptividade por parte deles. “Rômulo é uma pessoa simpática, a Sophie também. Foi algo diferente, novo e gostoso de ver, eu confesso”, afirma.
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A diarista Luciana Santos Basílio, de 53 anos, mora em Itaquaquecetuba, mas trabalha nas regiões da Aclimação, Paulista e Morumbi. Já viu cenas serem gravadas nas proximidades da luxuosa Rua Oscar Freire, gosta da novela e também se identifica com o que vê. “É bem típico dos paulistanos. A correria do dia a dia, acordar cedo, chegar correndo no trabalho, quase em cima da hora. É o dia a dia das mulheres que trabalham em São Paulo. Principalmente, as mães”, diz.
Trólebus em frente ao Theatro Municipal
William Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins Borges
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Comunidade do Iraque, na Brasilândia
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Brasilândia, em São Paulo
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Terminal Bandeira
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Rua Ipiroldes Martins Borges
William Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins Borges
William Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins Borges
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Motorista de ônibus na Avenida Paulista
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Comunidade do Iraque, na Brasilândia
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Ônibus elétrico a bateria, em São Paulo
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Rua Ipiroldes Martins Borges
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Brasilândia, em São Paulo
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Avenida Aclimação
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Imagem mostra Avenida Aclimação, em São Paulo
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Terminal Bandeira, em São Paulo
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Ônibus em São Paulo
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Terminal Bandeira, em São Paulo
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Passarela no Terminal Bandeira, em São Paulo
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Theatro Municipal, em São Paulo
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Interior de ônibus em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
A aposentada Neusa de Souza Cruz, de 82 anos, tomou na última semana um ônibus da Linha 805L-10, usada pela protagonista Gerluce. Ela acha o enredo interessante. “Pelo menos, lembraram da comunidade. É muito importante, porque envolve o tráfico, a gestação na adolescência, o viciado em drogas, o traficante. Achei muito real”, afirma.
São Paulo nas novelas
Não é a primeira vez que São Paulo se vê representada em ficção no horário nobre da TV. Outras tantas produções já mostraram a capital paulista de inúmeras maneiras.
Uma das mais emblemáticas foi, possivelmente, a novela “O Outro”, de 1987, quando a própria abertura trazia os paulistanos circulando de maneira por ruas e avenida da cidade, com “Flores em Você”, da banda Ira!, como trilha sonora.
Também fez sucesso mostrando a capital paulista a novela “A Próxima Vítima”, de 1995, com cenas na abertura que retratavam o Parque Ibirapuera, o Monumento às Bandeiras, o Masp e a Avenida Paulista, por exemplo. Outra voz bem paulistana cantava o tema: Rita Lee, com “Vítima”.
