Não vou me deixar levar pelo caso de Carla Zambelli: deputados foram malcriados; Alexandre de Moraes lhes puxou a orelha. Ponto final.
O que importa é a história do contrato da advogada Viviane Barci de Moraes, com o Banco Master, de Daniel Vorcaro. O contrato que previa o pagamento total de espantosos R$ 129 milhões de reais ao escritório da mulher do ministro.
Há três dias perguntei qual era a causa que justificaria tamanho preço. Ontem, a jornalista Malu Gaspar publicou o que o contrato previa: “a organização e a coordenação de cinco núcleos de atuação conjunta e complementar — estratégica, consultiva e contenciosa — perante o Judiciário, o Ministério Público, a Polícia Judiciária, órgãos do Executivo (Banco Central, Receita Federal, PGPN, Cade e Legislativo (acompanhamento de projetos de interesses do contratante)”.
À exceção da atuação contenciosa, as outras duas previstas no contrato — atuações estratégica e consultiva — parecem estranhas a um escritório de advocacia tradicional. Definição de estratégias junto a poderes da República e acompanhamento de projetos na área política são atividades geralmente associadas a lobby.
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Contrato da mulher de Moraes com Banco Master era de R$ 129 milhões
É um contrato bastante curioso, para não dizer extravagante, e chama muito a atenção que o escritório da mulher de Alexandre de Moraes tenha sido contratado para atuar também perante o Ministério Público e a Polícia Judiciária. Ou seja, a Procuradoria-Geral da República, no caso do MPU, e a Polícia Federal.
O órgão e a corporação trabalham em estreita ligação com o STJ e o STF, o tribunal no qual o ministro dá expediente, e são na PGR e na PF que ocorrem investigações que resultam em operações contra peixes grandes.
Como o contrato fala em atuação estratégica e consultiva, é forçoso perguntar o que Daniel Vorcaro, peixe grande, esperava do escritório de Viviane Barci de Moraes em relação aos dois braços investigativos do Estado brasileiro.
Ele esperava, por exemplo, saber com antecedência o que ia pela PGR e pela PF para precaver-se? Mas como um escritório de advocacia poderia ter esse tipo de informação sem recorrer a uma fonte privilegiada?
Será que Daniel Vorcaro nutria a ilusão de que, ao lançar mão dos serviços da mulher de Alexandre de Moraes, ele estaria escudado contra a ação de procuradores e policiais federais? Ele teve a ilusão perdida quando foi preso no aeroporto internacional de São Paulo ao tentar viajar para Dubai?
De qualquer forma, a suposta ilusão do dono do Banco Master era proporcional aos R$ 129 milhões que ele se propôs a pagar a Viviane Barci de Moraes. Ela era tão extraordinária, a suposta ilusão, que vamos lembrar que Daniel Vorcaro dava prioridade ao pagamento pontual dos R$ 3,6 milhões mensais previstos no contrato.
Os meus colegas jornalistas que me perdoem, mas há 129 milhões de motivos para deixar Carla Zambelli pra lá.
PS: Gostaria de acrescentar ao meu espanto o fato de o ministro Alexandre de Moraes não sentir a menor obrigação de dar explicação sobre o contrato magnífico firmado pelo Banco Master com o escritório da sua mulher. É padrão entre os ministros do STF, mas não deixa de causar estupor.
